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26 junho 2009

LEI, ESTADO E DESEJO


Quando se trata de aplicar a Lei a psicanálise não pode se excluir do cenário político. Por isso trago um pouco do seria essa questão no ponto de vista de Miriam Chnaiderman num texto de mesmo nome. “A herança teórica e política deixada por Lacan vem se prestando a usos que questionam a idéia, levantada por ele, de que a psicanálise é fundamentalmente ética.”

“Num encontro da Causa Freudiana, em Buenos Aires, Jacques Alain Miller, genro de Lacan, pede que a polícia invada uma livraria onde eram vendidas edições "piratas" dos seminários de Lacan. Segundo sua própria justificativa, quer ser fiel a um desejo de Lacan que lhe encarregou de cuidar da edição de todos seus textos. Na França, vários processos estão correndo devido à utilização de textos de Lacan ainda não publicados oficialmente.”

“Qual esperança faz com que Eduardo Mascarenhas e o saudoso Helio Pellegrino, após terem sido expulsos da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro devido às denúncias que fizeram no caso Amílcar Lobo (analista que colaborou na tortura nos anos da repressão), lutassem – até conseguirem – pela sua reintegração na instituição que denunciavam? “ Continue lendo no link acima.

Estes aspectos levantados têm por finalidade demonstrar o quanto uma denúncia tem importância dentro da psicanálise enquanto instituição. E como é necessária uma ação em conjunto para o estabelecimento da Lei, do Estado e do desejo. O cidadão carioca também pertence a uma instituição que é a cidade onde ele é um munícipe e elege pelo voto o seu dirigente.

A denúncia que se faz necessária refere-se ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) que esta sendo usado como um cruel e desumano instrumento do efeito confisco do patrimônio dos contribuintes, violando dispositivo expresso em nossa Constituição. O livro "IPTU Imposto para trambiques urbanos?" é de autoria do Professor Jorge Brenand que se diz um “jovem” com mais de oitenta anos de idade, nordestino de nascimento e carioca por adoção do modo de vida.

Repasso o texto “Os trambiques do IPTU na cidade maravilhosa” de João S. Magalhães, publicado no seu blog e que é aqui replicado, atendendo a sua própria solicitação.

Os trambiques do IPTU na Cidade Maravilhosa

Posted by João S. Magalhães

23 de junho de 2009

No Brasil, o dinheiro público já vem com o toque de Midas. Quem o manipula, geralmente vira milionário em pouco tempo.

Nesse sentido, os escândalos se sucedem. Abrem-se CPIs suspeitas, a imprensa (quando lhe interessa) divulga, mas, como já está comprovado, tudo termina em pizza.

Agora, vem à tona mais uma denúncia de peso: no Rio de Janeiro, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) é usado como cruel instrumento do efeito-confisco do patrimônio dos contribuintes, violando dispositivo expresso em nossa Carta Magna.

Afirmação leviana? Acredito que não. Acabei de ler o livreto IPTU – Imposto Para Trambiques Urbanos? assinado pelo renomado jornalista e professor de Economia Jorge Brennand, sob a coordenação do Movimento Rio Cidade Legal (MRCL) e patrocinado pela nossa dinâmica Maçonaria.

Por meio de simples relações aritméticas, que qualquer mortal pode efetuar, Brennand demonstra que há mais de 1 milhão de ações executivas fiscais indevidas contra cidadãos comuns, o que gera um problema social assustador.

Brennand aponta ainda a existência de uma suposta classe de privilegiados que pouco ou nada pagavam do tributo, a exemplo de funcionários públicos e políticos locais.

“O IPTU no Rio corrói a sociedade e aniquila a cidadania”, dizem os coordenadores do Movimento Rio Cidade Legal, na apresentação do trabalho de Brennand.

Está marcada para a próxima terça-feira (30/06/2009) – o horário não foi confirmado ainda – o lançamento oficial do livro de Brennand.

O local não poderia ser mais apropriado: na Avenida Rio Branco, em frente à Câmara Municipal. A propósito, cada um dos vereadores receberá um exemplar para – talvez, contudo, todavia ou jamais – tomar providências sobre a matéria em questão.

Por enquanto, a publicação não tem preço de capa. Qem estiver interessado em adquiri-la, pode enviar uma mensagem para o e-mail do professor Brennand.

Em tempo: peço aos amigos da blogosfera que repiquem esse post em seus blogs. Será mais uma forma de pressão contra os desmandos das administrações públicas tupiniquins.

16 novembro 2008

SOBRE O ENTUSIASMO

Minoridade para Kant e Foucault

Através da maneira pela qual Kant coloca a questão da Aufklärung – esta, lembremo-nos, é a saída do homem do estado de minoridade, ou de dependência infantil, da qual o próprio homem é responsável, e tem por divisa Aude sapere, “tenha a coragem de pensar por si mesmo” -, ele descobre o esboço de uma “atitude” totalmente nova. Por “atitude”, entende um certo “modo de relação com a atualidade” (Foucault, 1994f, p. 568), que não é o do espectador, mas o de um sujeito ator do presente do qual ele faz parte [início da pág. 5] (Foucault, 1994g, p. 680). Segundo Foucault, Kant é o primeiro filósofo que problematiza sua atualidade, para definir nela o modo de ação do seu discurso. A atitude crítica é portanto indissociável de uma “ontologia do presente” (Foucault, 1994g, p. 687): o que, no presente, tem sentido para aquele que fala dele? O que o constitui, não como momento fugaz, mas como acontecimento que deve ser pensado?
Este acontecimento, segundo Kant, não é somente o da Aufklärung, mas igualmente o da Revolução. Foucault vê em O conflito das faculdades, escrito por Kant em 1798, a continuação do artigo de 1784. Nele Kant coloca a seguinte questão: “Há um progresso constante para o gênero humano?”

E eu pergunto:

O sucesso é a capacidade de enfrentar as falhas sem perder o entusiasmo?


Continue lendo no link acima.

30 outubro 2008

CRIANDO MONSTROS


Eu não costumo publicar aqui qualquer coisa que recebo por e-mail, principalmente quando não tem um autor declarado.
No presente caso, não ter um autor é adequado. Cada um de nós pode se apropriar e ser o autor. Não digo autor do texto, mas autor do que ele apresenta. Fica, portanto, aqui um convite para que cada leitor possa tornar-se autor de um NÃO.
Por Rogério Silva


O que pode criar um monstro? O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens por… NADA?

Será que é índole? Talvez, a mídia? A influência da televisão? A situação social da violência? Traumas? Raiva contida? Deficiência social ou mental?

Permissividade da sociedade? O que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas inocentes?

O rapaz deu a resposta: 'ela não quis falar comigo'. A garota disse Não, não quero mais falar com você. E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não.

Seu desejo era mais importante.

Não quero ser comparado como um desses psicólogos que infestam os programas vespertinos de TV, que explicam tudo de maneira simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros. Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único.


Em tempo:

Quando editei esse post não conhecia o autor, pois me foi enviado como tendo uma autoria anônima. Todos nós sabemos que, mesmo sem assinatura, um texto sempre tem autoria. Contudo a importância e relevância me levaram à publicação com a observação acima.

Agradeço a colaboração de Adriana, indicando que a autora do texto é Karina Cabral.

Para continuar lendo clique no link acima.

20 maio 2008

HENRY MOORE, FRANCIS BACON E LUCIAN FREUD

O Museu Oscar Niemeyer está apresentando uma seleção de obras gráficas de Henry Moore (1898-1986), Francis Bacon (1909-1992) e Lucian Freud (1922), que vai até agosto deste ano.


A exposição conta com a curadoria do venezuelano Félix Suazo e foi especialmente produzida para o MON. Reúne 47 trabalhos, elaborados entre os anos 70 e 90, que integram a coleção de mais de mil gravuras do Museu de Arte Contemporânea de Caracas.

Os três artistas de fundamental importância no século passado se identificam ao abordar a idéia do corpo e sua representação, abrangendo desde a mais estrita meticulosidade anatômica, no caso de Freud, até a simplificação estrutural de Moore, passando pela distorção expressiva de Bacon.

Quando se trata de corpo, eu sempre sinto a falta de dois outros artistas. Fernando Botero que é um pintor colombiano (1932), cujas obras destacam-se, sobretudo por figuras rotundas, o que pode sugerir a estaticidade da humanidade e Rom Mueck (1958) que é um escultor australiano hiperrealista que trabalha na Grã-Bretanha. Este escultor utiliza efeitos especiais cinematográficos para exemplificar o corpo humano. Esses dois artistas não fazem parte dessa mostra.

O que se pode encontrar em Moore, Bacon e Freud, é o discurso figurativo alimenta-se de temas cotidianos ou íntimos. Nos retratos, nus e estudos a imagem corporal manifesta diversos estados da condição humana, debatendo-se entre a dilaceração, a inapetência e a plenitude carnal... O corpo transfigurado em Bacon, a relação entre psique e gênero em Freud e o vínculo expressivo que se estabelece entre estrutura e sensualidade em Moore.

Na mostra, a cor em Bacon, o traço em Freud, o volume em Moore, denotam o modo como estes artistas manipulam as técnicas gráficas: Por um lado, Bacon e Moore utilizam a litografia de forma específica a cada um, inclinando-se respectivamente ao momento da cor ou linha, enquanto Freud se mostra de maneira muito versátil com a água forte e a ponte seca, aos quais vêm agregadas ocasionalmente as técnicas do pastel e da aquarela. Esta mostra procura registrar os paralelismos e as convergências características destes autores, tanto na técnica como na dimensão plástica, sempre enquadradas em dois eixos matriciais: a figura e a gravura. Bacon, Freud e Moore situam-se em um ponto intermediário entre as correntes realistas e as expressionistas, com algumas alusões ao surrealismo. Compartilham com estas correntes no aspecto figurativo, mas se diferenciam de suas posturas críticas e de seu impulso socializante.

Vale à pena conferir. Quem sabe na volta possamos trocar comentários.

Bacon, Freud, Moore, Figuras e Estampas

Período Exibição Público: 12 de abril até 10 de agosto

Patrocínio: Sanepar

Apoios: Ministério da Cultura, Governo do Paraná, Secretaria de Estado da Cultura, Caixa Econômica Federal, Governo da Venezuela, Ministério da Cultura da Venezuela e Fundação de Museus Nacionais da Venezuela.

Museu Oscar Niemeyer

Rua Marechal Hermes, 999

Centro Cívico – CEP: 80530-230

Telefone: (41) 3350-4400

Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h

Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes

(Não pagam crianças de até 12 anos, maiores de 60 anos e grupos agendados de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental)

26 abril 2008

ÉRAMOS TODOS NEGROS

Drauzio Varella

A você que se orgulha da cor da própria pele (seja ela qual for), tenho um conselho: não seja ridículo

ATÉ ONTEM , éramos todos negros. Você dirá: se gorilas e chimpanzés, nossos parentes mais chegados, também o são, e se os primeiros hominídeos nasceram justamente na África negra há 5 milhões de anos, qual a novidade?


A novidade é que não me refiro a antepassados remotos, do tempo das cavernas (em que medíamos um metro de altura), mas a populações européias e asiáticas com aparência física indistinguível da atual.
.

Folha de São Paulo, Ilustrada

Talvez fosse o caso de repetir a pergunta: “E se Lamarck estivesse certo?” como fez Mauro Rabelo .

O que Drauzio Varella traz é que só é possível identificar indivíduos com grandes semelhanças genéticas quando descendem de populações isoladas por barreiras geográficas que impediram a miscigenação. Isso é possível no mundo globalizado?

No ano passado, foi identificado um gene, SLC24A5, provavelmente responsável pelo aparecimento da pele branca européia.

Desse ponto de vista, vale fazer a perguntar, já posta, o quanto a "civilização" está interferindo com a "seleção natural", tendo em vista que características anti-sobrevivência continuam a aparecer (ex, hemofilia)?

Não importa a conclusão que se pode chegar. O importante mesmo é seguir à risca a recomendação do Drauzio: não seja ridículo.

07 março 2008

SEPARAÇÃO NECESSÁRIA



Leneide Duarte-Plon



Quando morre um grande homem, ficam sua vida e sua obra. Do psicanalista Emilio Rodrigué, 85 anos, o argentino mais baiano que já existiu, que adotou Salvador, viveu em Itapoã e depois em Ondina até o fim da vida, fica ainda, o título de sua autobiografia a nos lembrar que as separações são necessárias. E inevitáveis.

Ele deixou sua Argentina natal e se instalou no Brasil, quando parte dos psicanalistas argentinos tiveram de partir, nos anos de chumbo da ditadura militar.


Em 2000, sua biografia de Freud (Sigmund Freud – O século da psicanálise) foi saudada na França com grande entusiasmo por uma crítica ultra exigente e recebeu a melhor acolhida no meio psicanalítico, onde ele tinha verdadeiros amigos e admiradores. Paris o recebia freqüentemente para o lançamento de seus livros ou para visitas de trabalho ou de lazer. Seu Freud logo se tornou um clássico, colocando-se à altura das reconhecidas biografias de Ernest Jones et Peter Gay. Robert Maggiori, do jornal Libération, ressaltou o “rigor e o sopro romanesco” do Freud de Rodrigué. O Le Monde louvou a “magistral biografia de Freud” escrita pelo argentino.

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01 dezembro 2007

O SEGUNDO HOLOCAUSTO

12/12/2005

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, voltou a aparecer em cena. Eu já tinha saudades de Mahmoud: seriais killers são paixões desde a infância. Há uns meses, o nosso Mahmoud declarou que Israel deveria ser riscado do mapa. A comunidade internacional ficou "espantada" e "chocada". Agora, Mahmoud voltou ao ataque: primeiro, para levantar dúvidas sobre a existência do Holocausto; e, depois, para propor a recolocação dos judeus do Oriente Médio na Alemanha e na Áustria.

E a comunidade internacional? Precisamente: continua "espantada" e "chocada". Cuidado, gente: não é saudável tanto "espanto" e tanto "choque". E, além disso, não é necessário. As palavras de Mahmoud Ahmadinejad estão em perfeita sintonia com a retórica anti-semita que, diariamente, o mundo árabe vai produzindo para consumo interno e externo.

Não é preciso visitar um país árabe, como eu já visitei, para perceber o fato. Basta consultar um sítio na internet (MEMRI - The Middle East Media Research Institute) para ler, em inglês, o que os jornais e as televisões árabes dizem em árabe. De acordo com a sensibilidade literária local, os judeus são, normalmente, seres "vingativos", "sujos", "parasitas" e agentes de "corrupção", "contaminação" e "morte". Um exemplo? A 17 de março de 1997, na Comissão para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Nabil Ramlawi acusou as autoridades israelitas de infectarem 300 crianças palestinas com o vírus do HIV durante os anos da primeira intifada. A comunidade internacional, presumo, estava a dormir e a roncar: o "espanto" e o "choque" ainda não tinham começado. Ou, então, achou “normal” acusações de genocídio.

E, de fato, “normal” são: com espantosa regularidade, jornais egípcios ou jordanos acusam as autoridades israelitas de produzirem doces com o objetivo de matar crianças e corromper sexualmente as mulheres. Fertilizantes usados na fruta também acabam por esterilizar os homens árabes, que comem uma laranja ou uma banana na maior das inocências másculas. E, em matéria conspirativa, o 11 de setembro forneceu amplo material. De acordo com a imprensa árabe, no dia em que as Torres foram atacadas, 4000 judeus não foram trabalhar. Gripe súbita? Preguiça matinal? Nada disso. Eles foram antecipadamente avisados pela Mossad, os serviços secretos israelitas, para que não comparecessem nas Torres. O próprio Ariel Sharon, aliás, também foi avisado para não viajar para Nova York no dia 11 de setembro. No dia 11 de setembro, os serviços secretos israelitas iriam telecomandar dois aviões (vazios) para que eles iniciassem o definitivo confronto entre o Ocidente e o mundo árabe. E etc., e etc., e etc.

Pergunta: de onde veio esta loucura? A pergunta está mal formulada. O anti-semitismo árabe não é produto de uma doença mental. É, coisa pior, uma herança, uma pesada herança, uma grotesca herança do nosso próprio anti-semitismo ocidental. Não é possível estabelecer no tempo as origens intelectuais do anti-semitismo moderno. Mas existe um documento --obviamente, forjado-- que teve um papel arras! ador neste processo. Falo, como é evidente, dos "Protocolos dos Sábios do Sião", que as autoridades czaristas fabricaram na Rússia em finais do século 19 para "provar" que os judeus estavam dispostos a conquistar o mundo.

Foi um "best-seller" na época, permitiu incontáveis brutalidades no império russo e rapidamente viajou para o Ocidente --sobretudo para a Alemanha-- onde floresceu com vigor. E não apenas na Alemanha: se as boas ideias viajam com o vento, as más ideias viajam com a luz. Ainda na década de 1930, pelas mãos de Muhammad Amin al-Husseini (o mufti de Jerusalém, uma espécie de governador local), os "Protocolos" foram recebidos com entusiasmo assassino. O mufti de Jerusalém tinha ligações privilegiadas com o Terceiro Reich, sobretudo com Himmler, e fez da eliminação judaica no Oriente Médio um programa político. O ódio, que o Ocidente produziu, criava finalmente o moderno anti-semitismo árabe. Que continua vivo e bem vivo.

Hoje, quando vocês entram numa das livrarias locais, em Teerã ou no Cairo, é possível comprar os "Protocolos", levados a sério como historiografia séria. No Egito, uma novela baseada nos "Protocolos" foi adaptada à tv, com um elenco de 400 atores e orçamento digno de Hollywood: as donas de casa choraram com emoção perante a história pérfida de como os judeus pérfidos sempre desejaram subjugar o mundo. E livros como "Mein Kampf", o libelo ignaro de Hitler que é uma emanação dos "Protocolos" e que justificou as limpezas rácicas posteriores a 1933, é um sucesso de vendas mesmo em países mais ocidentalizados, como a Turquia. Escuso de dizer que vocês não encontram "A Lista de Schindler" nas locadoras árabes. O filme de Spielberg é perigosíssimo para a cultura indígena e, precisamente por isso, banido pelas autoridades oficiais. O Holocausto, o primeiro Holocausto, nunca existiu.

Mas o segundo talvez exista. A expressão não é minha. A ideia de um "segundo Holocausto" foi sugerida por Ron Rosenbaum no "The New York Observer", em abril de 2002. Para Rosenbaum, o anti-semitismo árabe atual ganha contornos muito próximos com a Alemanha nazista na década de 1930 e, cedo ou tarde, acabará por proporcionar novos espectáculos de horror. Só que, escreve Ronsebaum, desta vez haverá uma "vantagem" para os criminosos: ao contrário do que sucedeu na Segunda Guerra Mundial, em que uma poderosa máquina administrativa e bélica teve de "concentrar" os judeus da Europa em campos para o efeito, desta vez os judeus do mundo, ou uma parte significativa deles, já se encontram "concentrados": no Estado de Israel, obviamente --e o termo "concentrar" ganha aqui contornos sinistros.

Sinistros e reais: o Irã não descansará enquanto não tiver uma arma nuclear nas mãos. E, ao contrário do que se pensa, cometer o impensável não é uma questão cinematográfica: o desejo de exterminar Israel tem sido recorrente desde 1948, ano da fundação. Aliás, tem sido recorrente muito antes da formação do Estado judaico.

Karl Marx, plagiando Hegel, escreveu um dia que a história se repete: primeiro, como tragédia; depois, como farsa. Marx estava certo sobre o acessório, errado sobre o essencial. A história se repete, sim: primeiro como tragédia; mas depois, como tragédia ainda maior.

João Pereira Coutinho, 29, é colunista do jornal português "Expresso". Reuniu seus artigos no livro "Vida Independente: 1998-2003". Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online.

(Foto de Ricardo Meirelles)

E-mail: jpcoutinho.br@jpcoutinho.com

13 novembro 2007

GUARDIÕES DO TEMPO

Por Déa Januzzi

A inglesa Judy Robbe, de 66 anos, mora em Belo Horizonte há 40 e trouxe para o Brasil a idéia de um testamento que começa a circular na Europa e nos Estados Unidos. O living will (desejo de viver) expressa como ela quer envelhecer e ser tratada quando não estiver mais lúcida, se isso acontecer no futuro. O documento é assinado por dois médicos e um tutor da família, indicado por ela. Abaixo, o testamento de Judy.

Chegar, hoje, aos 90, 100 anos já é uma realidade. Embora não exista uma receita mágica, os avanços da medicina sinalizam para uma longevidade saudável. O mais importante, porém, é ter um estilo de vida que inclui não fumar, não beber, se alimentar bem e praticar exercícios físicos. Mais ainda: encarar a vida com alegria e bom humor, sem deixar de lado o sexo, que ganha outros tons, já que o desejo nunca envelhece.

Basta lembrar os exemplos da humorista Dercy Gonçalves, de Dona Canô, mãe de Caetano e Maria Betânia, e do arquiteto Oscar Niemeyer, que chegam, em 2007, aos 100 anos, em plenitude. É possível envelhecer bem com lucidez, autonomia, qualidade e em plena forma física e mental. O caderno Bem Viver Especial sobre o envelhecimento mostra como dar uma ajuda à genética com projetos de vida, prevenção e uma rede de amigos para compartilhar experiências e idéias. Nunca é tarde para começar, sonhar, aprender e planejar.

Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, 36 pessoas com mais de 55 anos já desfrutam de um paraíso – a Comunidade Sustentável Harambê é um lugar para envelhecer, segundo os ideais e costumes de toda uma geração. Um país que envelhece a cada dia tem que prestar atenção aos números: são hoje 14,6 milhões de pessoas com mais de 60 anos, que representam 8,6% da população brasileira. Eles não podem continuar invisíveis, sem usufruir de bens e serviços acessíveis, pois ainda é difícil e caro ficar velho no Brasil. Uma residência para idosos, por exemplo, pode custar de R$ 1,5 mil a R$ 2,5 mil por mês, sem contar o plano de saúde e medicamentos.

A família também não está preparada para o envelhecimento de um pai ou mãe, quando mostram os primeiros sinais de dependência. É por isso que datas como o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, em 21 deste mês, e o Dia do Idoso (26), não foram criadas apenas para lembrar de uma parcela da população, mas, principalmente, para alertar sobre o inevitável: cada um envelhece como viveu!

• Declaro que quero envelhecer com saúde física e lucidez mental

• Declaro que quero ser independente, com ajuda mínima para fazer aquilo que não consigo

• Declaro que quero viver ao lado do meu marido, enquanto for possível

• Declaro que quero envelhecer com meus filhos e netos me visitando, porque gostam de estar comigo

• Declaro que quero ficar na minha própria casa em Belo Horizonte enquanto estiver lúcida e autônoma para realizar as tarefas do dia-a-dia

• Declaro que, se perder a independência, irei para uma residência de idosos escolhida por mim

• Declaro que quero viver com recursos mínimos para as minhas necessidades

• Declaro que quero ficar rodeada pelos meus livros, lembranças e animais de estimação

• Declaro que quero ficar com meu computador para que possa comunicar-me com parentes e amigos ao redor do mundo

• Declaro que quero viver sentindo-me útil à sociedade

• Declaro que meus desejos devem ser respeitados se eu não conseguir mais me expressar ou tomar decisões quanto ao meu tratamento

• Declaro que não quero medidas heróicas para prolongar minha morte, quando as chances de vida já não existirem.

Cópia do site Saúde Plena sem fins lucrativos


02 outubro 2007

FILÓSOFO ESLOVENO RESGATA A VOZ DE SUA FUGACIDADE

Mladen Dolar constrói uma teoria sobre a voz, objeto de estudo que escapa à descrição de muitas disciplinas.

Ele tenta mostrar que, ao lado das duas formas comuns de uso da voz a voz como portadora de significado e a voz como objeto de admiração estética existe um terceiro nível: o objeto voz, que não se dilui no ar após a transferência de significado, nem se fossiliza como monumento de adoração fetichista, mas se revela como ponto cego do chamado e como interferência na apreciação estética.

O primeiro nível se atinge quando se ataca, o segundo, quando se vai à ópera. Para se atingir o terceiro nível, é preciso se ater à psicanálise. Exército, ópera, psicanálise?

Continua...


28 agosto 2007

PERSONALIDADES NARCÍSICAS



Por Raquel Morató de Neme

Nas últimas décadas, as personalidades narcísicas e as organizações fronteiriças da personalidade tem chamado a atenção dos psicólogos e também dos sociólogos. Mas no ano de 1922 Freud havia analisado uma paciente narcísica durante alguns meses..

Eco e Narciso (1903) por John William Waterhouse.

Soubemos desta análise pela correspondência entre Freud e Jones publicada por Paskauskas em 1993 e citada por Kris (Kris, A. 1995). Esta paciente esteve em análise entre 1916 e 1921 com Jones, que a conduziu a Freud. Na dita correspondência ambos analistas examinam alguns problemas no tratamento de pacientes narcísistas.

O CASO DE FREUD

Numa carta a Freud de janeiro de 1922, Jones a descreve como uma paciente "com o maior narcisismo imaginável… extraordinariamente inteligente… subestimando suas reações emocionais incontroláveis". Jones comunica que a partir de seu segundo matrimonio (o de Jones), começou a torturá-lo tanto na análise como no trabalho, no qual às vezes se viam. Se bem que seus sintomas haviam melhorado muito: "podia falar numa reunião quando antes ficava muda pela angustia" finalmente o tratamento se interrompeu visto que Jones não resistiu, a pesar de suas intenções, a intensa transferência negativa. Foi por isso que Jones pediu a Freud que a tomasse em tratamento. A paciente se muda para Viena e começa a análise Freud em meados de fevereiro.

Nesta correspondência entre Freud e Jones, Freud descreve que se trata de uma paciente onde o mais importante é seu problema narcísico. "Nossa teoria não conseguiu dominar, todavia o mecanismo destes casos. Parece provável que a formulação de um ideal elevado e severo apareceu Numa idade muito jovem, mas este ideal foi represado, "recalcado" no começo da maturidade sexual e desde então trabalha na obscuridade. Sua [da paciente] liberdade sexual pode ser aparente, a manutenção da qual requer aquelas atitudes conspícuas e compensatórias como a arrogância, o comportamento majestoso, etc."

Leia o texto original aqui...


10 abril 2007

O CÉREBRO, O VERDADEIRO ÓRGÃO SEXUAL DOS SERES HUMANOS

The New York Times

10/04/2007


Nicholas Wade

Quando se trata do desejo, a evolução deixa pouco espaço para o acaso. O comportamento sexual humano não é um desempenho improvisado, concluem os biólogos, mas guiado a todo momento por programas genéticos










Ilustração de John Hersey/The New York Times

O desejo entre os sexos não é uma questão de opção. Os homens heterossexuais, ao que parece, possuem circuitos neurais que os levam a procurar as mulheres; os homens gays os têm programados para procurarem outros homens. Os cérebros das mulheres podem ser organizados para selecionar homens que apresentem maior probabilidade de serem provedores a elas e seus filhos. O acordo é selado com outros programas neurais que induzem uma onda de amor romântico, seguido por uma ligação de longo prazo.

Leia mais...

Tradução: George El Khouri Andolfato

Visite o site do The New York Times

11 agosto 2006

FREUD TRAI LULA NA GLOBO

"A única coisa que caiu é o salário" - tropeçou o presidente Lula, na entrevista a Fátima Bernardes e William Bonner, no Jornal Nacional, agora há pouco. O candidato queria dizer inflação, mas o pai da psicanálise entrou em ação na chamada "falha freudiana", fazendo Lula derrapar na resposta. Ou teria sido o Grilo Falante, a consciência de Pinóquio, que falou mais alto na entrevista, onde era evidente o nervosismo do presidente, de costas para livros que nunca leu nem jamais lerá. O cenário perfeito.

Essa eu tirei do Blog Esquadrinhando

Como sempre, Freud explica...

08 agosto 2006

ANTES DE CONCORRER, OS BLOGS DEVEM COLABORAR

08/08/2006

Antes de concorrer, os blogs devem colaborar

Alon Feuerwerker

Numa conversa telefônica, o Ricardo Noblat me propôs que eu escrevesse um artigo semanal para o blog dele. Eu topei na hora. Até por egoísmo. O Blog do Noblat tem mais audiência do que o meu. Dias atrás, ele reproduziu um texto que escrevi sobre a lendária sorte de Itamar Franco e colocou um link para o Blog do Alon [www.blogdoalon.com.br]. A minha audiência subiu.

Isso tudo parece banal, mas não é. O debate sobre a democracia na comunicação algumas vezes anda por caminhos errados. Certas pessoas acham que democratizar a mídia é estabelecer mecanismos para impor aos donos de jornais, revistas, rádios e tevês o que eles devem veicular, e como. Além de revelar um viés ideológico autoritário, é um equívoco.

Esse eu tirei do Blog do Noblat, vale a pena conferir.

29 julho 2006

FOUCAULT NA PAPUDA

Por Zélia Leal Adghirni

Uma brincadeira boba praticada por três estudantes da Universidade de Brasília acabou no presídio da Papuda. Jogados em uma cela com 16 criminosos, os filhos da classe média foram recebidos com as inevitáveis perguntas : “Quem são vocês e por que estão aqui ?” Quando um deles respondeu que era estudante de Filosofia, a gargalhada foi geral. “E o que tem a dizer a filosofia sobre a cadeia?”, perguntou um detento, entre a curiosidade e a ironia. “Sim, a filosofia tem muito a dizer sobre as prisões,” respondeu o estudante. E então começou a falar de Michel Foucault, filósofo francês que, entre outras obras, escreveu “Vigiar e Punir”, um clássico sobre a história da violência nas prisões. A “aula” cativou a atenção de todos e permitiu que os apavorados alunos na cela da prisão, falassem de filosofia com traficantes e ladrões. A conversa foi tão interessante que os prisioneiros convidaram os estudantes a voltar à Papuda para “falar deste cara legal, este tal de Michel Foucault”.

Esta história é verdadeira e me foi contada pelos próprios estudantes. Aconteceu no mês de maio, numa noite de sábado para domingo, perto do Teatro Nacional. Por volta de uma da manhã, eles se dirigiam para carro quando resolveram brincar com alguns cones, estes instrumentos de sinalização de trânsito, que estavam na rua. Um deles pegou um cone, colocou na boca e começou a usá-lo como megafone, dizendo piadinhas para os colegas. E entrou no carro, assim, fechando a porta e falando alto. De repente surgiram dois policiais. Eles tentaram explicar que era uma brincadeira e pediram desculpas devolvendo o cone. De nada adiantou. Chagaram mais dois policiais em motocicletas. Depois muitos outros em uma viatura. Cercados por mais de dez policiais, os estudantes foram imediatamente detidos, algemados e levados para uma delegacia de polícia. Motivo: “Furto qualificado”, artigo 155 do Código Penal. Em seguida, os jovens foram levados para outra delegacia onde passaram a noite. Interrogados várias vezes, foram humilhados e obrigados a ficar nus, três vezes, em diferentes lugares. Sem nenhum outro motivo a não ser “furto” de patrimônio público (não foi constatado uso de álcool nem de droga) eles foram conduzidos ao presídio da Papuda no domingo de manhã onde ficaram até à noite. Conseguiram, finalmente entrar em contato com um advogado que providenciou o alvará de soltura. Os estudantes foram liberados a 1h da madrugada de segunda-feira. Agora respondem processo e correm o risco de ter penas de prisão que vão de dois a oito anos. Foi negado o hábeas-corpus de trancamento de ação e os estudantes, de vinte e poucos anos, estão impedidos de prestar concurso público, e deverão ainda sofrer outras conseqüências penais, conforme a legislação.

Por que contar esta história? Em primeiro lugar porque ela parece tão absurda quanto um conto de Kafka. Em segundo, porque os estudantes encontraram nos presos, uma grande vontade de aprender. E, em terceiro lugar porque esta vontade coincide com um projeto de lei do governo federal que promove e estimula os estudos nas prisões. Pelo projeto, que será enviado ao Congresso Nacional, o detento poderá reduzir sua sentença em cada três dias freqüentados na escola. O texto sugere que além do desconto de um dia de pena a cada três dias de aula, o preso poderá ter mais dias descontados se concluir um ciclo de estudos, fundamental ou médio. Ou seja, o projeto confere ao ensino dos presos, status maior do que o trabalho no sistema prisional.

A relação entre prisão e educação é evidente. Pelos dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), 70% da população carcerária não completou o ensino fundamental. E apenas 17% dos 360 mil presos no Brasil freqüentaram uma sala de aula.

Educação nas prisões, aliás, foi o tema de um Seminário realizado em Brasília no início deste mês. Educadores do Depen e especialistas do Ministério da Educação, do Ministério da Justiça e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), debateram o assunto pela primeira vez Não existia até agora uma preocupação das autoridades com a população carcerária neste sentido. Cultura e educação não costumam passar através das grades. A única experiência que conhecemos de dialogar com os presos, foi realizada nos anos 60, pelo grupo Teatro do Oprimido, de Augusto Boal. Na verdade, a sociedade não tem especial interesse em escutar os presos. Ou falar com eles. Principalmente neste momento onde, da prisão, os bandidos conseguem monitorar os crimes e dominar as cidades, criando um clima de estado de sítio.

O encontro casual entre estudantes incriminados por furto qualificado de um cone e criminosos condenados por tráfico e assalto à mão armada gerou no entanto um diálogo, uma tentativa de compreensão mútua. Acuados pelo medo do desconhecido, os jovens da UnB apelaram para a estratégia da auto defesa usando o filósofo francês como escudo. E um deles, especialmente apaixonado pela obra da Foucault, viu ali a ocasião de testar na prática seus conhecimentos teóricos. E os presos, sem nada para fazer, em vez de agressões ou hostilidades, resolveram escutar o que tinham a dizer aqueles jovens do Plano Piloto, presos por um motivo que, para eles, parecia caçoada. A aula de filosofia valeu para ambas as partes. Espontaneamente, jamais teria ocorrido aos estudantes dar “aulas” de filosofia na cadeia. Até porque as estruturas carcerárias não permitem este tipo de atividade. O que sabemos é que a população carcerária costuma ser visitada e aconselhada por grupos religiosos que costumam “converter” muita gente. Até Marcola já falou sobre isso, de cátedra:: “ Os sistema penitenciário só é capaz de ressocializar aqueles que cometeram crimes passionais e o pessoal que entra pela veia evangélica, que tem alguma fundamentação bíblica ou religiosa, baseada na lavagem cerebral do cara, falando que o cara aceitou Jesus e não volta mais para o crime. Aquele que é assaltante, traficante, a tendência natural é continuar no crime” ( Marco Willian Herbas Camacho, o Marcola, em matéria publicada na revista Caros Amigos, julho 2006).

Talvez tenha sido reconfortante para os presos saber que existem filósofos, sociólogos, juristas, historiadores e outros intelectuais que pensam e estudam a questão carcerária. Talvez o que tenha captado a atenção dos presos naquela cela, naquele domingo de manhã onde não havia nada para fazer, é o caráter “subversivo” da obra de Foucault que ao estudar a legislação penal e os métodos adotados pelos poderes públicos para punir os criminosos, também questiona as ideologias e as instituições vigentes. Foucault explica que “cada época cria suas próprias leis penais, utilizando os mais variados métodos de punição que vão desde a violência física até a aplicação dos princípios humanitários que apostam na recuperação e na reintegração dos delinqüentes na sociedade”.

O estudante de Filosofia falou também de Marx e de Nietzche para uma platéia embevecida que não piava. Ele conta que os “engraçadinhos” que tentaram fazem piada no meio da aula foram imediatamente calados pelos líderes que tratam os companheiros de cela não pelo nome, mas pelo código da infração cometida. Mas os “professores” foram tratados com deferência pelo nome próprio (que eu não revelarei aqui por razões óbvias) naquele lugar onde nunca mais pretendem voltar. A não ser que, absolvidos após o processo, voltem como “professores voluntários” para a Papuda se o projeto governamental de educação para os presos for aprovado.

Publicado no Blog do Noblat em 27/07/2006

Zélia Leal é jornalista e professora da Faculdade de Comunicação da UNB.

16 julho 2006



"Crianças com Boneca", trabalho de 1942 do fotojornalista americano Gordon Parks

Édipo, o retorno

O psicanalista Juan David Nasio fala de seu novo livro, que sai no Brasil em 2007, e diz que o principal complexo apontado por Freud está sendo mal interpretado

Howard Greenberg Gallery/Associated Press

FLÁVIA MARREIRO

DE BUENOS AIRES

Depois de quase 40 anos de clínica, o argentino Juan David Nasio, um dos mais respeitados psicanalistas do mundo, resolveu revisitar um conceito fundador da teoria: o complexo de Édipo.

Para Nasio, era preciso salvá-lo da banalização e reapresentá-lo como uma crise de crescimento da criança, um complexo do prazer sexual -e não como "um complexo de sentimentos" envolvendo o pai e a mãe. "Trata-se de uma chama de erotismo que invade a criança e alcança os adultos que a rodeiam", diz o psicanalista, ao falar de "Sobre Édipo", lançado no final do ano passado na França e que deve sair em fevereiro de 2007 no Brasil pela editora Jorge Zahar.

Mais! Folha de S. Paulo de 16/07/2006

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Blog Ciencia em dia

Contra as cotas raciais, mas...

A via do mérito acadêmico não se resume à nota no vestibular

Marcelo Leite

O assunto só marginalmente tem alguma coisa a ver com ciência (inexistência de raças sob o ponto de vista genético-populacional etc.), mas precisamente esse aspecto será deixado de lado. É melhor não turvar a discussão, política e de justiça, com o fantasma de falácias naturalistas, já banidas do debate sobre o inquestionável racismo da sociedade brasileira.

Em boa hora o governo federal ensaia desacelerar a tramitação do Estatuto da Igualdade Racial no Congresso, para aprofundar a discussão na esfera pública e possivelmente abrandar a exigência de cotas raciais no ensino universitário em favor de outro mecanismo de inclusão, talvez com base em critérios socioeconômicos.

Em tempo: Eu estive no encontro dos Estados Gerais da Psicanálise, realizado em 2003, no Rio de Janeiro e eramos cerca de 600 participantes do nundo inteiro. Além de mim, quantos negros haviam participando?

E em sua sociedade de psicanálise, quantos existem?

Rogério Silva

15 julho 2006

REVISTA RELACIONES - Montevideo, junio de 2006


El oráculo de Delfos y el ombligo de Platón

Pablo Cúneo

La problemática del origen del lenguaje y de los nombres aparece ya en la Grecia Antigua, siendo el Cratilo de Platón (1966) un texto clásico al respecto: ¿expresa el nombre la naturaleza exacta del objeto, teniendo este una denominación natural a través de la que se manifiesta su esencia; o por el contrario es el nombre producto del acuerdo y la convención?
Cratilo sostendrá la existencia de un lazo natural del nombre y el objeto; Hermógenes, en cambio, defenderá la tesis de la convención. Y Varrón (en De lingua latina) sostendrá que "La misma relación de parentesco y consanguinidad que hay entre los hombres se da también entre las palabras."

14 julho 2006

SUBJETIVAÇÃO E SEXUALIDADE

A Psicanálise e as novas formas de subjetivação e de sexualidade

Por Regina Neri

Na passagem do século XIX ao XX, a psicanálise se inaugura em torno de uma interrogação sobre a crise do sujeito clássico da razão. Ao descentrar o sujeito da consciência filosófica para o inconsciente, deslocar o corpo anatômico da razão científica para o corpo erógeno e subverter o instinto pré-determinado pela plasticidade da pulsão sexual, ela aponta para a crise das identidades fixas que marca a modernidade. A psicanálise vem, assim, contribuir de forma determinante para pensar os processos de subjetivação e sexuação do sujeito na cultura, constituindo-se segundo Fraisse (1995) como primeiro discurso a colocar no âmago de sua interrogação a questão da diferença sexual.

O século XXI encontra-se perpassado pela interrogação sobre a diferença sexual instaurada pela modernidade. Apesar de antigas representações do feminino e do masculino ainda se manterem, assistimos a um vivo questionamento sobre a diferença sexual. A diferença teria necessariamente de se manter atrelada à oposição dialética masculino/ feminino ou nos encontramos diante da produção de novas cartografias da diferença? Nesse contexto, cabe aos psicanalistas se colocarem na escuta de seu tempo.

O processo de introjeção como processo subjetivador

Por Eliana Schueler Reis

Sua primeira contribuição de peso à teoria e à clínica psicanalítica consistiu na formulação do conceito de introjeção, entendido como um processo psíquico envolvendo os investimentos pulsionais realizados pelo bebê desde seus primeiros contatos com seu meio ambiente. É importante assinalar que não se trata da introjeção de objetos e sim de movimentos de captura de marcas diferenciais das sensações de prazer/desprazer percebidas nos contatos com o mundo em torno, produzindo um efeito de “alargamento da esfera do eu”. A extensão dos interesses do Eu ao mundo exterior, confere a esse mundo um valor, uma qualidade e algo fora do Eu passa a ser investido, ocupado (Bezetzen) enquanto espaço psíquico. Esta qualidade é introjetada, constituindo introjeções primitivas ou transferências originárias de energia psíquica, que atuam como matrizes identificatórias. A mobilidade dos investimentos pulsionais depende das condições do sistema receptor das impressões num dado momento da existência subjetiva. Segundo estas condições, o Eu infantil regula as sensações de prazer e desprazer definindo diferenciais quantitativos e qualitativos que regulam a direção dos investimentos.

01 julho 2006

DIFERENÇA 2 - A SUBJETIVIDADE E A DIFERENÇA

Por Jurandir Freire Costa

Em minhas pesquisas, tenho trabalhado com a noção psicanalítica de sujeito e a noção de linguagem segundo as teorias pragmáticas ou neopragmáticas, a fim de dispor de um quadro técnico-metodológico que possa apoiar investigações na clínica psicanalítica, na prática institucional, psiquiátrica e na crítica do que chamamos sintoma social, isto é, todos os eventos histórico-culturais passíveis de uma leitura psicanalítica.

Para Freud, sujeito é um termo que se refere a um coletivo e não a uma unidade, ou seja, apesar de haver na língua a idéia de sujeito como sinônimo de indivíduo, Freud afirmou que o sujeito é uma pluralidade de um tipo especial, já que boa parte das organizações subjetivas de que é formado o sujeito psicanalítico não tem as características do sujeito da tradição filosófica clássica, isto é, do sujeito racional, auto-reflexivo, consciente e transcendente em relação aos objetos, ao mundo e aos outros sujeitos. Sempre que imaginamos o sujeito nos ocorre alguma coisa distinta dos atos da fala e dos fenômenos sensoriais. Pensamos que o sujeito é alguém que sente, fala, julga etc. O sujeito é alguma coisa diferente da linguagem e das reações sensoriais. Recebe as sensações que o informam a respeito das coisas, dos estados das coisas e eventos do mundo e emprega a linguagem para traduzir, interpretar e comunicar a outros sujeitos o que sente, o que pensa etc. Tal imagem do sujeito nos permite dizer que ele "representa" o que sente, vê, ouve de tal ou qual maneira. Dito de outra forma, entre o mundo das sensações e o das representações haveria o mundo da linguagem que espelharia, mais ou menos incorretamente, aquilo que é sentido.

Freud, em grande parte de sua obra, aderiu à esta metafísica da sensação e da representação, para empregar os termos da crítica de Richard Rorty, em A filosofia e o espelho da natureza. Em outros momentos, contudo, afirmou que não existe distância entre o que eu sinto e o que eu sou; entre aquilo que eu represento e aquilo que representa. Nesta concepção, o sujeito não é qualquer coisa anterior ao sentido, nem qualquer coisa anterior ao pensar. É uma pluralidade identificatória; é um conjunto de vários sujeitos formados de sensações, percepções, representações, imagens etc. Para Rorty, o sujeito é uma rede de crenças e desejos postulados como causa interior de atos lingüísticos. Na obra de Freud, certos mecanismos psíquicos, como incorporação, introjeção, internalização, identificação ou projeção do sujeito no outro, fazem com que sejamos capazes de ter vários "eus", organizados de diversas maneiras, em função dos sentimentos, das descrições, das sensações, das razões, das causas ou das justificativas que damos para funcionar de tal ou qual maneira. Nenhum desses "eus" é mais verdadeiro do que o outro; nenhum deles detém, é responsável ou porta-voz da verdadeira substância do sujeito.

...leia o texto na íntegra

25 junho 2006

PROJETO ANIMAL

Marcelo Leite

Todo dilema ético verdadeiro envolve uma escolha entre dois bens

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro deve decidir nesta semana ou nas próximas o destino de um projeto de lei imaginável somente num país refratário à discussão racional. O tema é relevante: experimentação com animais. O propósito, também: resguardá-los de sofrimento. A proposta, não: proibir todas as formas de vivissecção, "assim como o uso de animais em práticas experimentais que provoquem sofrimento físico ou psicológico".

Artigo publicado na integra no caderno de Ciência da Folha de São Paulo de 25/06/2006.

Visite o Blog Ciencia em dia. cienciaemdia.zip.net

Conta o anedotário popular que um certo vereador do interior do Brasil propôs um projeto que fizesse subir a água de um rio na montanha, sem dispêndio econômico e de energia. Foi advertido dessa impossibilidade por causa da lei da gravidade e ele disse: a gente revoga essa lei.

Cláudio Cavalcanti não se deu conta de que se o seu projeto de lei tivesse um efeito retroativo secular e mundial, ele talvez não tivesse existido ou não estivesse mais vivo hoje para propor essas bobagens , pois houve época em que se morria muito cedo por diversas causas. A longevidade e a qualidade de vida têm sido aumentadas no mundo inteiro, graças aos avanços das ciências que utilizam animais em suas pesquisas.

Não se pode simplesmente revogar ou propor, irresponsavelmente, leis que marchem no sentido contrário ao desenvolvimento científico, social e tecnológico. O que ele propõe neste lugar?

Por Rogério Silva

22 junho 2006

SABATINA FOLHA/ PAULO MENDES DA ROCHA

Folha de São Paulo - Ilustrada - 22/06/2006

Para Mendes da Rocha, medo da elite desvirtua a cidade

Em sabatina promovida pela Folha, o arquiteto critica shoppings e diz que ricos "merecem" o estilo neoclássico de empreendimentos de luxo em São Paulo

Vencedor do Pritzker de 2006 diz que favelas do país são "a maior manifestação da consciência da urgência do urbanismo"

SYLVIA COLOMBO

RAFAEL CARIELLO

DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Mendes da Rocha, 77, defende que os vilões ("do lat. vulg. villanu, "habitante de vila ou casa de campo'") das grandes cidades brasileiras são os que insistem em querer viver separados, e não no espaço urbano sem controles e divisões. "A cidade é por si democrática. A cidade é livre", disse o arquiteto, vencedor do Prêmio Pritzker de Arquitetura 2006, durante a sabatina Folha, a quarta deste ano, anteontem, em São Paulo. "O que acontece com essa classe temerosa, que se auto-alimenta do pavor? "Não há segurança." Como pode haver segurança para quem tem filhos? Como? Botar um guizo em cada filho? É impossível. É uma idéia tola, a da segurança, e um instrumento da exclusão." Esse não foi o único ataque de Mendes da Rocha aos projetos e práticas dessa "classe temerosa", durante a conversa com o arquiteto e urbanista Italo Campofiorito, com Guilherme Wisnik, também arquiteto e colunista da Folha, Marcos Augusto Gonçalves, editor da Ilustrada, e o repórter especial Mario Cesar Carvalho. Disse que os shopping centers segregam e destroem a cidade, que a avenida Paulista é "uma contradição em desastre" e, numa referência à sua consensual feiúra, que o estilo neoclássico adotado nos prédios de luxo de São Paulo é "exatamente o que eles [ricos] merecem". Do Muro de Berlim às favelas, o arquiteto defendeu intervenções nas cidades semelhantes às que faz em obras como a da Pinacoteca do Estado, em São Paulo -manter e respeitar a estrutura prévia, para daí construir a novidade. ...leia mais