vive incerteza, mas não aceita inconstância
dissabor permite, apenas, provar a dor do amor
o encontro solitário como um celibatário
na intimidade busca o prazer contido.
ah se não fosse possível ao pensamento,
distraído em sua forma, traído em seu amor,
repetir a dor de viver
no ato contínuo e repetitivo da impossibilidade!...
de repente o alívio prazeroso eclode!
o cansaço toma o corpo constrangido
cujo pensamento perde-se por hora
para encontrar-se mais tarde...
noutra historia, depois outra, outra e outra...
busca penosa e incessante do amor impossível
repete o gesto como um moto perpétuo
outra incerteza, outra inconstância, outra dor.
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19 maio 2012
REPETIÇÃO
18 abril 2012
Frase
“O velho é curvado para frente, porque carrega nos ombros o saco do tempo cheio de vivências e experiências!”
"A psicanálise serve para desbotar as cores das certezas e das garantias e para criar novos aromas para as dúvidas."
“As verdades de cada um existem, só não existe a verdade absoluta, porque se não as verdades de cada um deixariam de existir.”
20 março 2012
CONSCIÊNCIA E FELICIDADE, ALÉM DO ATEU E DO ATEÍSMO - DOCUMENTÁRIO
A indagação acerca do propósito da vida humana já foi formulada muitas vezes, mas nunca recebeu porém uma resposta satisfatória e, diz Freud, talvez não haja mesmo uma. Muitos supõem que se fosse demonstrado que a vida não tem propósito, esta perderia todo o seu valor. Este questionamento parece tipicamente do humano, visto que ninguém fala do propósito da vida dos animais; talvez por se supor presunçosa e arrogantemente que estes estão a serviço do homem. E asseverando que só a religião é capaz de resolver essa questão. Dificilmente incorreremos em erro ao concluirmos que a ideia da vida possuir um propósito se forma e desmorona com o sistema religioso, dizem.
Enfrenta então o problema menos ambicioso de saber qual é intenção que os homens, por seu comportamento, atribuem às suas existências: que pedem eles da vida e que desejam nela realizar? E responde: "Esforçam-se para obter felicidade; querem ser felizes e assim permanecer." Essa empresa apresenta uma meta positiva e outra negativa – por um lado, busca a ausência de sofrimento e de desprazer; por outro, visa à experiência de intensos sentimentos de prazer. Em sentido restrito, ‘felicidade’ só diz respeito a estes últimos. Vê-se que o propósito da vida é dado pelo princípio do prazer, que domina o funcionamento do aparelho psíquico desde o início; não há dúvida sobre sua eficácia, ainda que seu programa esteja em desacordo com o universo inteiro: todas as suas normas lhe são contrárias. Freud insiste que somos feitos de modo a só obtermos prazer intenso de um contraste, e muito pouco de um estado de coisas. Embora dizendo que pode ser exagero, cita Gœthe a esse respeito: "nada é mais difícil de suportar que uma sucessão de dias belos."
Para ver o documentário clique no link abaixo.
Para ver o documentário clique no link abaixo.
O documentário inicia com quatro frases, extremamente preconceituosas.
“O homem mais triste do mundo é aquele que não acredita em Deus.”
“Perdão, mas você que não acredita em Deus é um ser humano vazio, totalmente oco por dentro.”
“Tenho nojo daquele que não acredita em Deus, não sei pra que vive uma pessoa dessa!”
“As igrejas, fanáticas ou não, sempre “regulam” os comportamentos. Onde falta Deus, a desgraça se espalha.”
Já imaginaram se essas frases dissessem justo contrario e ficassem assim:
“O homem mais triste do mundo é aquele que acredita em Deus.”
“Perdão, mas você que acredita em Deus é um ser humano vazio, totalmente oco por dentro.”
“Tenho nojo daquele que acredita em Deus, não sei pra que vive uma pessoa dessa!”
“As igrejas, fanáticas ou não, nunca “regulam” os comportamentos. Onde existe Deus, a desgraça se espalha.”
Como é que quem acredita em Deus, se sentiria?
Seis pessoas, Asa Hauser, professora de Inglês; Eli Vieira, biólogo; Cassionei Petrys, professor de Portugues; Cesar Goes, professor de sociologia; Pablo Villaça, critico de cinema e Edgar Hoffmann, professor de filosofia aposentado, são os entrevistados.
Daí eu pude tirar duas conclusões que reputo importantes:
1 - Numa pesquisa (a única que encontrei no Google) feita na Inglaterra no censo de 2000 sobre as religiões na população carcerária, 67% das pessoas segue alguma religião e 99,3% acredita em Deus. Portanto quem acredita em Deus também mata, rouba ou comete outros crimes. O “ateu” que corresponde a 0,7% da população é mais ético e moral.
2 - Outra curiosidade, mas não sei dizer os números, é que entre os analfabetos, a maioria acredita em Deus e entre os ateus e agnósticos, a maioria tem curso superior e/ou pós-graduação. Repare no perfil dos entrevistados do documentário.
02 dezembro 2011
07 outubro 2011
DA PRAIA PARA O FACEBOOK
Nos idos dos anos setenta e oitenta eu costumava frequentar a praia de Ipanema próxima ao posto nove. Não no posto nove em si, mas em frente à Farme de Amoedo ou a Vinicius de Moraes. Por décadas esse foi o meu point. Com a família ou sozinho, ou ainda, com amigos. De tanto freqüentar, nos fins de semana, ferias ou feriados eu já era conhecido e conhecia muita gente também. Não é que eu conversasse com qualquer pessoa, o que evidentemente também poderia acontecer, mas era porque as nossas caras se esbarravam sempre naquele pedaço. Essa convivência era, via de regra, anônima. As pessoas não sabiam o meu nome e nem eu o delas. Poderíamos nos encontrar em qualquer outro lugar que sabíamos “de onde a cara era conhecida.”
Certa vez eu estava na agencia de uma concessionária de serviços públicos da cidade numa fila e atrás de mim estava um cidadão que até hoje não sei o nome. Com certeza nos reconhecemos da praia e papeamos sobre varias coisas até que fossemos atendidos e depois nos despedimos como velhos amigos. Eu sei que você vai perguntar, mas como você pode afirmar que ele lhe reconheceu da praia? Muito simples. A partir daquele momento, sempre que nos esbarrávamos na praia ou fora dela cumprimentávamos com mais efusividade, porém mantendo o anonimato.
Mal sabia eu que estava diante de um instrumento que só viria a ser inventado muitos anos mais tarde no campo virtual. O Facebook. Claro que aquele era um Facebook bem tupiniquim com uma memória bastante reduzida. Bastava ficar uma ano sem ir à praia e a coisa começava a falhar. Os nossos arquivos não tinham pastas para armazenamento de dados.
É evidente que os conhecimentos se davam por escolhas diretas, téte a téte. Cada um com os seus preconceitos, suas crenças ou suas censuras. Mesmo assim quem me acompanhava na praia ou no calçadão ficava espantado com a quantidade de acenos a mim ou por mim distribuídos. Espanto que acontece hoje comigo quando vejo alguém com muitos amigos em suas pastas no Facebook. Como pode alguém ter 3487 amigos? Na minha pagina contam-se, no máximo, oitenta pessoas. O detalhe é que conheço quase todos pessoalmente. A metade faz parte da família e na outra estão amigos mais recentes, poucos apresentados pelos novos amigos e nenhum daquela época de “Facepraia”. Considero o meu numero de contatos razoável para alguém que já freqüenta mais da metade da casa dos sessenta anos e que já teve muitos amigos que partiram da praia, do bairro, da cidade ou mesmo da vida.
O Facepraia não deixou muita saudade até porque algumas fotos mudaram tanto ao longo dos anos, que quase não são mais reconhecidas ou temos dificuldade em reconhecer. Ou porque as pessoas ficaram mais gordas, ou mais magras. Alem de que todas envelheceram.
E o Facebook? Mark Zuckerberg por gostar de "construir coisas", conseguiu aproximar o mundo numa proeza. Como seu criador, juntou 500 milhões de pessoas num único sítio.
"Muito engraçado, mas eu não tenho Facebook." Ah! Não tem? Com certeza você conhece alguém que usa esta rede social: um irmão, filho, colega, amigo, namorado. Alguém bem próximo. Uma em cada 14 pessoas no mundo hoje acessa o site que um miúdo na altura e com 19 anos, criou em 2004 no quarto de uma residência de Harvard com a ajuda de colegas de faculdade.
Quer saber? Pegue o nome Mark Zuckerberg e coloque na linha de pesquisa do Fcebook e surpreenda-se. Se já fez isso, sabe quais são os principais interesses pessoais de Zuckerberg. Eles são visíveis a todos os utilizadores. Mesmo aos que não fazem parte da lista de amigos deste jovem multimilionário. Você deve estar a pensar: "Já tinha dito que não tenho Facebook" Tudo bem. "Minimalismo, construir coisas, partir coisas, fluxo de informação, revoluções". São estes alguns dos interesses que pode ler no perfil de "Zuck". É assim que é conhecido entre amigos o rapaz que invariavelmente usa T-shirts cinzentas, calças de ganga, é fiel aos seus chinelos Adidas e frequenta aulas de mandarim, segundo a Wikipédia.
É curioso notar como cada um faz uso dessa ferramenta que agrega em redes mais de quinhentos milhões de pessoas em todo o mundo. Só ele tem em sua pasta mais de cinco milhões de contatos. Com isso podemos imaginar que o Facebook é capaz de albergar pessoas com os interesses diversos, nos mais diversos campos da vida social que vai da religião à guerra, da culinária à química ou do tráfico de drogas à prostituição, dentre outros. É saudável, é! Mas como em todo grupamento humano encontraremos problemas. Alguns até que extrapola a esfera social indo esbarrar na esfera policial ou jurídica. Pedofilia, xenofobia, aliciamentos e outras práticas.
Nos fenômenos de massa os interesses se misturam e criam lideranças que se manifestam diante de um fato e logo se dispersam findos os eventos motivacionais. O Rock in Rio foi uma prova contundente disso. Da compra de ingressos, que logo se esgotaram, até as músicas e letras que tinham que ser decoradas além da paramentaria. Tudo tinha de estar dentro dos conformes. E como não se pode exigir grau de instrução dos freqüentadores, é comum encontrar equívocos de ordem informativa e/ou conceitual.
Nos próximos seis anos o Brasil será palco de, pelo menos, dois eventos mundiais de grande magnitude. Daí podermos imaginar quantos cruzamentos de mensagens e informações veicularão pelas nossas paginas nos obrigando a esquecer os preconceitos e a velha censura que podíamos fazer nos tempos do Facepraia. Democratizar idéias faz do Facebook um valioso instrumento de manifestação política e intelectual promovendo a inclusão social e das diferenças, para aqueles que dele utilizam, mesmo quando não concordamos com as idéias postas.
Certa vez eu estava na agencia de uma concessionária de serviços públicos da cidade numa fila e atrás de mim estava um cidadão que até hoje não sei o nome. Com certeza nos reconhecemos da praia e papeamos sobre varias coisas até que fossemos atendidos e depois nos despedimos como velhos amigos. Eu sei que você vai perguntar, mas como você pode afirmar que ele lhe reconheceu da praia? Muito simples. A partir daquele momento, sempre que nos esbarrávamos na praia ou fora dela cumprimentávamos com mais efusividade, porém mantendo o anonimato.
Mal sabia eu que estava diante de um instrumento que só viria a ser inventado muitos anos mais tarde no campo virtual. O Facebook. Claro que aquele era um Facebook bem tupiniquim com uma memória bastante reduzida. Bastava ficar uma ano sem ir à praia e a coisa começava a falhar. Os nossos arquivos não tinham pastas para armazenamento de dados.
É evidente que os conhecimentos se davam por escolhas diretas, téte a téte. Cada um com os seus preconceitos, suas crenças ou suas censuras. Mesmo assim quem me acompanhava na praia ou no calçadão ficava espantado com a quantidade de acenos a mim ou por mim distribuídos. Espanto que acontece hoje comigo quando vejo alguém com muitos amigos em suas pastas no Facebook. Como pode alguém ter 3487 amigos? Na minha pagina contam-se, no máximo, oitenta pessoas. O detalhe é que conheço quase todos pessoalmente. A metade faz parte da família e na outra estão amigos mais recentes, poucos apresentados pelos novos amigos e nenhum daquela época de “Facepraia”. Considero o meu numero de contatos razoável para alguém que já freqüenta mais da metade da casa dos sessenta anos e que já teve muitos amigos que partiram da praia, do bairro, da cidade ou mesmo da vida.
O Facepraia não deixou muita saudade até porque algumas fotos mudaram tanto ao longo dos anos, que quase não são mais reconhecidas ou temos dificuldade em reconhecer. Ou porque as pessoas ficaram mais gordas, ou mais magras. Alem de que todas envelheceram.
E o Facebook? Mark Zuckerberg por gostar de "construir coisas", conseguiu aproximar o mundo numa proeza. Como seu criador, juntou 500 milhões de pessoas num único sítio.
"Muito engraçado, mas eu não tenho Facebook." Ah! Não tem? Com certeza você conhece alguém que usa esta rede social: um irmão, filho, colega, amigo, namorado. Alguém bem próximo. Uma em cada 14 pessoas no mundo hoje acessa o site que um miúdo na altura e com 19 anos, criou em 2004 no quarto de uma residência de Harvard com a ajuda de colegas de faculdade.
Quer saber? Pegue o nome Mark Zuckerberg e coloque na linha de pesquisa do Fcebook e surpreenda-se. Se já fez isso, sabe quais são os principais interesses pessoais de Zuckerberg. Eles são visíveis a todos os utilizadores. Mesmo aos que não fazem parte da lista de amigos deste jovem multimilionário. Você deve estar a pensar: "Já tinha dito que não tenho Facebook" Tudo bem. "Minimalismo, construir coisas, partir coisas, fluxo de informação, revoluções". São estes alguns dos interesses que pode ler no perfil de "Zuck". É assim que é conhecido entre amigos o rapaz que invariavelmente usa T-shirts cinzentas, calças de ganga, é fiel aos seus chinelos Adidas e frequenta aulas de mandarim, segundo a Wikipédia.
É curioso notar como cada um faz uso dessa ferramenta que agrega em redes mais de quinhentos milhões de pessoas em todo o mundo. Só ele tem em sua pasta mais de cinco milhões de contatos. Com isso podemos imaginar que o Facebook é capaz de albergar pessoas com os interesses diversos, nos mais diversos campos da vida social que vai da religião à guerra, da culinária à química ou do tráfico de drogas à prostituição, dentre outros. É saudável, é! Mas como em todo grupamento humano encontraremos problemas. Alguns até que extrapola a esfera social indo esbarrar na esfera policial ou jurídica. Pedofilia, xenofobia, aliciamentos e outras práticas.
Nos fenômenos de massa os interesses se misturam e criam lideranças que se manifestam diante de um fato e logo se dispersam findos os eventos motivacionais. O Rock in Rio foi uma prova contundente disso. Da compra de ingressos, que logo se esgotaram, até as músicas e letras que tinham que ser decoradas além da paramentaria. Tudo tinha de estar dentro dos conformes. E como não se pode exigir grau de instrução dos freqüentadores, é comum encontrar equívocos de ordem informativa e/ou conceitual.
Nos próximos seis anos o Brasil será palco de, pelo menos, dois eventos mundiais de grande magnitude. Daí podermos imaginar quantos cruzamentos de mensagens e informações veicularão pelas nossas paginas nos obrigando a esquecer os preconceitos e a velha censura que podíamos fazer nos tempos do Facepraia. Democratizar idéias faz do Facebook um valioso instrumento de manifestação política e intelectual promovendo a inclusão social e das diferenças, para aqueles que dele utilizam, mesmo quando não concordamos com as idéias postas.
03 outubro 2011
FRASE
“A diferença entre a vida e a morte é a mesma do excesso e da falta. Só quem está de fora pode ver.”
16 setembro 2011
FRASE
"O caminho não é uma avenida, nem uma via e nem uma rota, mas é o único meio de se chegar a um objetivo, não importa a distancia nem o percurso. Só é preciso caminhar."
----------
"Se preferes a fé, procures a crença, se preferes o saber, procures a ciência, mas se preferes viver, não procures nada. Simplesmente vivas."
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"Num dia acordei formiga, no outro acordei árvore, no outro rio e depois floresta. Só então eu percebi que fazia parte da natureza e passei a lamentar aqueles que acordam gente todo o dia!"
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"O amor acorda cedo, na infancia, gasta energia na adolescencia, é comovente na fase adulta e se perde na velhice."
08 setembro 2011
FRASE
"Quando uma mulher arruma tão bem os seus livros e você gosta, ou você contrata ela, ou você se casa com ela!"
-----------
"Crer é o modo mais fácil de aceitar aquilo que a gente não sabe o que é e nem precisa saber, é só acreditar!"
"O conhecimento é o modo mais difícil de entender aquilo que a gente não sabe o que é, mas pode vir a saber, mas dá muito trabalho!"
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"A felicidade é como o sol. Brilhante ao amanhecer quando desponta no horizonte, quente quando esta bem no alto e sombrio quando desaparece."
03 setembro 2011
ENTRANHAS DA ALMA
Roupas sujas, usadas, molhadas,
abandonadas
no canto do banheiro
amontoam dores, odores e favores.
As crianças aditam muita sujeira
de terra, doces e traquinas.
Os adultos, o suor da lida,
preocupações e insucessos.
Mulheres, desamores adormecidos
choros calados e frustrações.
Nos jovens, desencantos, hormônios,
desejos incestuosos ou luxuriantes.
Elas guardam muitos segredos, as vezes.
Paixões, equívocos e desapontamentos.
Sujas de uso, suor e poeira
que Rita colhe, recolhe e acolhe.
No tanque com água e sabão:
ensaboar, esfregar, lavar.
Na água suja
misturadas ao sabão.
Limpa
todas as dores enxaguadas.
Escorrem como lagrimas,
as mágoas e os ressentimentos.
Penduradas
à brisa leve do ar,
recebem bênçãos
compaixões e esperanças.
Os lençóis guardam ainda segredos de alcova.
Toalhas de mesa, manchas de gordura,
de café e leite permanecem.
De banho embebidas do corpo, a pureza.
Rita, de olhos acanhados e gestos tímidos,
parece conhecer todos os gemidos,
gritos, sussurros e risos,
contidos nas entranhas das almas!
24 outubro 2010
O TERCEIRO INCLUÍDO
Por Rogério Silva
O que mais me irrita no processo eleitoral hoje, é quando alguém me pergunta se eu vou votar em fulano (não cito o nome de um candidato, porque temo que esse texto venha a valer para, pelo menos, para mais cinqüenta anos) e eu respondo que não. Então a pessoa acha que vou votar no outro candidato. Não lhe passa pela cabeça que eu não quero nem um, nem o outro candidato.
Essa é a lógica do terceiro excluído conhecida como a lei do terceiro excluído (em latim resumida na expressão tertium non datur), é um princípio cujo enunciado consiste no seguinte: "ou A é x ou é y e não há terceira possibilidade".
Nessa lógica uma proposição só pode ser verdadeira se não for falsa e só pode ser falsa se não for verdadeira, porque o terceiro valor é sempre excluído.
Mas como? Não tem um terceiro candidato? É verdade não tem um terceiro candidato, mas deveria haver uma terceira opção que fosse válida. O problema é que a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 que instituiu o Código Eleitoral, não previu a alternativa de escolha de uma terceira possibilidade. A Lei é clara, somente são votos validos os computados para um e para outro candidato. Faltar, errar, votar nulo ou em branco (que voto mais inútil!); não constituem votos válidos e, portanto não alteram o resultado final. O que é uma pena!
Sistemas que vão além dessas duas distinções entre verdadeiro e falso, são conhecidos como lógicas não-aristotélicas, ou lógica de vários valores, ou então lógicas polivaluadas, ou ainda polivalentes.
No início do século 20, Jan Łukasiewicz investigou a extensão dos tradicionais valores verdadeiro/falso para incluir um terceiro valor, "possível".
Acredito que num país dito democrático, poder não aceitar os candidatos postos deveria ser um ato de cidadania. Se a soma dos votos inválidos ultrapassarem os cinqüenta por cento mais um dos eleitores cadastrados, isto por si só, já indica a não aceitação dos candidatos pelo eleitorado. O desinteresse é, para mim, uma prova inequívoca de que os candidatos não convencem o eleitorado e não merecem, portanto serem eleitos. Não importa o que o eleitor prefere fazer; ir à praia, ao boteco encher a cara, viajar ou simplesmente não fazer nada. Ele não quer é participar da farsa instituída. Está desinteressado. E eu prefiro pensar num desinteresse ativo, positivo e afirmativo. E portanto POSSÍVEL.
Também não me interessa pensar numa lógica do tipo: “vou votar no menos ruim”, como se o menos ruim fosse algo que valesse a pena. Para mim a lógica do pior vem de um outro registro. Com Clement Rosset eu aprendi sobre a lógica do pior é que “A filosofia torna-se assim um ato destruidor e catastrófico: o pensamento aqui em ação tem por propósito desfazer, destruir, dissolver - de maneira geral, privar o homem de tudo aquilo de que este se muni intelectualmente a título de provisão e de remédio em caso de desgraça. Tal como o navio pelo qual Antonin Artaud, no início do Teatro e seu duplo, simboliza o teatro, ele traz aos homens não a cura, mas a peste. Assim apareceram sucessivamente no horizonte da cultura ocidental pensadores como os Sofistas, como Lucrécio, Montaigne, Pascal ou Nietzsche - e outros. Pensadores terroristas e lógicos do pior: sua preocupação comum paradoxal é a de conseguir pensar e afirmar o pior. A inquietude aqui mudou de rota: o cuidado não é mais de evitar ou superar um naufrágio filosófico, mas torná-lo certo e inelutável, eliminando, uma após outra, todas as possibilidades de escapatória. Se há uma angústia no filósofo terrorista, é a de passar sob silêncio tal aspecto absurdo do sentido admitido ou tal aspecto derrisório do sério vigente, de esquecer uma circunstância agravante, enfim de apresentar do trágico um caráter incompleto e superficial. Assim considerado, o ato da filosofia é por natureza destruidor e desastroso.” Mas não se pode pensar assim na política brasileira, pelo menos. Acredito que não.
Em 2001 eu votei, pela última vez, nas eleições presidenciais, por decisão pessoal e por não ter em quem votar. Votei na esperança de mudança e no fim da corrupção (eram essas as promessas). O que aconteceu? Fui traído e fiquei sem ter em quem acreditar. Pergunto-me se o que eu tenho vivido nos últimos anos pode ser denominado de política.
Segundo a Wikipédia, política é a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; aplicação desta arte aos negócios internos da nação (política interna) ou aos negócios externos (política externa). Nos regimes democráticos, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância.
Essa palavra tem origem nos tempos em que os gregos estavam organizados em cidades-estado chamadas "polis", nome do qual se derivaram palavras como "politiké" (política em geral) e "politikós" (dos cidadãos, pertencente aos cidadãos), que estenderam-se ao latim "politicus" e chegaram às línguas européias modernas através do francês "politique" que, em 1265 já era definida nesse idioma como "ciência do governo dos Estados".
“O homem é um animal político.” É? Não sei...
Por tudo isso, eu reinvidico a presença do terceiro incluído no processo eleitoral, ou seja, mudar a rota desse processo, para que haja um mecanismo de validação para quem não aceita nenhum dos candidatos em qualquer que seja o escrutínio e com as devidas conseqüências que o Código Eleitoral vier a prever.
Votar é escolher e escolher é também poder renunciar.
O que mais me irrita no processo eleitoral hoje, é quando alguém me pergunta se eu vou votar em fulano (não cito o nome de um candidato, porque temo que esse texto venha a valer para, pelo menos, para mais cinqüenta anos) e eu respondo que não. Então a pessoa acha que vou votar no outro candidato. Não lhe passa pela cabeça que eu não quero nem um, nem o outro candidato.
Essa é a lógica do terceiro excluído conhecida como a lei do terceiro excluído (em latim resumida na expressão tertium non datur), é um princípio cujo enunciado consiste no seguinte: "ou A é x ou é y e não há terceira possibilidade".
Nessa lógica uma proposição só pode ser verdadeira se não for falsa e só pode ser falsa se não for verdadeira, porque o terceiro valor é sempre excluído.
Mas como? Não tem um terceiro candidato? É verdade não tem um terceiro candidato, mas deveria haver uma terceira opção que fosse válida. O problema é que a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 que instituiu o Código Eleitoral, não previu a alternativa de escolha de uma terceira possibilidade. A Lei é clara, somente são votos validos os computados para um e para outro candidato. Faltar, errar, votar nulo ou em branco (que voto mais inútil!); não constituem votos válidos e, portanto não alteram o resultado final. O que é uma pena!
Sistemas que vão além dessas duas distinções entre verdadeiro e falso, são conhecidos como lógicas não-aristotélicas, ou lógica de vários valores, ou então lógicas polivaluadas, ou ainda polivalentes.
No início do século 20, Jan Łukasiewicz investigou a extensão dos tradicionais valores verdadeiro/falso para incluir um terceiro valor, "possível".
Acredito que num país dito democrático, poder não aceitar os candidatos postos deveria ser um ato de cidadania. Se a soma dos votos inválidos ultrapassarem os cinqüenta por cento mais um dos eleitores cadastrados, isto por si só, já indica a não aceitação dos candidatos pelo eleitorado. O desinteresse é, para mim, uma prova inequívoca de que os candidatos não convencem o eleitorado e não merecem, portanto serem eleitos. Não importa o que o eleitor prefere fazer; ir à praia, ao boteco encher a cara, viajar ou simplesmente não fazer nada. Ele não quer é participar da farsa instituída. Está desinteressado. E eu prefiro pensar num desinteresse ativo, positivo e afirmativo. E portanto POSSÍVEL.
Também não me interessa pensar numa lógica do tipo: “vou votar no menos ruim”, como se o menos ruim fosse algo que valesse a pena. Para mim a lógica do pior vem de um outro registro. Com Clement Rosset eu aprendi sobre a lógica do pior é que “A filosofia torna-se assim um ato destruidor e catastrófico: o pensamento aqui em ação tem por propósito desfazer, destruir, dissolver - de maneira geral, privar o homem de tudo aquilo de que este se muni intelectualmente a título de provisão e de remédio em caso de desgraça. Tal como o navio pelo qual Antonin Artaud, no início do Teatro e seu duplo, simboliza o teatro, ele traz aos homens não a cura, mas a peste. Assim apareceram sucessivamente no horizonte da cultura ocidental pensadores como os Sofistas, como Lucrécio, Montaigne, Pascal ou Nietzsche - e outros. Pensadores terroristas e lógicos do pior: sua preocupação comum paradoxal é a de conseguir pensar e afirmar o pior. A inquietude aqui mudou de rota: o cuidado não é mais de evitar ou superar um naufrágio filosófico, mas torná-lo certo e inelutável, eliminando, uma após outra, todas as possibilidades de escapatória. Se há uma angústia no filósofo terrorista, é a de passar sob silêncio tal aspecto absurdo do sentido admitido ou tal aspecto derrisório do sério vigente, de esquecer uma circunstância agravante, enfim de apresentar do trágico um caráter incompleto e superficial. Assim considerado, o ato da filosofia é por natureza destruidor e desastroso.” Mas não se pode pensar assim na política brasileira, pelo menos. Acredito que não.
Em 2001 eu votei, pela última vez, nas eleições presidenciais, por decisão pessoal e por não ter em quem votar. Votei na esperança de mudança e no fim da corrupção (eram essas as promessas). O que aconteceu? Fui traído e fiquei sem ter em quem acreditar. Pergunto-me se o que eu tenho vivido nos últimos anos pode ser denominado de política.
Segundo a Wikipédia, política é a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; aplicação desta arte aos negócios internos da nação (política interna) ou aos negócios externos (política externa). Nos regimes democráticos, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância.
Essa palavra tem origem nos tempos em que os gregos estavam organizados em cidades-estado chamadas "polis", nome do qual se derivaram palavras como "politiké" (política em geral) e "politikós" (dos cidadãos, pertencente aos cidadãos), que estenderam-se ao latim "politicus" e chegaram às línguas européias modernas através do francês "politique" que, em 1265 já era definida nesse idioma como "ciência do governo dos Estados".
“O homem é um animal político.” É? Não sei...
Por tudo isso, eu reinvidico a presença do terceiro incluído no processo eleitoral, ou seja, mudar a rota desse processo, para que haja um mecanismo de validação para quem não aceita nenhum dos candidatos em qualquer que seja o escrutínio e com as devidas conseqüências que o Código Eleitoral vier a prever.
Votar é escolher e escolher é também poder renunciar.
05 maio 2010
AMIGO, QUE PAPO É ESSE?
Indagado sobre quais seriam os limites do amor e do sexo, ponderei: será que eu sei? A pessoa que indaga se diz carente, está descasada há anos, não consegue um namorado firme e quer saber se é possível ir para a cama com um amigo que quer “comê-la” a todo custo e ainda assim continuar amigo. Investiga se isso é possível, ou se só é possível fazer isso com um colega, que considera uma categoria menor, mais distante, ou com um amante/namorado, cuja implicação é óbvia.
O que sabemos nós sobre amizade, coleguismo e amor quando o interesse pelo sexo entra justamente para dar conta de uma carência? Parece que essa distinção nos impede de ver o que é comestível ou não. Todos são comestíveis e se comidos não há porque mudar a categoria, o que até pode acontecer. É que quando o comer confunde a cabeça do comedor e/ou do comido, este corre perigo de naufragar.
Só para lembrar o grande poeta português Fernando Pessoa “navegar é preciso, viver não é preciso”. Isso define a precisão de métodos e instrumentos para navegar, enquanto que para viver basta viver. Ainda com esse mesmo autor, no Poema do amigo aprendiz
Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias…
Às vezes sou obrigado a me render a Roberto Carlos, embora não o aprecie a miúde, e assentar o poema de Erasmo Carlos, Amada amante
(…) faz da vida um instante
ser demais para nós dois
esse amor sem preconceito
sem saber o que é direito
faz a suas próprias leis
que flutua no meu leito
que explode no meu peito
e supera o que já fez (…)
Talvez por tudo isso fique tão confuso ser amigo, colega ou amante e depois de uma relação sexual reconhecer-se como tal.
Ainda bem que somos humanos para compreender o amor como forma de aproximação entre pessoas e a sua capacidade lúdica de trocas e prazeres. Uma atividade pulsional que ultrapassa uma simples união para procriação e perpetuação da espécie.
O artigo: “A Linguagem Interminável dos Amores”, da psicanalista Olivia Bittencourt Valdivia apresenta uma indicação da relação entre o amor e a sexualidade, numa visão psicanalítica e também que "...um Freud humano e apaixonado nos deixa os mapas de sua exploração." Este em seu percurso amoroso e sensual e autorizado por uma longa experiência clínica, há muito se interrogava sobre a vida amorosa dos homens.
Em fins do século XIX tentando entender a histérica percebeu que talvez ela quisesse dizer alguma coisa com o seu corpo. Alguma coisa que não conseguia dizer com palavras. E a histérica falou do sexo, do amor, do ódio e da culpa. Freud, inaugurou o lugar da Psicanálise, que é na verdade o lugar de uma relação de amor. Nesta relação a libido refaz seus caminhos até a possibilidade de uma relação de amor com o analista, que abre esta possibilidade para a vida do analisando. Freud revolucionou a compreensão da noção de sexualidade colocando o sexual no registro do pulsional, estabelecendo a ideia de uma impossibilidade de satisfação, só encontrada através da fantasia.”
Para o filosofo, “Só sei que nada sei” não é a divisa da filosofia e muito menos um apelo à ignorância, mas uma provocação àqueles que se apresentam como sábios e detentores das verdades. Na boca de Sócrates, “só sei que nada sei” é a expressão da ironia, essa arma filosófica apontada ao ridículo dos sábios fechados em si mesmos, prepotentes, pomposos.
Ontem como hoje, são muitos esses sábios que se tomam a sério e querem que os tomemos também, mas que são incapazes de partilhar conosco os segredos desses saberes que dizem possuir.
Portanto amigo, que papo é esse?
O que sabemos nós sobre amizade, coleguismo e amor quando o interesse pelo sexo entra justamente para dar conta de uma carência? Parece que essa distinção nos impede de ver o que é comestível ou não. Todos são comestíveis e se comidos não há porque mudar a categoria, o que até pode acontecer. É que quando o comer confunde a cabeça do comedor e/ou do comido, este corre perigo de naufragar.
Só para lembrar o grande poeta português Fernando Pessoa “navegar é preciso, viver não é preciso”. Isso define a precisão de métodos e instrumentos para navegar, enquanto que para viver basta viver. Ainda com esse mesmo autor, no Poema do amigo aprendiz
Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias…
Às vezes sou obrigado a me render a Roberto Carlos, embora não o aprecie a miúde, e assentar o poema de Erasmo Carlos, Amada amante
(…) faz da vida um instante
ser demais para nós dois
esse amor sem preconceito
sem saber o que é direito
faz a suas próprias leis
que flutua no meu leito
que explode no meu peito
e supera o que já fez (…)
Talvez por tudo isso fique tão confuso ser amigo, colega ou amante e depois de uma relação sexual reconhecer-se como tal.
Ainda bem que somos humanos para compreender o amor como forma de aproximação entre pessoas e a sua capacidade lúdica de trocas e prazeres. Uma atividade pulsional que ultrapassa uma simples união para procriação e perpetuação da espécie.
O artigo: “A Linguagem Interminável dos Amores”, da psicanalista Olivia Bittencourt Valdivia apresenta uma indicação da relação entre o amor e a sexualidade, numa visão psicanalítica e também que "...um Freud humano e apaixonado nos deixa os mapas de sua exploração." Este em seu percurso amoroso e sensual e autorizado por uma longa experiência clínica, há muito se interrogava sobre a vida amorosa dos homens.
Em fins do século XIX tentando entender a histérica percebeu que talvez ela quisesse dizer alguma coisa com o seu corpo. Alguma coisa que não conseguia dizer com palavras. E a histérica falou do sexo, do amor, do ódio e da culpa. Freud, inaugurou o lugar da Psicanálise, que é na verdade o lugar de uma relação de amor. Nesta relação a libido refaz seus caminhos até a possibilidade de uma relação de amor com o analista, que abre esta possibilidade para a vida do analisando. Freud revolucionou a compreensão da noção de sexualidade colocando o sexual no registro do pulsional, estabelecendo a ideia de uma impossibilidade de satisfação, só encontrada através da fantasia.”
Para o filosofo, “Só sei que nada sei” não é a divisa da filosofia e muito menos um apelo à ignorância, mas uma provocação àqueles que se apresentam como sábios e detentores das verdades. Na boca de Sócrates, “só sei que nada sei” é a expressão da ironia, essa arma filosófica apontada ao ridículo dos sábios fechados em si mesmos, prepotentes, pomposos.
Ontem como hoje, são muitos esses sábios que se tomam a sério e querem que os tomemos também, mas que são incapazes de partilhar conosco os segredos desses saberes que dizem possuir.
Portanto amigo, que papo é esse?
02 maio 2010
SOBRE O TEMPO
reflexão sobre o tempo
e se perguntar ao tempo
quanto tempo que o tempo tem?
o tempo te dirá
que o tempo tem, o tempo
que o tempo tem!
isso todo mundo sabe,
mas desde quando?
há muito tempo,
diria o tempo.
buscando o tempo que ainda não havia.
mas pelo tempo que percorria
deveria ir mais depressa!
mas por que correr
com o tempo?
o tempo que espere!
ele tem mais tempo que eu!
afinal ele está aí o tempo todo.
eu é que ia seguindo devagar
no passo do meu tempo
percorrendo as minhas distancias
de ontem, de agora, ainda...
mas não saberia como percorrer o amanhã
e o tempo me dizia: calma!
amanhã a gente vê!
na minha calma esperei.
o amanhã,
a vinda,
a busca,
e nada havia.
não havia o havia!
não parei e engoli
em seco o hoje.
vou dormir.
o amanhã,
amanhã a gente vê!
03 abril 2010
MARAVILHA EM M
maravilha em m
minhas mãos mandam muito.
mandam morder o mundo
mudando o mistério
dos monstros.
mascarados miram mandatos,
maltratam maridos e mulheres,
mulatos e matutos mamelucos.
maltrapilhos maldizem
a malandragem malvada
dos muitos miseráveis metidos.
mães marias, moças marlenes e
meninas marílias mentem menos.
marcam musas musicais,
melodias e missas menores.
mas minhas mãos mandaram
mexer, misturar e molhar
moldar medidas mínimas
das maravilhas mutantes.
28 março 2010
VERGONHA
sobre a vergonha
essa vergonha guardada no peito,
corta a carne de forma letal.
se isso em si é um defeito,
exclui da vida o real.
é preciso ser livre e incógnito,
no mundo em que a massa encobre.
pois a vergonha não é um grito do cógito,
nem a máscara de uma vida nobre.
é talvez uma possibilidade imovente
de profunda tristeza calma
grudada num peito ardente!
seria covardia pois, calar a mente
escondendo no fundo da alma
o que de mais pungente se sente?
08 março 2010
ÀS MULHERES DA MINHA VIDA
o dia internacional da mulher
é uma data importante. historicamente sabemos.
mas afetivamente esquecemos
no dia a dia.
neste ano resolvi refletir
sobre todas as mulheres que, de algum modo,
me trouxeram até aqui
e prestar a minha singela e justa homenagem.
à minha mãe, minhas irmãs, tias e primas.
professoras, coleguinhas da escola
infantil, na juventude e na fase adulta.
primeiras mulheres da minha vida.
à minha esposa, minha filha, sobrinhas,
cunhadas e amigas,
Audrey Hepburn minha “bonequinha de luxo”,
de Elizete Cardoso a sua voz me encantou,
de Lou Andreas Salomé a sua imagem e ousadia,
com Marta Medeiros aos domingos na revista,
Mariá, minha primeira analista,
Nazareth que servia o cafezinho
e muitas outras mulheres povoaram
a minha vida e o meu imaginário
como minhas namoradas reais ou virtuais.
devo a vocês a minha vida afetiva,
profissional e intelectual, a minha existência,
a formação da minha subjetividade.
todas vocês merecem meu respeito e devoção,
pelos seus valores individuais e pessoais.
e exemplos de coragem e virtude.
no seu dia, meus parabéns!
28 fevereiro 2010
AQUELE
aquele
nem todos os que te amam,
te querem. nem todos que
te querem, te amam. nem todos
que te dizem sim, concordam contigo.
ou todos os que te olham, te vêem.
aqueles que te marcaram,
que te buscaram,
te maltrataram,
ou te xingaram....
ou aqueles...
ou apenas aquele...
não importa!
merece ser visto de outro modo.
talvez do modo como te vê.
16 fevereiro 2010
QUERER VIVER...
querer viver...
traído pelo seu corpo, quer.
chorar sem tem lágrimas,
correr como? se não tem pernas.
comer, sem dentes... tem?
e ler, não tem olhos para isso
(onde estão seus óculos?).
ah, aquela música!
não a ouve!
seus pensamentos!
escrever..., mas não tem palavras.
aquilo que... aconteceu...
não se lembra... como foi...?
sua memória.... onde está?
ah, aquela música!
não ouve mais!
o rosto... pelo menos isso!
seu coração não o vê mais!
já não bate mais descompassado!
o rosto é uma bolinha azul
como no perfil do MSN.
aquela música!
musica deles, nunca mais ouviu!
ali, deitado olha o teto
branco e não azul,
as vezes rostos de pessoas.
não as reconhece. ou conhece? sbe-se lá!
ao longe um ruído surdo, como se
uma gota entrasse em si.
ping-ping-pong-pong-pon...
a música!
aquela..., nunca mais....
30 dezembro 2009
A TEIA
assim como a aranha,
tece a vida.
suporte de uma odisséia
que varre o pensamento
para longe, numa quimera!
tece devagar
como quem tece
uma renda, trançada,
ou uma prenda ousada.
só espera que um coração
caia nela como um mosquito.
então o captura e o ama
até a última gota!
assim como quem tece a teia,
tece o amor!
10 setembro 2009
FREUD EXPLICA RESPONDE – O amigo e a onça
Marcondes Carlos pergunta
Sou estudante de Psicologia e gostaria de saber o que Fred faria nesse caso.
Você está com um amigo e só os mesmos estão em uma ilha deserta, além de vocês dois existe uma onça. Com isso fizemos um buraco para que a onça pudesse cair só que ao invés da mesma cair, quem caiu foi o meu amigo. O que irei fazer para capturar a onça e salvar meu amigo?
Gostaria muito de sua opinião.
Obrigado desde já.
Freud explica responde
Corrija-me se eu estiver errado. Você gostaria de saber o que Fre(u)d(?) explicaria?
Você misturou vários pronomes, mas quero crer que se trata da hipótese de alguém ter o seu amigo caído num buraco escavado para capturar uma onça. Você se indaga sobre o que você vai fazer para salvar o amigo e capturar a onça, mas não nos dá a menor ideia do que pode ser pensado, nem dos sentimentos que perpassam essa situação. Portanto não sei se cabe uma explicação freudiana, mas vamos lá.
Ao escrever O mal-estar na civilização (1930), Freud apontou três grandes males que afetam o homem. As forças da natureza e as doenças (que não vamos tratar aqui) e ainda a sua relação com o outro. Essa terceira foi apontada por ele como a mais terrível força capaz de aniquilar a humanidade.
Desde os primórdios da civilização o homem quis ter ou ser o que o outro tem ou é, seja no campo afetivo quanto material. Estabeleceu relações de poder, daí as formações das guerras, das traições e outras manifestações que põem em risco a estabilidade possível entre as pessoas. As relações de amizade sugerem uma posição contrária a esse pressuposto. Daí o direito e a moral religiosa criarem normas para as condutas dos homens.
Chaim Samuel Katz pensa a amizade como uma possibilidade de diferenciação que se oferece a si e ao outro. Ele se baseia em Freud para explicar como as mais fortes relações familiares existentes, são as que se fazem em torno da autoridade e da função paterna. O grupo familiar estabelece como cada indivíduo conhece seu lugar na estrutura de parentesco. Antes mesmo de nascer, já existem posições e escolhas determinadas, ao menos de filho. Amor e ódio ocupam lugares com figuras e objetos determinados.
Para ele, o que se conhece como família se funda nas relações de aliança, filiação e consanguinidade. Funciona como uma rede. Rede essa que obrigaria os afetos e as suas ligações. Ela não depende do nascimento imediato e fisiológico. Contudo é permanente, organizando-se em torno das relações familiares. Para a psicanálise, os afetos provêem destas relações, que se organizam em torno de um evento não-sensível.
Para nós humanos, de família burguesa, humilde ou asilar, não importa, já nascemos também com uma crença em Deus; uma religião; uma profissão, um sexo – que não irá corresponder necessariamente com o biológico; um time para torcer; uma circuncisão e/ou um bar mitzvah; uma primeira comunhão. Em algumas regiões da Índia, as meninas já nascem com marido indicado. Uma escolha ulterior muitas vezes se torna difícil, graças aos reforços como uma foto da criança com a camisa do time do pai, uma foto do batismo com seus padrinhos, ou do bar mitzvah, etc. O pior reforço talvez seja uma reprovação como: “não faça isso que papai-do-céu-castiga”. Obriga a criança a uma crença feita pelo medo. Talvez essa forma de “não-escolha” também influencie na relação de amizade.
Estão na linguagem e no dito popular, as formas mais diferenciadas de se organizar e sentir. Os apelidos mudam, de acordo com as relações afetivas, de poder e de interesse. Formam-se novas configurações familiares, novas configurações de amizade. Enquanto os irmãos e tias familiares serão sempre os mesmos na estrutura de parentesco, por mais que os abandonemos e recusemos. É preciso considerar novas ordens de famílias, onde um segundo casamento impõe novos manos e tias, por exemplo. Os casamentos entre homossexuais impõem dois pais masculinos ou duas mães femininas, mas também "exigem" uma hierarquia de relações e afetos que tende a se perpetuar.
Não se pode perder de vista que qualquer laço libidinal, por mais distanciado e respeitoso que possa ser, quer possuir e anexar o próximo e anular seu estatuto atual. Contudo, o amigo pretende criar e transformar a si próprio. A amizade precisa suportar diferenças extremas, o inusitado que se apresenta como adversidade. Não espera que só venham formas de um único amor para unir os amigos. As amizades são feitas de um material mais duro, de diferenças e de dissensões.
Num poema eu coloquei: Os ingredientes principais são: / pessoas, diferenças, paixão e humor. / Paciência, tolerância, bom senso. / Tempo, carinho e dinheiro entram também. // O modo de preparar é muito simples. / Só exige atenção e generosidade. / Dispensa preconceito e racismo, / mas deve ser praticada desde a infância. São, na verdade, apenas alguns dos “ingredientes” necessários para se fazer uma amizade, que eu destacaria aqui.
Contudo a sua questão propõe uma situação na qual os dois amigos estão isolados e em perigo frente à ameaça da onça e, portanto da morte. Numa aliança cavam um buraco a fim de aprisionar a onça. Com a queda do amigo nesse buraco nova configuração se faz necessária. Novos agenciamentos se impõem. Quem está fora do buraco ficou mais vulnerável, pois ficou sozinho. Quem caiu no buraco está em situação ainda pior. Por ser um limite, o buraco impõe privações de toda ordem e pior ainda se a onça também cai ali. O que é de se esperar.
Ao pensar numa solução ideal, o amigo iria procurar retirar o amigo, até porque fortaleceria a sua própria defesa. Mas há também a pulsão de sobrevivência que é instintual e forçará ao que está fora do buraco a criar outra solução que pode não incluir o amigo perdido.
Situações como essa nos acontecem muitas vezes no cotidiano. O buraco surge como metáfora de uma situação de solução, digamos, “impossível”. Ao mudar os planos de ação muitas vezes as amizades são esquecidas ou quebradas para atender a um novo “plano de sobrevivência”.
Saint-Exupéry em “Terre des homme” (Terra dos homens), inverteu essa questão justo quando se encontrou só e perdido no deserto em Dacar, após um desastre de avião. Ele criou um meio de sobrevivência quando estabeleceu: “tenho que sobreviver, porque sei que meus amigos esperam isso de mim”.
O pernambucano Péricles Andrade Maranhão ficou conhecido com o personagem “o amigo da onça” criado a partir da anedota em que dois caçadores conversavam sobre um modo de sobreviver diante da ameaça de uma onça. Sempre que um oferecia uma solução, o outro apresentava uma nova ameaça. Finalmente ele diz: - Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?
Péricles Maranhão viveu com todas as possibilidades do seu tempo e o que o sucesso lhe ofereceu, além de estar longe da família e numa cidade como o Rio de Janeiro. Logo desenvolveu uma personalidade instável, irritadiça e se tornou um boêmio inveterado. Vivia próximo da embriagues. O seu personagem tornou-se maior do que ele. Então escolheu morrer de forma trágica. Na noite de 31 de dezembro de 1961. Vestido como o seu personagem escreveu dois bilhetes. Fechou todas as portas do seu apartamento, ligou o gás e foi deitar-se no sofá. Num ele reclamava da solidão. E como um último toque de humor, foi colocar o outro na porta, pelo lado de fora, escrito à mão: "Não risquem fósforos".
Sou estudante de Psicologia e gostaria de saber o que Fred faria nesse caso.
Você está com um amigo e só os mesmos estão em uma ilha deserta, além de vocês dois existe uma onça. Com isso fizemos um buraco para que a onça pudesse cair só que ao invés da mesma cair, quem caiu foi o meu amigo. O que irei fazer para capturar a onça e salvar meu amigo?
Gostaria muito de sua opinião.
Obrigado desde já.
Freud explica responde
Corrija-me se eu estiver errado. Você gostaria de saber o que Fre(u)d(?) explicaria?
Você misturou vários pronomes, mas quero crer que se trata da hipótese de alguém ter o seu amigo caído num buraco escavado para capturar uma onça. Você se indaga sobre o que você vai fazer para salvar o amigo e capturar a onça, mas não nos dá a menor ideia do que pode ser pensado, nem dos sentimentos que perpassam essa situação. Portanto não sei se cabe uma explicação freudiana, mas vamos lá.
Ao escrever O mal-estar na civilização (1930), Freud apontou três grandes males que afetam o homem. As forças da natureza e as doenças (que não vamos tratar aqui) e ainda a sua relação com o outro. Essa terceira foi apontada por ele como a mais terrível força capaz de aniquilar a humanidade.
Desde os primórdios da civilização o homem quis ter ou ser o que o outro tem ou é, seja no campo afetivo quanto material. Estabeleceu relações de poder, daí as formações das guerras, das traições e outras manifestações que põem em risco a estabilidade possível entre as pessoas. As relações de amizade sugerem uma posição contrária a esse pressuposto. Daí o direito e a moral religiosa criarem normas para as condutas dos homens.
Chaim Samuel Katz pensa a amizade como uma possibilidade de diferenciação que se oferece a si e ao outro. Ele se baseia em Freud para explicar como as mais fortes relações familiares existentes, são as que se fazem em torno da autoridade e da função paterna. O grupo familiar estabelece como cada indivíduo conhece seu lugar na estrutura de parentesco. Antes mesmo de nascer, já existem posições e escolhas determinadas, ao menos de filho. Amor e ódio ocupam lugares com figuras e objetos determinados.
Para ele, o que se conhece como família se funda nas relações de aliança, filiação e consanguinidade. Funciona como uma rede. Rede essa que obrigaria os afetos e as suas ligações. Ela não depende do nascimento imediato e fisiológico. Contudo é permanente, organizando-se em torno das relações familiares. Para a psicanálise, os afetos provêem destas relações, que se organizam em torno de um evento não-sensível.
Para nós humanos, de família burguesa, humilde ou asilar, não importa, já nascemos também com uma crença em Deus; uma religião; uma profissão, um sexo – que não irá corresponder necessariamente com o biológico; um time para torcer; uma circuncisão e/ou um bar mitzvah; uma primeira comunhão. Em algumas regiões da Índia, as meninas já nascem com marido indicado. Uma escolha ulterior muitas vezes se torna difícil, graças aos reforços como uma foto da criança com a camisa do time do pai, uma foto do batismo com seus padrinhos, ou do bar mitzvah, etc. O pior reforço talvez seja uma reprovação como: “não faça isso que papai-do-céu-castiga”. Obriga a criança a uma crença feita pelo medo. Talvez essa forma de “não-escolha” também influencie na relação de amizade.
Estão na linguagem e no dito popular, as formas mais diferenciadas de se organizar e sentir. Os apelidos mudam, de acordo com as relações afetivas, de poder e de interesse. Formam-se novas configurações familiares, novas configurações de amizade. Enquanto os irmãos e tias familiares serão sempre os mesmos na estrutura de parentesco, por mais que os abandonemos e recusemos. É preciso considerar novas ordens de famílias, onde um segundo casamento impõe novos manos e tias, por exemplo. Os casamentos entre homossexuais impõem dois pais masculinos ou duas mães femininas, mas também "exigem" uma hierarquia de relações e afetos que tende a se perpetuar.
Não se pode perder de vista que qualquer laço libidinal, por mais distanciado e respeitoso que possa ser, quer possuir e anexar o próximo e anular seu estatuto atual. Contudo, o amigo pretende criar e transformar a si próprio. A amizade precisa suportar diferenças extremas, o inusitado que se apresenta como adversidade. Não espera que só venham formas de um único amor para unir os amigos. As amizades são feitas de um material mais duro, de diferenças e de dissensões.
Num poema eu coloquei: Os ingredientes principais são: / pessoas, diferenças, paixão e humor. / Paciência, tolerância, bom senso. / Tempo, carinho e dinheiro entram também. // O modo de preparar é muito simples. / Só exige atenção e generosidade. / Dispensa preconceito e racismo, / mas deve ser praticada desde a infância. São, na verdade, apenas alguns dos “ingredientes” necessários para se fazer uma amizade, que eu destacaria aqui.
Contudo a sua questão propõe uma situação na qual os dois amigos estão isolados e em perigo frente à ameaça da onça e, portanto da morte. Numa aliança cavam um buraco a fim de aprisionar a onça. Com a queda do amigo nesse buraco nova configuração se faz necessária. Novos agenciamentos se impõem. Quem está fora do buraco ficou mais vulnerável, pois ficou sozinho. Quem caiu no buraco está em situação ainda pior. Por ser um limite, o buraco impõe privações de toda ordem e pior ainda se a onça também cai ali. O que é de se esperar.
Ao pensar numa solução ideal, o amigo iria procurar retirar o amigo, até porque fortaleceria a sua própria defesa. Mas há também a pulsão de sobrevivência que é instintual e forçará ao que está fora do buraco a criar outra solução que pode não incluir o amigo perdido.
Situações como essa nos acontecem muitas vezes no cotidiano. O buraco surge como metáfora de uma situação de solução, digamos, “impossível”. Ao mudar os planos de ação muitas vezes as amizades são esquecidas ou quebradas para atender a um novo “plano de sobrevivência”.
Saint-Exupéry em “Terre des homme” (Terra dos homens), inverteu essa questão justo quando se encontrou só e perdido no deserto em Dacar, após um desastre de avião. Ele criou um meio de sobrevivência quando estabeleceu: “tenho que sobreviver, porque sei que meus amigos esperam isso de mim”.
O pernambucano Péricles Andrade Maranhão ficou conhecido com o personagem “o amigo da onça” criado a partir da anedota em que dois caçadores conversavam sobre um modo de sobreviver diante da ameaça de uma onça. Sempre que um oferecia uma solução, o outro apresentava uma nova ameaça. Finalmente ele diz: - Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?
Péricles Maranhão viveu com todas as possibilidades do seu tempo e o que o sucesso lhe ofereceu, além de estar longe da família e numa cidade como o Rio de Janeiro. Logo desenvolveu uma personalidade instável, irritadiça e se tornou um boêmio inveterado. Vivia próximo da embriagues. O seu personagem tornou-se maior do que ele. Então escolheu morrer de forma trágica. Na noite de 31 de dezembro de 1961. Vestido como o seu personagem escreveu dois bilhetes. Fechou todas as portas do seu apartamento, ligou o gás e foi deitar-se no sofá. Num ele reclamava da solidão. E como um último toque de humor, foi colocar o outro na porta, pelo lado de fora, escrito à mão: "Não risquem fósforos".
01 setembro 2009
IDENTIDADE PERDIDA
José Américo Rodrigues Palhares, aprendeu a dirigir caminhão quando ainda era muito pequeno. Seu tio tinha um caminhão de entregas e vez por outra o levava a passear colocando-o no colo. A paixão pelo volante e principalmente por caminhões vem desta época e influenciou na escolha da sua profissão.
Palhares mora numa pacata cidade do interior vive em errância, rodando por todo o país, levando e trazendo mercadorias pequenas ou grandes. Cada viagem dura cerca de um mês, entre ida e volta. Tudo é sempre programado. Toda vez que sai para uma destas viagens, Anunciata de Jesus, sua mulher, lhe prepara um farnel que dá para uns dois dias. Mas acostumado como está com a estrada, não se intimida se dorme, ou se come mal. Não é de beber pinga em serviço, mas gosta mesmo é de tomar uma “rasteirinha” com torresmo e farofa antes do almoço.
- É a “abrideira”! É para abrir o apetite - ele sempre fala assim.

Uma vez, entre o intervalo de uma viagem e outra, ele saiu com os amigos para festejar a vitória do seu time de futebol - É vascaíno doente. Era tanta cerveja e churrasco que a farra foi até tarde da noite.
Quando chegou em casa notou que perdeu todos os documentos. Não soube explicar depois, como eles foram achados espalhados em lugares diferentes e distantes uns dos outros. Todos os documentos foram recuperados, até mesmo um "santinho" de São Cristóvão que, às vezes ele usava preso no guarda sol do seu caminhão com elástico. Só não achou a sua carteira de identidade. Ele ainda esperou um mês para ver se ela aparecia, como não apareceu, tirou outra. Vaidoso, ele aproveitou um dia de festa da padroeira na igreja, para tirar uma foto colorida para a sua nova carteira.
Durante uma pequena viagem, sentindo muito calor, Palhares resolveu parar em um bar de beira de estrada e pediu uma garrafa de água mineral, enquanto era servido, puxou o lenço para enxugar a testa de suor. Percebeu uma carteira de identidade pendurada no vidro do caixa que parecia com a sua perdida. Perguntou:
- Moço, posso ver este documento?
- Claro, aqui está. É sua? - perguntou sem verificar.
- É sim, eu perdi faz muito tempo num lugar bem longe. Não sei como ela veio parar aqui.
- Alguém entregou. Se for sua, pode levar - respondeu o caixa.
A partir deste momento, uma coisa muito estranha invadiu-lhe a alma. Podia-se dizer que ficou muito feliz por ter encontrado a sua carteira, um pouco mais estragada, é verdade, mas era mesmo sua. Agora possuía duas carteiras de identidade. Estava perplexo. Comparou seu retrato nas duas carteiras. Eram bem diferentes. Agora ele tinha uma cara mais séria do que quando era mais jovem.
Quando chegou em casa, a primeira coisa que fez foi mostrar para Anunciata o seu achado.
- Vamos guardar esta carteira nova, já que não vou mais precisar dela - colocou-a numa gaveta da cômoda do seu quarto.
- É, quem sabe você ainda vai precisar dela um dia? - acrescentou Anunciata.
“E o pior é que agora eu sou dois”, pensou Palhares sem ter coragem de dizer.
Sua vida transcorria normalmente, até que um dia, fez uma vigem junto com outros companheiros em comboio e já passava uma semana, quando de repente, ele parou o seu caminhão no meio da estrada. Seus companheiros de viagem, preocupados com aquela parada brusca e sem motivo, correram em seu socorro. Encontraram-no parado com o olhar fixo, perdido em um ponto distante.
- O que aconteceu, homem? Responda! - insistiam os colegas, sem obter qualquer resposta.
Preocupados, levaram-no a um hospital na cidade mais próxima. Os médicos que o examinaram não encontraram nada que justificasse aquele silêncio em que Palhares se encontrava imerso, sem responder a qualquer pergunta nem sequer dizer o seu próprio nome.
Foi levado de volta para sua casa e lá continuou mudo; não falou com Anunciata nem com seus três filhos, ainda pequenos. Os médicos e os amigos ficaram atônitos, sem entender o que estava lhe acontecendo.
Colocado em sua cama, dormiu profundamente. No dia seguinte quando acordou, viu o seu rosto projetado no espelho que ficava estrategicamente posto em frente à sua cama, deu um grito alucinante, pondo-se de pé imediatamente parando-se diante da cômoda. Olhou para a gaveta da cômoda e rapidamente saiu do quarto. Durante um bom tempo não voltou lá nem saiu de casa.
A partir daquele dia, Palhares passou a dormir na sala e quando precisava de alguma coisa que estivesse no quarto, pedia, com gestos, para alguém ir lá buscar. Para ele, havia “um outro” ali. Mandou até tirar o espelho do banheiro e passava o dia inteiro perambulando pela casa, em silêncio. Abria os armários e gavetas como se estivesse procurando alguma coisa. Anunciata ficava irritada com ele, pois não estava acostumada com a sua presença em casa por muito tempo, nem com aquela situação. Ainda por cima, ele desarrumava tudo na casa. Vivia sempre com a mesma roupa, barba por fazer e aquele olhar perdido. Mal comia e não tomava banho. Todos já estavam à beira de um ataque dos nervos.
À noite, na hora de dormir, quando via sua mulher ir para o quarto, ele era tentado a imaginar que ela iria dormir com outro homem. Vez por outra ele balbuciava algumas palavras desconexas. Vivia na janela olhando um ponto perdido no espaço. Um gesto mais brusco ou agressivo que ele tivesse, parecia que o tiraria daquele estado. Nada acontecia. Não chegava perto da janela ao anoitecer. Desviava o olhar de qualquer superfície que pudesse refletir a sua imagem ou mesmo uma sombra. Não falava com ninguém, nem com os familiares, nem com os médicos que o atendiam em sua casa.
Todos os dias, pela manhã, quando sua mulher saía do quarto, ele já estava lá, plantado à soleira da porta. O seu olhar era de dar medo. Seguia-a durante todo tempo e sempre em silêncio.
Esta situação insuportável já durava pouco mais de um ano que viviam da ajuda dos seus colegas. Anunciata desconfiava que ele tivesse ficado assim porque encontrou a carteira de identidade. Possuía agora duas carteiras. Ela não conseguia falar sobre isso com ninguém, ou porque ele a impedia com um “psssiiitt”, ou porque ela mesma não tinha muita convicção dessa idéia, aquilo era muito estranho para ela também.
Ultimamente, porém, ele já se asseava mais. Tomava banho, mas não fazia a barba e saía para pequenos passeios perto de casa. Sempre que cruzava com alguém que lhe dirigisse a palavra ou o olhar, tirava a sua velha carteira de identidade do bolso e mostrava, como um árbitro de futebol exibindo um cartão de advertência.
Um belo dia, ele passeava acompanhado da esposa quando, sem se dar conta, foi em direção a uma vitrine vendo a imagem de alguém que lhe era muito familiar se aproximando dele. Quando ele já estava bem perto da vitrine, olhou fixamente aqueles olhos que também o olhava. Ficou ali por alguns instantes, parado, com olhar perdido para aquela figura, quando, de repente, deu um passo para trás e com um grito de horror caiu desmaiado ali mesmo na rua, sendo acudido por sua mulher. Foi levado para casa e logo chamaram o médico que o atendeu no primeiro episódio. Este acalmou os familiares, pois não havia necessidade de ser internado.
Anunciata deu-lhe um banho, fez a sua barba e colocou-o na sua cama onde logo adormeceu. Pondo-se à sua cabeceira rezou o terço até a noitinha. Sem saber porque, pegou as duas carteiras de identidade. Alguma coisa esquisita lhe dizia que ela deveria destruir uma delas. Olhava as carteiras e se perguntava: “qual?”. A mais nova talvez, pensava. Não, essa não, afinal de contas ele não a vê desde que a colocou na gaveta. A velha talvez seja melhor, já está toda quebrada mesmo. Sem perceber já estava com a tesoura na mão picotando essa carteira.
Foi tomada por um susto enorme diante daquela atitude e entrou em pânico. “E agora, o que é que eu vou fazer com estes pedacinhos?”. Pensou: "se jogar fora, talvez seja pior, ele não iria (irá) saber o que aconteceu com ela", achou melhor guardar na gaveta junto com a outra. Foi o que ela fez.
A noite transcorreu sem novidades. No dia seguinte, bem cedo, Anunciata já havia se levantado quando viu Palhares abrindo os olhos. Sua aparência era de calma e serenidade, já não tinha mais aquele olhar desconfiado e assustador de antes. Vendo a sua imagem no espelho a frente da cama, sem dizer nada, levantou-se indo até a gaveta da cômoda, abriu-a e deparou-se com as duas carteiras juntas, uma inteira e a outra picotada, pegando-as sem entender o que havia acontecido.
Olhou o retrato da carteira nova. Olhou-se de novo no espelho, deixou os pedaços picotados na gaveta. Calmamente foi ao armário, pegou uma mala, arrumou nela um punhado de roupas, sob o olhar assustado de Anunciata, que apenas observava.
Pegou a sua carteira de identidade, colocou junto com os outros documentos no bolso, dizendo:
- Acabou. Agora tudo vai ficar bem!
Neste mesmo dia, ele convenceu a mulher a preparar um lanche e saíram juntos com os filhos, num passeio de caminhão. No meio da viagem pegou o filho mais velho e levou-o ao colo.
-Está na hora de você começar a aprender a dirigir, um dia você terá que fazer isto.
Na volta, deixou a mulher e os filhos em casa. Sem dizer uma só palavra saiu.
Palhares mora numa pacata cidade do interior vive em errância, rodando por todo o país, levando e trazendo mercadorias pequenas ou grandes. Cada viagem dura cerca de um mês, entre ida e volta. Tudo é sempre programado. Toda vez que sai para uma destas viagens, Anunciata de Jesus, sua mulher, lhe prepara um farnel que dá para uns dois dias. Mas acostumado como está com a estrada, não se intimida se dorme, ou se come mal. Não é de beber pinga em serviço, mas gosta mesmo é de tomar uma “rasteirinha” com torresmo e farofa antes do almoço.
- É a “abrideira”! É para abrir o apetite - ele sempre fala assim.

Uma vez, entre o intervalo de uma viagem e outra, ele saiu com os amigos para festejar a vitória do seu time de futebol - É vascaíno doente. Era tanta cerveja e churrasco que a farra foi até tarde da noite.
Quando chegou em casa notou que perdeu todos os documentos. Não soube explicar depois, como eles foram achados espalhados em lugares diferentes e distantes uns dos outros. Todos os documentos foram recuperados, até mesmo um "santinho" de São Cristóvão que, às vezes ele usava preso no guarda sol do seu caminhão com elástico. Só não achou a sua carteira de identidade. Ele ainda esperou um mês para ver se ela aparecia, como não apareceu, tirou outra. Vaidoso, ele aproveitou um dia de festa da padroeira na igreja, para tirar uma foto colorida para a sua nova carteira.
Durante uma pequena viagem, sentindo muito calor, Palhares resolveu parar em um bar de beira de estrada e pediu uma garrafa de água mineral, enquanto era servido, puxou o lenço para enxugar a testa de suor. Percebeu uma carteira de identidade pendurada no vidro do caixa que parecia com a sua perdida. Perguntou:
- Moço, posso ver este documento?
- Claro, aqui está. É sua? - perguntou sem verificar.
- É sim, eu perdi faz muito tempo num lugar bem longe. Não sei como ela veio parar aqui.
- Alguém entregou. Se for sua, pode levar - respondeu o caixa.
A partir deste momento, uma coisa muito estranha invadiu-lhe a alma. Podia-se dizer que ficou muito feliz por ter encontrado a sua carteira, um pouco mais estragada, é verdade, mas era mesmo sua. Agora possuía duas carteiras de identidade. Estava perplexo. Comparou seu retrato nas duas carteiras. Eram bem diferentes. Agora ele tinha uma cara mais séria do que quando era mais jovem.
Quando chegou em casa, a primeira coisa que fez foi mostrar para Anunciata o seu achado.
- Vamos guardar esta carteira nova, já que não vou mais precisar dela - colocou-a numa gaveta da cômoda do seu quarto.
- É, quem sabe você ainda vai precisar dela um dia? - acrescentou Anunciata.
“E o pior é que agora eu sou dois”, pensou Palhares sem ter coragem de dizer.
Sua vida transcorria normalmente, até que um dia, fez uma vigem junto com outros companheiros em comboio e já passava uma semana, quando de repente, ele parou o seu caminhão no meio da estrada. Seus companheiros de viagem, preocupados com aquela parada brusca e sem motivo, correram em seu socorro. Encontraram-no parado com o olhar fixo, perdido em um ponto distante.
- O que aconteceu, homem? Responda! - insistiam os colegas, sem obter qualquer resposta.
Preocupados, levaram-no a um hospital na cidade mais próxima. Os médicos que o examinaram não encontraram nada que justificasse aquele silêncio em que Palhares se encontrava imerso, sem responder a qualquer pergunta nem sequer dizer o seu próprio nome.
Foi levado de volta para sua casa e lá continuou mudo; não falou com Anunciata nem com seus três filhos, ainda pequenos. Os médicos e os amigos ficaram atônitos, sem entender o que estava lhe acontecendo.
Colocado em sua cama, dormiu profundamente. No dia seguinte quando acordou, viu o seu rosto projetado no espelho que ficava estrategicamente posto em frente à sua cama, deu um grito alucinante, pondo-se de pé imediatamente parando-se diante da cômoda. Olhou para a gaveta da cômoda e rapidamente saiu do quarto. Durante um bom tempo não voltou lá nem saiu de casa.
A partir daquele dia, Palhares passou a dormir na sala e quando precisava de alguma coisa que estivesse no quarto, pedia, com gestos, para alguém ir lá buscar. Para ele, havia “um outro” ali. Mandou até tirar o espelho do banheiro e passava o dia inteiro perambulando pela casa, em silêncio. Abria os armários e gavetas como se estivesse procurando alguma coisa. Anunciata ficava irritada com ele, pois não estava acostumada com a sua presença em casa por muito tempo, nem com aquela situação. Ainda por cima, ele desarrumava tudo na casa. Vivia sempre com a mesma roupa, barba por fazer e aquele olhar perdido. Mal comia e não tomava banho. Todos já estavam à beira de um ataque dos nervos.
À noite, na hora de dormir, quando via sua mulher ir para o quarto, ele era tentado a imaginar que ela iria dormir com outro homem. Vez por outra ele balbuciava algumas palavras desconexas. Vivia na janela olhando um ponto perdido no espaço. Um gesto mais brusco ou agressivo que ele tivesse, parecia que o tiraria daquele estado. Nada acontecia. Não chegava perto da janela ao anoitecer. Desviava o olhar de qualquer superfície que pudesse refletir a sua imagem ou mesmo uma sombra. Não falava com ninguém, nem com os familiares, nem com os médicos que o atendiam em sua casa.
Todos os dias, pela manhã, quando sua mulher saía do quarto, ele já estava lá, plantado à soleira da porta. O seu olhar era de dar medo. Seguia-a durante todo tempo e sempre em silêncio.
Esta situação insuportável já durava pouco mais de um ano que viviam da ajuda dos seus colegas. Anunciata desconfiava que ele tivesse ficado assim porque encontrou a carteira de identidade. Possuía agora duas carteiras. Ela não conseguia falar sobre isso com ninguém, ou porque ele a impedia com um “psssiiitt”, ou porque ela mesma não tinha muita convicção dessa idéia, aquilo era muito estranho para ela também.
Ultimamente, porém, ele já se asseava mais. Tomava banho, mas não fazia a barba e saía para pequenos passeios perto de casa. Sempre que cruzava com alguém que lhe dirigisse a palavra ou o olhar, tirava a sua velha carteira de identidade do bolso e mostrava, como um árbitro de futebol exibindo um cartão de advertência.
Um belo dia, ele passeava acompanhado da esposa quando, sem se dar conta, foi em direção a uma vitrine vendo a imagem de alguém que lhe era muito familiar se aproximando dele. Quando ele já estava bem perto da vitrine, olhou fixamente aqueles olhos que também o olhava. Ficou ali por alguns instantes, parado, com olhar perdido para aquela figura, quando, de repente, deu um passo para trás e com um grito de horror caiu desmaiado ali mesmo na rua, sendo acudido por sua mulher. Foi levado para casa e logo chamaram o médico que o atendeu no primeiro episódio. Este acalmou os familiares, pois não havia necessidade de ser internado.
Anunciata deu-lhe um banho, fez a sua barba e colocou-o na sua cama onde logo adormeceu. Pondo-se à sua cabeceira rezou o terço até a noitinha. Sem saber porque, pegou as duas carteiras de identidade. Alguma coisa esquisita lhe dizia que ela deveria destruir uma delas. Olhava as carteiras e se perguntava: “qual?”. A mais nova talvez, pensava. Não, essa não, afinal de contas ele não a vê desde que a colocou na gaveta. A velha talvez seja melhor, já está toda quebrada mesmo. Sem perceber já estava com a tesoura na mão picotando essa carteira.
Foi tomada por um susto enorme diante daquela atitude e entrou em pânico. “E agora, o que é que eu vou fazer com estes pedacinhos?”. Pensou: "se jogar fora, talvez seja pior, ele não iria (irá) saber o que aconteceu com ela", achou melhor guardar na gaveta junto com a outra. Foi o que ela fez.
A noite transcorreu sem novidades. No dia seguinte, bem cedo, Anunciata já havia se levantado quando viu Palhares abrindo os olhos. Sua aparência era de calma e serenidade, já não tinha mais aquele olhar desconfiado e assustador de antes. Vendo a sua imagem no espelho a frente da cama, sem dizer nada, levantou-se indo até a gaveta da cômoda, abriu-a e deparou-se com as duas carteiras juntas, uma inteira e a outra picotada, pegando-as sem entender o que havia acontecido.
Olhou o retrato da carteira nova. Olhou-se de novo no espelho, deixou os pedaços picotados na gaveta. Calmamente foi ao armário, pegou uma mala, arrumou nela um punhado de roupas, sob o olhar assustado de Anunciata, que apenas observava.
Pegou a sua carteira de identidade, colocou junto com os outros documentos no bolso, dizendo:
- Acabou. Agora tudo vai ficar bem!
Neste mesmo dia, ele convenceu a mulher a preparar um lanche e saíram juntos com os filhos, num passeio de caminhão. No meio da viagem pegou o filho mais velho e levou-o ao colo.
-Está na hora de você começar a aprender a dirigir, um dia você terá que fazer isto.
Na volta, deixou a mulher e os filhos em casa. Sem dizer uma só palavra saiu.
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