Mostrando postagens com marcador Literatura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Literatura. Mostrar todas as postagens

03 setembro 2011

ENTRANHAS DA ALMA

Roupas sujas, usadas, molhadas,
abandonadas
no canto do banheiro
amontoam dores, odores e favores.

As crianças aditam muita sujeira
de terra, doces e traquinas.
Os adultos, o suor da lida,
preocupações e insucessos.

Mulheres, desamores adormecidos
choros calados e frustrações.
Nos jovens, desencantos, hormônios,
desejos incestuosos ou luxuriantes.

Elas guardam muitos segredos, as vezes.
Paixões, equívocos e desapontamentos.
Sujas de uso, suor e poeira

que Rita colhe, recolhe e acolhe.

No tanque com água e sabão:
ensaboar, esfregar, lavar.
Na água suja
misturadas ao sabão.

Limpa
todas as dores enxaguadas.
Escorrem como lagrimas,
as mágoas e os ressentimentos.

Penduradas
à brisa leve do ar,
recebem bênçãos
compaixões e esperanças.

Os lençóis guardam ainda segredos de alcova.
Toalhas de mesa, manchas de gordura,
de café e leite permanecem.
De banho embebidas do corpo, a pureza.

Rita, de olhos acanhados e gestos tímidos,
parece conhecer todos os gemidos,
gritos, sussurros e risos,
contidos nas entranhas das almas!

12 novembro 2010

UM SUPOSTO PLÁGIO


Um e-mail de Marcio* dirigido a um certo amigo (eu recebi por e-mail).



Acho que você vai gostar. O Ferreira Gullar anda dizendo cada coisa! A última foi essa acusação (pouco honesta, inclusive) de plágio. Andou atacando a reforma que humanizou a psiquiatria no Brasil e deu uns apoios "esquisitos".

Há alguma beleza no que aí vai e, se achar digno, passe adiante na sua rede. Não tenho muitos amigos capazes de apreciar o que aí vai. Com um abraço e lembranças a todos, Márcio




CARTA ABERTA AO POETA F. GULLAR! (sobre uma polêmica em torno de um SUPOSTO plágio)

Quem duvida, poeta, que você é o maior poeta vivo do Brasil. Temos grandes letristas (que não deixam de ser poetas), mas o herdeiro de nossa muito rica poesia do século XX todos reconhecem em você.

Isso, entretando, não lhe confere o monopólio da inspiração poética nem o direto de acusar de plágio alguém que teve uma inspiração, digamos assim, parecida com a sua. O ataque que você tem desenvolvido contra o compositor O. Montenegro não me parece estar de acordo com a sua reconhecida generosidade. Além disso, convenhamos, as semelhanças entre seu poema e o do compositor compartilham apenas a inspiração poética:

"Uma parte de mim/é todo mundo/outra parte é ninguém:/fundo sem fundo" (Traduzir-se F. Gullar).

"Porque metade de mim é o que eu grito/Mas a outra metade é silêncio..." (O. Montenegro)

Como você sabe melhor do que ninguém, a poesia é, antes de tudo, a palavra (Mallarmée) e não o tema ou idéia em si. O ser/estar dividido é quase uma condição para a poesia, não é mesmo? Esse tema da divisão interior é muito recorrente na poesia e você não foi o primeira a tratar dele.

Fiquei pensando em como M. Bandeira reagiria à letra do samba de M. da Vila, comparando-o ao seu:

"Sonhei ter sonhado/Que tinha sonhado/Em sonho lembrei-me/De um sonho passado/O de ter sonhado/Que estava sonhando/Sonhei ter sonhado/Ter sonhado o quê?/Que tinha sonhado/Estar com você..." (TEMAS E VOLTAS, Bandeira)

"Sonhei/Que estava sonhando um sonho sonhado/O sonho de um sonho/ Magnetizado.../Sonho meu/Eu sonhava que sonhava..." (M. da Vila)

Como se pode ver, há muito mais semelhanças, e não apenas de inspiração temática.

Não resisto a imaginar como reagiria o "bardo de Recife" ao ler estes versos. Certamente, perguntaria ao sambista (também grande poeta) se conhecia o seu poema. Haveria duas possibilidades: se a resposta fosse SIM, Bandeira ficaria muito feliz em ver como o seu poema teria inspirado tanta poesia e, mais ainda, pela beleza da música. Talvez até dissesse (ele que adorava ser musicado) "AH! Se eu tivesse essa inspiração musical...!!!" Ele, que considerava a música a mais suprema dentre todas as artes certamente reverenciaria esse artista do povo.

Se a resposta fosse NÃO, talvez gostasse de ver como a inspiração pode atingir dois poetas com a sua mesma "espada de fogo", especialmente em relação ao sentimento de que esta vida é nada mais do que um sonho.

Quem sabe ainda se não lembraria dos versos de A. de Musset: "O solitude! O pauvreté! " que o inspiraram a escrever "Ó pobreza! Ó solidão!" (Cantilena).

E da criptomnesia ou plágio inconsciente, você já ouviu falar disso, poeta F. Gullar?! Esquecemos datas, nomes...mas o sentimento que algum poema nos causou pode permanecer e até nos inspirar, quer dizer aos poetas, um novo poema, sem qualquer intenção de plágio. Não foi o caso, mas essa possiblidade sempre existe e deveria ser motivo de orgulho e não de acusação. Sempre há tempo para pedir desculpas.

*Márcio Amaral, vice-diretor do Instituto de psiquiatria da UFRJ

18 junho 2010

MORRE O ESCRITOR PORTUGUES JOSÉ SARAMAGO

Morre aos 87 anos o escritor português José Saramago, Nobel de Literatura em 1998

Do UOL Notícias
Em São Paulo

O escritor português José Saramago venceu do Prêmio Nobel da Literatura em 1998


Morreu nesta sexta-feira (18) em Lanzarote (Ilhas Canárias, na Espanha), o escritor português José Saramago, aos 87 anos. Em 1998, Saramago ganhou o único Prêmio Nobel da Literatura em língua portuguesa.

Continue lendo aqui



O comentário que se segue foi recebido por email alguns dias após a sua morte.
A opinião apresentada não reflete a minha opinião.
Rogério Silva


Morte de um homem mau


Morreu um homem amargo e mau, incapaz de sorrir, que se esforçava por tornara sua Pátria amarga, como ele.

José Saramago, era de facto um homem mau. Provava-o a sua cara vincada incapaz de exprimir um sorriso, prova-o a sua escrita prenhe de ódio e crítica aos valores mais normais e caros à civilização que o viu nascer, valores esses que ele, com as suas ideias, suas declarações e sua obra, renegou em Lanzarote. Será que no fundo, Saramago, para além do seu marcado azedume e soberba, tinha valores? Nunca o saberemos.

Repito, José Saramago era um homem mau. Que o digam os seus colegas, que em pleno período revolucionário foram vítimas de saneamentos selvagens. O homem, nessa época, tinha o "estribo nos dentes", e era imparável algoz como sub-director do Diário de Notícias. Tinha por desporto arruinar a vida de quem não era comunista como ele.

Foram 87 anos de infecundidade, travestida de um aparente sucesso, revelado pelos livros que vendeu, e pela matreira estratégia de marketing que o conduziu ao Prêmio Nobel, em detrimento de outros escritores Lusos, genuinamente com mais categoria e menos maldade crônica do que ele. Penso, por exemplo, no insuspeito Torga.

Tentei ler dois livros dessa personagem, para com honestidade poder dizer que, para além de não gostar dele como pessoa, o não considerava como um bom escritor, e que ofendia na sua essência a cultura Cristã da nossa Grei. Consegui apenas ler um, e o início de outro. A sua escrita, para além de ser incorreta, era amarga como as cascas dos limões mais amargos. A sua originalidade era, afinal, o sinistro das suas idéias; o que, convenhamos, é pouco original. É mais fácil ser sinistro, provocador e mau, do que ter categoria, e valor. Saramago optou pelo mau caminho, como sempre, o mais fácil. E teve aparentemente sorte, na Terra, que a eternidade pouco lhe reservará.

Fiquei contente quando ameaçou (apenas ameaçou, porque na realidade a sua vaidade não lho permitia praticar), nunca mais pisar solo Pátrio. Uma figura como ele, é melhor estar longe da Pátria que em má hora o viu nascer. Afinal de que serve a este Portugal destroçado, um Iberistra convicto, ainda para mais, estalinista? Teria ficado bem por essas ilhas perdidas de Espanha, não fosse uma série de lacaios da cultura dominante "chorarem" por ele, por aqui por terras lusas, alimentando-lhe a sua profunda soberba.

Para além da sua obra escrita, de qualidade duvidosa e brilhantemente catapultada por apuradas técnicas comerciais que lhe conseguiram um Prêmio Nobel da Literatura, (prêmio com cada vez menos prestígio devido à carga política que contém), nada deixou em herança, para além de certamente muito dinheiro, o que é um contrasenso para um qualquer estalinista como ele. Mas a sua existência foi um perfeito logro. Foi uma existência desnecessária.

Saramago afastou-se da Pátria, e estou certo de que a Pátria, no seu todo mais puro, que não no folclore da "inteligentzia", não teve saudades dele. Foi uma bandeira da esquerda ortodoxa, e também da esquerda ambígua, essa do Primeiro-Ministro que nos desgoverna. Dessa mesma esquerda que decidiu usar
o nosso dinheiro, para trazer em avião da Força Aérea Portuguesa, os seus restos inanimados para Portugal, a expensas de todos nós, e infamemente coberto com a Bandeira Nacional. Um Iberista, coberto com a Bandeira Nacional, que Saramago ofendeu vezes incontáveis, na essência da sua obra, e no veneno das suas declarações públicas. Era um relapso. Um indesejável.

Um homem que voluntariamente se afastou da sua Pátria, comentando-a de uma
forma negativa no Estrangeiro, não é digno de nela entrar cadáver, coberto com a sua Bandeira. A bandeira de Saramago, era a do ódio, da arrogância, e da maldade praticada.

Mas os símbolos Nacionais estão hoje nas mãos de quem estão, e a representação das "vontades" Nacionais, está subordinada a quem está: à esquerda, tão sinistra como foi Saramago. Assim sendo, as homenagens que lhe fazem, incluindo os exagerados e ilegítimos dois dias de Luto Nacional, valem o que valem, e são apenas um ato de pura "camaradagem", na verdadeira acepção da palavra. Quem nos desgoverna, pode cometer as maiores atrocidades, que ao povo profundo só resta pagar, e calar. Até ver.

Amanhã, Sarmago mergulhará pela terceira vez nas chamas. A primeira, terá sido quando nasceu, e ao longo de toda a sua vida, retrato que foi de ódio e maldade pela sua imagem espelhados e espalhados; a segunda, terá sido quando o seu corpo ficou irremediavelmente inanimado, e estou certo de que entrou no Inferno, a confraternizar com o seu amigo Satanás; a terceira, amanhã, será quando o seu corpo inerte e sem alma, entrar para ser definitivamente destruído, no Crematório do Alto de S. João.

Será um maravilhoso e completo Auto de Fé. O Homem e a sua obra venenosa, serão queimados definitivamente nas chamas da terra, que nas da eternidade já o foram no dia em que morreu.

De Saramago recordaremos um homem que não sabia rir, que gostava certamente muito de dinheiro, e que o terá ganho, que era mau e vaidoso, e que o provou ao longo da sua vida, que quis viver longe da sua Pátria por a ela não saber ter amor, e que foi homenageado por meia dúzia de palhaços esquerdistas,
"compagnons de route" coniventes com um dos últimos fósseis estalinistas, que ilustrava uma forma de estar na vida e na política sem alma, amoral, e que globalmente contribuiu para a destruição de toda uma Pátria, e suas tradições.

Ocorreu ontem, quando soube que este cavalheiro de triste figura tinha morrido, que estaria por certo no inferno, sentado com Rosa Coutinho, também lá entrado há poucos dias, à espera de Mário Soares e Almeida Santos, para os quatro juntos jogarem uma animada e bem "quente" partida de sueca...

O País está mais limpo. Um dos maiores expoentes do ódio e da maldade, desapareceu da superfície da Terra. Espero que a Casa dos Bicos, um dia possa ter melhor função, do que albergar a memória de tão pérfida personagem. As suas letras, estou certo de que cairão no esquecimento, ao contrário das de Camões, Torga ou Pessoa, entre muitos outros.

Apesar de tudo, e porque sou Católico (e porque a raiva não é pecado), que Deus tenha compaixão de tão grande pobreza, mas que se lembre fundamentalmente de nós , de todos os Portugueses íntegros que tentamos sobreviver com dificulade, neste Portugal governado pelos amigalhaços do extinto, que apesar do luto em que fingem estar, mas que na verdade não sabem viver, continuam a todo o custo a viver o enorme bacanal que arruína Portugal...

No fundo, no fundo, e porque as palavras as leva o vento, que Deus tenha piedade de tão grande pobreza! Cabe-nos perdoar. Mas não temos que esqucer!

António de Oliveira Martins - Lisboa

05 maio 2010

AMIGO, QUE PAPO É ESSE?

Indagado sobre quais seriam os limites do amor e do sexo, ponderei: será que eu sei? A pessoa que indaga se diz carente, está descasada há anos, não consegue um namorado firme e quer saber se é possível ir para a cama com um amigo que quer “comê-la” a todo custo e ainda assim continuar amigo. Investiga se isso é possível, ou se só é possível fazer isso com um colega, que considera uma categoria menor, mais distante, ou com um amante/namorado, cuja implicação é óbvia.

O que sabemos nós sobre amizade, coleguismo e amor quando o interesse pelo sexo entra justamente para dar conta de uma carência? Parece que essa distinção nos impede de ver o que é comestível ou não. Todos são comestíveis e se comidos não há porque mudar a categoria, o que até pode acontecer. É que quando o comer confunde a cabeça do comedor e/ou do comido, este corre perigo de naufragar.

Só para lembrar o grande poeta português Fernando Pessoa “navegar é preciso, viver não é preciso”. Isso define a precisão de métodos e instrumentos para navegar, enquanto que para viver basta viver. Ainda com esse mesmo autor, no Poema do amigo aprendiz

Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias…

Às vezes sou obrigado a me render a Roberto Carlos, embora não o aprecie a miúde, e assentar o poema de Erasmo Carlos, Amada amante

(…) faz da vida um instante
ser demais para nós dois
esse amor sem preconceito
sem saber o que é direito
faz a suas próprias leis
que flutua no meu leito
que explode no meu peito
e supera o que já fez (…)

Talvez por tudo isso fique tão confuso ser amigo, colega ou amante e depois de uma relação sexual reconhecer-se como tal.

Ainda bem que somos humanos para compreender o amor como forma de aproximação entre pessoas e a sua capacidade lúdica de trocas e prazeres. Uma atividade pulsional que ultrapassa uma simples união para procriação e perpetuação da espécie.

O artigo: “A Linguagem Interminável dos Amores”, da psicanalista Olivia Bittencourt Valdivia apresenta uma indicação da relação entre o amor e a sexualidade, numa visão psicanalítica e também que "...um Freud humano e apaixonado nos deixa os mapas de sua exploração." Este em seu percurso amoroso e sensual e autorizado por uma longa experiência clínica, há muito se interrogava sobre a vida amorosa dos homens.

Em fins do século XIX tentando entender a histérica percebeu que talvez ela quisesse dizer alguma coisa com o seu corpo. Alguma coisa que não conseguia dizer com palavras. E a histérica falou do sexo, do amor, do ódio e da culpa. Freud, inaugurou o lugar da Psicanálise, que é na verdade o lugar de uma relação de amor. Nesta relação a libido refaz seus caminhos até a possibilidade de uma relação de amor com o analista, que abre esta possibilidade para a vida do analisando. Freud revolucionou a compreensão da noção de sexualidade colocando o sexual no registro do pulsional, estabelecendo a ideia de uma impossibilidade de satisfação, só encontrada através da fantasia.”


Para o filosofo, “Só sei que nada sei” não é a divisa da filosofia e muito menos um apelo à ignorância, mas uma provocação àqueles que se apresentam como sábios e detentores das verdades. Na boca de Sócrates, “só sei que nada sei” é a expressão da ironia, essa arma filosófica apontada ao ridículo dos sábios fechados em si mesmos, prepotentes, pomposos.

Ontem como hoje, são muitos esses sábios que se tomam a sério e querem que os tomemos também, mas que são incapazes de partilhar conosco os segredos desses saberes que dizem possuir.

Portanto amigo, que papo é esse?

02 maio 2010

SOBRE O TEMPO


reflexão sobre o tempo

e se perguntar ao tempo
quanto tempo que o tempo tem?
o tempo te dirá
que o tempo tem, o tempo
que o tempo tem!

isso todo mundo sabe,
mas desde quando?
há muito tempo,
diria o tempo.
buscando o tempo que ainda não havia.

mas pelo tempo que percorria
deveria ir mais depressa!
mas por que correr
com o tempo?
o tempo que espere!

ele tem mais tempo que eu!
afinal ele está aí o tempo todo.
eu é que ia seguindo devagar
no passo do meu tempo
percorrendo as minhas distancias

de ontem, de agora, ainda...
mas não saberia como percorrer o amanhã
e o tempo me dizia: calma!
amanhã a gente vê!
na minha calma esperei.

o amanhã,
a vinda,
a busca,
e nada havia.
não havia o havia!

não parei e engoli
em seco o hoje.
vou dormir.
o amanhã,
amanhã a gente vê!

03 abril 2010

MARAVILHA EM M





maravilha em m

minhas mãos mandam muito.
mandam morder o mundo
mudando o mistério
dos monstros.

mascarados miram mandatos,
maltratam maridos e mulheres,
mulatos e matutos mamelucos.

maltrapilhos maldizem
a malandragem malvada
dos muitos miseráveis metidos.

mães marias, moças marlenes e
meninas marílias mentem menos.
marcam musas musicais,
melodias e missas menores.

mas minhas mãos mandaram
mexer, misturar e molhar
moldar medidas mínimas
das maravilhas mutantes.

08 março 2010

ÀS MULHERES DA MINHA VIDA



o dia internacional da mulher
é uma data importante. historicamente sabemos.
mas afetivamente esquecemos
no dia a dia.
neste ano resolvi refletir
sobre todas as mulheres que, de algum modo,
me trouxeram até aqui
e prestar a minha singela e justa homenagem.
à minha mãe, minhas irmãs, tias e primas.
professoras, coleguinhas da escola
infantil, na juventude e na fase adulta.
primeiras mulheres da minha vida.
à minha esposa, minha filha, sobrinhas,
cunhadas e amigas,
Audrey Hepburn minha “bonequinha de luxo”,
de Elizete Cardoso a sua voz me encantou,
de Lou Andreas Salomé a sua imagem e ousadia,
com Marta Medeiros aos domingos na revista,
Mariá, minha primeira analista,
Nazareth que servia o cafezinho
e muitas outras mulheres povoaram
a minha vida e o meu imaginário
como minhas namoradas reais ou virtuais.
devo a vocês a minha vida afetiva,
profissional e intelectual, a minha existência,
a formação da minha subjetividade.
todas vocês merecem meu respeito e devoção,
pelos seus valores individuais e pessoais.
e exemplos de coragem e virtude.
no seu dia, meus parabéns!

01 setembro 2009

IDENTIDADE PERDIDA

José Américo Rodrigues Palhares, aprendeu a dirigir caminhão quando ainda era muito pequeno. Seu tio tinha um caminhão de entregas e vez por outra o levava a passear colocando-o no colo. A paixão pelo volante e principalmente por caminhões vem desta época e influenciou na escolha da sua profissão.

Palhares mora numa pacata cidade do interior vive em errância, rodando por todo o país, levando e trazendo mercadorias pequenas ou grandes. Cada viagem dura cerca de um mês, entre ida e volta. Tudo é sempre programado. Toda vez que sai para uma destas viagens, Anunciata de Jesus, sua mulher, lhe prepara um farnel que dá para uns dois dias. Mas acostumado como está com a estrada, não se intimida se dorme, ou se come mal. Não é de beber pinga em serviço, mas gosta mesmo é de tomar uma “rasteirinha” com torresmo e farofa antes do almoço.

- É a “abrideira”! É para abrir o apetite - ele sempre fala assim.


Uma vez, entre o intervalo de uma viagem e outra, ele saiu com os amigos para festejar a vitória do seu time de futebol - É vascaíno doente. Era tanta cerveja e churrasco que a farra foi até tarde da noite.

Quando chegou em casa notou que perdeu todos os documentos. Não soube explicar depois, como eles foram achados espalhados em lugares diferentes e distantes uns dos outros. Todos os documentos foram recuperados, até mesmo um "santinho" de São Cristóvão que, às vezes ele usava preso no guarda sol do seu caminhão com elástico. Só não achou a sua carteira de identidade. Ele ainda esperou um mês para ver se ela aparecia, como não apareceu, tirou outra. Vaidoso, ele aproveitou um dia de festa da padroeira na igreja, para tirar uma foto colorida para a sua nova carteira.

Durante uma pequena viagem, sentindo muito calor, Palhares resolveu parar em um bar de beira de estrada e pediu uma garrafa de água mineral, enquanto era servido, puxou o lenço para enxugar a testa de suor. Percebeu uma carteira de identidade pendurada no vidro do caixa que parecia com a sua perdida. Perguntou:

- Moço, posso ver este documento?

- Claro, aqui está. É sua? - perguntou sem verificar.

- É sim, eu perdi faz muito tempo num lugar bem longe. Não sei como ela veio parar aqui.

- Alguém entregou. Se for sua, pode levar - respondeu o caixa.

A partir deste momento, uma coisa muito estranha invadiu-lhe a alma. Podia-se dizer que ficou muito feliz por ter encontrado a sua carteira, um pouco mais estragada, é verdade, mas era mesmo sua. Agora possuía duas carteiras de identidade. Estava perplexo. Comparou seu retrato nas duas carteiras. Eram bem diferentes. Agora ele tinha uma cara mais séria do que quando era mais jovem.

Quando chegou em casa, a primeira coisa que fez foi mostrar para Anunciata o seu achado.

- Vamos guardar esta carteira nova, já que não vou mais precisar dela - colocou-a numa gaveta da cômoda do seu quarto.

- É, quem sabe você ainda vai precisar dela um dia? - acrescentou Anunciata.

“E o pior é que agora eu sou dois”, pensou Palhares sem ter coragem de dizer.

Sua vida transcorria normalmente, até que um dia, fez uma vigem junto com outros companheiros em comboio e já passava uma semana, quando de repente, ele parou o seu caminhão no meio da estrada. Seus companheiros de viagem, preocupados com aquela parada brusca e sem motivo, correram em seu socorro. Encontraram-no parado com o olhar fixo, perdido em um ponto distante.

- O que aconteceu, homem? Responda! - insistiam os colegas, sem obter qualquer resposta.

Preocupados, levaram-no a um hospital na cidade mais próxima. Os médicos que o examinaram não encontraram nada que justificasse aquele silêncio em que Palhares se encontrava imerso, sem responder a qualquer pergunta nem sequer dizer o seu próprio nome.

Foi levado de volta para sua casa e lá continuou mudo; não falou com Anunciata nem com seus três filhos, ainda pequenos. Os médicos e os amigos ficaram atônitos, sem entender o que estava lhe acontecendo.

Colocado em sua cama, dormiu profundamente. No dia seguinte quando acordou, viu o seu rosto projetado no espelho que ficava estrategicamente posto em frente à sua cama, deu um grito alucinante, pondo-se de pé imediatamente parando-se diante da cômoda. Olhou para a gaveta da cômoda e rapidamente saiu do quarto. Durante um bom tempo não voltou lá nem saiu de casa.

A partir daquele dia, Palhares passou a dormir na sala e quando precisava de alguma coisa que estivesse no quarto, pedia, com gestos, para alguém ir lá buscar. Para ele, havia “um outro” ali. Mandou até tirar o espelho do banheiro e passava o dia inteiro perambulando pela casa, em silêncio. Abria os armários e gavetas como se estivesse procurando alguma coisa. Anunciata ficava irritada com ele, pois não estava acostumada com a sua presença em casa por muito tempo, nem com aquela situação. Ainda por cima, ele desarrumava tudo na casa. Vivia sempre com a mesma roupa, barba por fazer e aquele olhar perdido. Mal comia e não tomava banho. Todos já estavam à beira de um ataque dos nervos.

À noite, na hora de dormir, quando via sua mulher ir para o quarto, ele era tentado a imaginar que ela iria dormir com outro homem. Vez por outra ele balbuciava algumas palavras desconexas. Vivia na janela olhando um ponto perdido no espaço. Um gesto mais brusco ou agressivo que ele tivesse, parecia que o tiraria daquele estado. Nada acontecia. Não chegava perto da janela ao anoitecer. Desviava o olhar de qualquer superfície que pudesse refletir a sua imagem ou mesmo uma sombra. Não falava com ninguém, nem com os familiares, nem com os médicos que o atendiam em sua casa.

Todos os dias, pela manhã, quando sua mulher saía do quarto, ele já estava lá, plantado à soleira da porta. O seu olhar era de dar medo. Seguia-a durante todo tempo e sempre em silêncio.

Esta situação insuportável já durava pouco mais de um ano que viviam da ajuda dos seus colegas. Anunciata desconfiava que ele tivesse ficado assim porque encontrou a carteira de identidade. Possuía agora duas carteiras. Ela não conseguia falar sobre isso com ninguém, ou porque ele a impedia com um “psssiiitt”, ou porque ela mesma não tinha muita convicção dessa idéia, aquilo era muito estranho para ela também.

Ultimamente, porém, ele já se asseava mais. Tomava banho, mas não fazia a barba e saía para pequenos passeios perto de casa. Sempre que cruzava com alguém que lhe dirigisse a palavra ou o olhar, tirava a sua velha carteira de identidade do bolso e mostrava, como um árbitro de futebol exibindo um cartão de advertência.

Um belo dia, ele passeava acompanhado da esposa quando, sem se dar conta, foi em direção a uma vitrine vendo a imagem de alguém que lhe era muito familiar se aproximando dele. Quando ele já estava bem perto da vitrine, olhou fixamente aqueles olhos que também o olhava. Ficou ali por alguns instantes, parado, com olhar perdido para aquela figura, quando, de repente, deu um passo para trás e com um grito de horror caiu desmaiado ali mesmo na rua, sendo acudido por sua mulher. Foi levado para casa e logo chamaram o médico que o atendeu no primeiro episódio. Este acalmou os familiares, pois não havia necessidade de ser internado.

Anunciata deu-lhe um banho, fez a sua barba e colocou-o na sua cama onde logo adormeceu. Pondo-se à sua cabeceira rezou o terço até a noitinha. Sem saber porque, pegou as duas carteiras de identidade. Alguma coisa esquisita lhe dizia que ela deveria destruir uma delas. Olhava as carteiras e se perguntava: “qual?”. A mais nova talvez, pensava. Não, essa não, afinal de contas ele não a vê desde que a colocou na gaveta. A velha talvez seja melhor, já está toda quebrada mesmo. Sem perceber já estava com a tesoura na mão picotando essa carteira.

Foi tomada por um susto enorme diante daquela atitude e entrou em pânico. “E agora, o que é que eu vou fazer com estes pedacinhos?”. Pensou: "se jogar fora, talvez seja pior, ele não iria (irá) saber o que aconteceu com ela", achou melhor guardar na gaveta junto com a outra. Foi o que ela fez.

A noite transcorreu sem novidades. No dia seguinte, bem cedo, Anunciata já havia se levantado quando viu Palhares abrindo os olhos. Sua aparência era de calma e serenidade, já não tinha mais aquele olhar desconfiado e assustador de antes. Vendo a sua imagem no espelho a frente da cama, sem dizer nada, levantou-se indo até a gaveta da cômoda, abriu-a e deparou-se com as duas carteiras juntas, uma inteira e a outra picotada, pegando-as sem entender o que havia acontecido.

Olhou o retrato da carteira nova. Olhou-se de novo no espelho, deixou os pedaços picotados na gaveta. Calmamente foi ao armário, pegou uma mala, arrumou nela um punhado de roupas, sob o olhar assustado de Anunciata, que apenas observava.

Pegou a sua carteira de identidade, colocou junto com os outros documentos no bolso, dizendo:
- Acabou. Agora tudo vai ficar bem!

Neste mesmo dia, ele convenceu a mulher a preparar um lanche e saíram juntos com os filhos, num passeio de caminhão. No meio da viagem pegou o filho mais velho e levou-o ao colo.

-Está na hora de você começar a aprender a dirigir, um dia você terá que fazer isto.

Na volta, deixou a mulher e os filhos em casa. Sem dizer uma só palavra saiu.

10 agosto 2009

JOÃO GUIMARÃES ROSA


"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."

26 julho 2009

BAR SIMPATIA

Ele era moreno, alto, magro, elegantemente vestido com calça preta, camisa branca, uma discreta gravata escura por dentro do colete, com um alfinete de madrepérola. Nos punhos as abotoaduras faziam-se notar. O Tweed era um cinza escuro para combinar com a calça e os sapatos de cromo alemão pretos regiamente engraxados. Tudo apropriado para a estação de inverno.

Seu aspecto plácido e paciente demonstrava-se pelo modo como se assentava enquanto degustava o seu conhaque e pitava um cachimbo Savinelli, ligeiramente recurvado e com fumo Bourkun Riff. Reconheci o aroma.

Embora estivesse vestido como mandava o figurino da época, não poderia passar despercebido de quem o observasse. Muito pelos seus modos e gestos elegantes sentado na cadeira de palha do Bar Simpatia.

Bar Simpatia na Av. Rio Branco - Foto Diarios Associados - início da década de 60
No momento em que eu o observava, não pude deixar de desviar o meu olhar para a direção em que ele olhava ao perceber o seu sorriso de alegria. De fato aproximava-se uma bela moça, também elegantemente vestida, num vestido leve e discreto, cabelos preparados para a ocasião e uma carteira marrom escuro combinando com os sapatos de salto fino que brilhavam.

Ele levantou-se, beijou-a na boca e puxou uma cadeira para ela sentar-se, como um cavaleiro que não se vê mais hoje em dia. Chamou o garçom e fez algum pedido.

Fiquei pensando por quantas vezes eu passei por essa cena e voltei-me ao Jerez que bebericava. Balançava levemente a taça em círculos, alternando os goles e olhando para lugar nenhum. Quando percebi que se levantaram e dirigiram-se á beira da calçada aonde um táxi, recém chegado, os aguardava.

Na verdade a cena que eu vi era a de um casal jovem que se encontrou num bar da orla de Copacabana, onde eu estava só e bebericando o Jerez.

Eu não esperava ninguém e estava ali matando o tempo, como eu sempre gostei de fazer, vez por outra, nas tardes de inverno, desde a juventude. Uma certa tristeza me abateu acompanhada de uma saudade que eu não conseguia identificar de quê. Eu não sabia se era de alguma namorada perdida no tempo, da juventude ou do glamour do Rio nos anos sessenta. Talvez fosse a soma de tudo isso!

Ah, o Simpatia! Quem passa pela calçada hoje e vê o magazine ali, não pode imaginar aquele bar elegante. Seus sanduíches feitos no pão de forma, com massa fina e aparado nas bordas, o suco de coco espumante feito na hora e um dos melhores chopes tirados da cidade. As pessoas flanando pela calçada em pedras portuguesas sem a pressa que se vê nos dias de hoje.

O que aconteceu com o mundo nesse tempo? Mais de quarenta e tantos anos de acontecimentos. Quantas experiências vivemos. Amigos, parentes, colegas de trabalho, conhecidos da vida transeunte. A perda de alguns, próximos ou não.Trabalho, passeios, viagens, veículos, teatros, cinemas e livros lidos. E perceber que tudo isso poderia ter acontecido de muitas outras formas.

Se viver cada momento e cada experiência ficam gravados em nossa lembrança, recordar é a possibilidade de experienciar a nossa memória, como Marcel Proust, o demonstrou em ”Em busca do tempo perdido” e que nos faz sensível às recordações.

Mas fico com frase lapidar: “navegar é preciso, viver não é preciso”. Não importa se a autoria é de Fernando Pessoa ou de Pompeu*.

*Recentemente, descobri outra autoria para a frase, que me parece mais legítima. A frase de Pompeu, general romano: "Navigare necesse; vivere non est necesse" no original em latim (106-48 aC.). Foi dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra. (cf. Plutarco, in Vida de Pompeu).

27 junho 2009

SER POEMA

escrevo pelo prazer de romper com as palavras
prazer de gritar fonemas, silabas,
ideogramas, código Morse, talvez.
gritos feito o ferro em brasa que marca na pele.
tinge como tatuagem no livro de cabeceira
o primeiro escrito na pele. marca indelével.

olho pelo espelho e vejo símbolos,
palavras, rabiscos, meus ódios,
meus amores, meus vícios.
imerso em águas termais por sete dias
levedura, sete ervas, água-de-cheiro.
não saem de mim as malditas marcas.

ganho mais escritos, mais palavras e símbolos.
palavras-simbolos guardam dizeres.
o corpo nunca mais será a alvura singela.
e já não era antes.
era poema-papai,
poema-mamãe.

os dedos escrevem, os pelos também.
as unhas, os dentes, os olhos.
tudo escreve. tudo se inscreve,
em mim.
eu-poema escrevo pelo puro prazer.
da dor de ser p-o-e-m-a!

17 maio 2009

EFEMERIDADE

enquanto pensava
as coisas aconteciam e não via.
estava de olhos fechados e pensava...
pensava e não via,
não sentia,
pensava, mas não queria.

olhos fechados.
pálpebras pesadas.
pensamentos soltos.
uma quimera,
fantasia,
um: era uma vez!, quem sabe?

acordou e os anos se passaram.
as rugas chegaram.
os cabelos pratearam.
a vida passou. enquanto pensava
as coisas aconteceram e não via.
estava de olhos abertos e apenas olhava...

01 maio 2009

RECORDAÇÕES PLENAS

“O vento varria os meses
e varria os teus sorrisos...
o vento varria tudo!

E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
de tudo.”

Manuel Bandeira (de
Estrela da Manhã, em Antologia Poética, org. Emmanuel de Moraes, José Olympio Editora, Rio, 1986)


Numa tarde outonal de sábado, eu sou carregado em uma maca para o quarto do hospital aonde eu deveria ficar, ainda, por dois dias. Percebia nos rostos dos meus familiares que me esperavam, a apreensão e a dúvida. Até que entrou Telly Savalas e dirigiu-se a eles que ouviam as explicações e recomendações.
Carlos Nejar e Antônio Ribas
Eu ainda estava muito atordoado, mas sabia que Telly Savalas já havia morrido há uns quinze anos e que aquele era o Dr. Ribas, o neurocirurgião que operara, até instantes atrás, a minha espinha, como ele gosta de dizer.
Fiquei pensando o que leva uma pessoa a trazer lembranças de fatos, acontecimentos ou pessoas do passado. Malgrado a parecença de Dr. Ribas com Telly Savalas, não seria apenas isso, uma vez que ambos tiveram caminhos e épocas bem distintos em suas vidas.
Telly Savalas foi um ator de televisão e cinema dos Estados Unidos filho de imigrantes gregos. Antes de ser escalado como Kojak, o ator era conhecido apenas por papéis de bandido, muitos deles rodados na Itália.
Telly Savalas - Kojak
Como Kojak, em 1973, Savalas tornou-se internacionalmente conhecido, além de ganhar um Emmy pela atuação na série. Morreu em 1994, aos 70 anos, devido a complicações de um câncer de bexiga. Foi enterrado na ala George Washington do Forest Lawn Memorial Park, em Los Angeles. Em sua lápide, foi colocada uma conhecida citação de Platão: "a hora da partida chegou, e seguimos nossos caminhos: eu para morrer, e você para viver. O que é melhor, só Deus sabe fazer."
Honras feitas ao ator, o que tudo isso tem a ver com o Dr. Ribas?
Parece um tanto estranho que um conjunto de acontecimentos insistam em se fazer presentes num momento tão delicado como o de uma pós cirurgia. Fiquei a pensar nisso até que percebi que o próprio Dr. Ribas já havia me levado ao passado em uma das minhas consultas preliminares.
Ao revelar a sua predileção por poetas e autores brasileiros, o nome de Manoel Bandeira surgiu como um traço de união entre nossas vidas. Ele tem fortemente em sua vida a vibração de Manoel Bandeira e em mim, ficou um apagamento de Bandeira a partir da morte de uma irmã.
Em meados de agosto de 1968, minha irmã foi internada no hospital dos bancários, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, com metástase de câncer mamário. Eu ia visitá-la quase todos os dias. Ela ficou alojada num quarto individual. Numa dessas visitas, eu resolvi passear pela enfermaria feminina que ficava no mesmo andar. Certo dia conheci Nereida Pichon, uma argentina que falava um ponrtunhol com sotaque gaúcho. Ela aparentava ter uns setenta anos, mas talvez tivesse uns cinco anos menos. Estava em convalescência de uma cirurgia na coluna lombar. Conversava sobre tudo, mas admirava-se com autores brasileiros, principalmente do sul do Brasil. Mário Quintana e Erico Verissimo que eram os seus preferidos, mas entre os poetas, Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade eram recitados diariamente.
Lembro-me de que quando eu a conheci ela falava de dores e sofrimento quando citou a celebre frase de Drummond: “A dor é inevitável e o sofrimento é opcional.”
Recitava: E como farei ginástica / Andarei de bicicleta / Montarei em burro brabo / Subirei no pau-de-sebo / Tomarei banhos de mar! / E quando estiver cansado / Deito na beira do rio / Mando chamar a mãe-d'água / Pra me contar as histórias / Que no tempo de eu menino / Rosa vinha me contar / Vou-me embora pra Pasárgada.
Esses versos eram recitados com pompa e orgulho. Seus olhos marejavam e brilhavam como jabuticaba. Todo seu rosto se iluminava. Eu sentia-me apaixonado por aquela mulher franzina e feia. Em minha juventude sentia-me capturado e fascinado por ela.
Ir ao hospital era para um mim um martírio. Tinha uma irmã definhando pelo câncer generalizado, mas visitar Neréia, como gostava de ser chamada, era sempre uma grande compensação.
Eu estava no primeiro ano do curso de ciências biológicas e aquele foi um ano conturbado, principalmente na França em maio e em agosto aqui no Brasil. Meus autores prediletos eram: Darwim; Karl Von Frisch; Storrer e Ussinger; Oswaldo Frota-Pessoa e Paula-Couto, dentre outros, todos ligados à biologia. Eu não me permitia “perder tempo” com autores da literatura. Os assuntos da política já me tomavam mais do que o tempo necessário, embora eu não fosse nenhum ativista.
No dia 13 de outubro eu fui ao hospital para tratar de um assunto bastante delicado para mim e minha família. O desembaraço para o sepultamento de minha irmã. Pela primeira vez não visitei Neréia.
No dia seguinte, fui ao cemitério São João Batista, para o velório e sepultamento de minha irmã. Somente nessa hora eu soube do falecimento e velório de Manoel Bandeira que se daria no mesmo cemitério, no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras.
Passados alguns dias fui visitar Neréia e comunicar-lhe que não voltaria mais lá. Quando ela me viu seu rosto franziu-se e as lagrimas brotaram de seus olhos. Eu abracei-a ternamente e choramos pelos nossos queridos. Eu não tive a coragem de falar-lhe da morte de minha irmã, mas ela intuiu o que acontecera e que seria a minha ultima visita e recitou-me, baixinho, ao pé do ouvido, “O último poema” de Bandeira: Assim eu quereria meu último poema / Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais / Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas / Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume / A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos / A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Eu não sei dizer o quanto esses episódios foram marcantes para que eu não me lembrasse de ler Bandeira, mais tarde, quando dei a vez aos autores da literatura brasileira.
A psicanálise se fez muito presente neste último quartel de minha vida, onde passei a procurar explicar muitos sonhos, devaneios, ou aquilo que a razão não explica. Muitas vezes, nem mesmo para mim, encontrava explicações, muito menos para as pessoas que me procuravam.
Ulisses Tavares, em seu livro, “Quando nem Freud explica tente a poesia”, não dedicou a Bandeira nenhuma passagem, porém retira de Academia dos mortais de Bráulio Tavares o seguinte poema: A academia que eu sonho / não tem fardões nem patronos / nem brasões verde-amarelos // tem farra das oito as oito / tem coito em vez de biscoito / e um chazinho de cogumelos!
Dr. Ribas fez brotar, de tão longe, essas lembranças encobertas de minha juventude que, obviamente ressurgiram num dia tão importante para mim. Talvez e até por isso mesmo, que seus conteúdos afetivos acabaram por preencher o meu presente, como se fosse uma inspiração com chazinho de cogumelos.

27 março 2009

O DIA DA MULHER



Por Camila Maldonado


Tinha oitenta e um anos de idade. Chamava-se dona Cândida Raposo.
[ ... ] Pois foi com dona Cândida Raposo que o desejo de prazer não passava.
Teve enfim a grande coragem de ir a um ginecologista. E perguntou-lhe envergonhada. de cabeça baixa:
- Quando é que passa?
- Passa o quê, minha senhora?
- A coisa.
- Que coisa?
- A coisa, repetiu. O desejo de prazer, disse enfim.
- Minha senhora, lamento lhe dizer que não passa nunca.
- ( ... ) E... e se eu me arranjasse sozinha? O senhor entende o que eu quero dizer?
- É, disse o médico. Pode ser um remédio.
[ ... ] Nessa mesma noite deu um jeito e solitária satisfez-se. Mudos fogos de artifícios. Depois chorou. Tinha vergonha, Daí em diante usaria o mesmo processo. Sempre triste. É a vida, senhora Raposo, é a vida. Até a benção da morte.
A morte.
Pareceu-lhe ouvir ruído de passos, Os passos de seu marido Antenor Raposo.

Clarice Lispector, A Via Crucis do Corpo


Masturbação feminina de Gustav Klimt



Ontem, foi um dia muito especial para mim. Não sei se foi pelo seu significado, ou se foi porque eu pude refletir sobre a minha vida. A minha existência como mulher e tudo o que eu tenho feito nos campos afetivo e existencial. Sou descasada e tenho curso superior, mas procurei comparar-me com todas as marias desse mundo.

Depois que os meus filhos foram dormir entrei no banheiro. Estava sentindo muito mal. Sentia-me sozinha. Irremediavelmente sozinha. Com aquele mal estar de ontem, de anteontem, de sempre, pior até. Hoje também estou mal, mas um pouco menos.

Despi-me e deitei-me no chão, tendo na mão um celular que tem câmera fotográfica. Comecei a me fotografar. Estava muito, mas muito excitada mesmo! Depois de fotografar todo o meu corpo, fotografei a minha vagina por todos os ângulos. É como se eu quisesse guardar algo que a partir daquele momento tomaria outro sentido para mim.

Comecei a acariciá-la. Estava toda 'melada'. Então comecei a me masturbar. Colocava o dedo dentro dela e estimulava o clitóris. Meus braços são curtos e meus dedos também. Quase não a alcançava. Talvez sentada fosse mais fácil, mas eu estava deitada e não queria mudar de posição. Resolvi, então, lamber o dedo pra saber que gosto tem. É salgadinho, constatei. Uma delícia! Adorei! Achava que nunca faria isso. Mas adorei mesmo! Divino! Achei que fosse ter nojo, sei lá... Mas não tive. Talvez por isso eu não pudesse nunca pensar numa relação homossexual.

Fiquei assim por muito tempo amando essa sensação, porém sem gozar. Insisti. Resolvi lamber a ponta de um dos dedos da outra mão. Em seguida iniciei um estímulo simultâneo num dos seios - uma das minhas maiores zonas erógenas - no mamilo. Uma mão no clitóris revezando com o interior da vagina e a outra no mamilo. Que delicia!

Insisti, continuei, estava obstinada. Não pararia enquanto não conseguisse sentir o melhor dos orgasmos da minha vida. Explorei tudo o que queria, sozinha, eu comigo mesma, sem ninguém para dizer o que devia ou não fazer, ninguém para por limite a nada. Insisti. Continuei de modos diferentes.

Trocava de mãos, de vez em quando. Estava cada vez mais excitada. Sentia um rubor enlouquecedor nas faces. Minha vagina era o foco principal, explorava-a a cada milímetro e revezava com os mamilos, ora o esquerdo, ora o direito. Procurei algo no banheiro que pudesse introduzir nela, mas não achei nada.

Tornei a deitar no chão e iniciei uma nova série de estímulos. Acariciava minha barriga, as minhas coxas. Sabia, ou melhor, achava que ia conseguir. Não podia e não queria parar. Queria muito aquilo. Precisava muito. Queria muito mesmo. Resolvi, com uma das mãos, abri-la e com a outra segurar, suavemente o clitóris, como se fosse um minúsculo pênis. Fiz como vejo os homens fazerem com os seus pênis. Vagarosamente, delicadamente, suavemente, porém vigorosamente, deliciosamente, num malabarismo de corpo, evitando fazer qualquer barulho.

Não sou escandalosa, mas tinha vontade de gritar. Estava quase gozando e não podia nem gemer; e aquela sensação de prazer, aquele arrepio tomava conta de todo meu ser.

Abri os olhos ainda deitada naquele chão já com a temperatura do meu corpo, percebi o basculante do banheiro aberto, nas suas frestas e um grande prédio que se agigantava atrás do meu. Podia ver algumas janelas abertas e luzes acesas no prédio vizinho. Fechei os olhos e imaginei que tinha uma platéia me observando excitada em cada uma das janelas com luzes acesas. Não me dava conta de que as frestas deveriam ser pequenas, quando vista de fora. Nessa hora insisti, com mais vigor, acariciava os mamilos, que a essa altura já estavam intumescidos.

Gozei! Continuei fazendo. Não parei enquanto não terminei de gozar. Foi um gozo espetacular. Nunca imaginei que pudesse ser capaz de gozar sozinha. Foi incrível, fantástico, maravilhoso, divino, celestial mesmo! Eu nunca vou me esquecer... Isso foi hoje, depois do dia da mulher, às três horas da madrugada, mais ou menos.

Nesse momento eu senti muita vergonha do que fiz, mas ao mesmo tempo pude me apaziguar pois estava sozinha. Acho que fiquei ainda tentando durante muito tempo, mas não posso precisar quanto. O que sei é que, mesmo demorando muito, descobri que posso fazer isso sempre e a hora que eu quiser.

03 fevereiro 2009

O EU – O ENIGMA DA ESFINGE

Como eu me vejo, tu me vês.
Sou conhecido por nós,
uma janela aberta para o mundo.
Sabemos tudo sobre mim.

Se eu me vejo e tu não me vês.
Escondo-me em mim mesmo,
como um caramujo.
Eu sou essa metamorfose ambulante.

Mas se eu não me vejo como tu me vês.
Quem sou eu?
Sejas meu espelho,
só preciso que me digas.

Eu não me vejo, mas tu também não me vês.
Eu sou o enigma da esfinge,
cego e sem bengala.
Eu sou o elo perdido de mim mesmo.

Tendo para a amplitude.
Um corpo aberto no espaço.
Caminho no escuro.
Quão infinito é o meu percurso...

Uma janela aberta para o mundo,
essa metamorfose ambulante.
Quem sou eu?
O elo perdido de mim mesmo, o tudo e o nada!

17 janeiro 2009

UMA BELA SURPRESA

Andrea estava sentada na ante-sala do Dr. Figueiredo acompanhada de sua mãe, quando foi chamada pela secretária. D. Marta pediu, com delicadeza, que a mãe de Andrea aguardasse. Alguns minutos depois, o Dr. Figueiredo veio à porta e dirigiu-se à mãe de Andrea, avisando-a que a entrevista duraria pelo menos duas horas. Andrea já estava acomodada em uma poltrona colocada a frente do seu bureau e aproveitava para olhar em toda a volta daquela sala que ela visitaria várias vezes, sem saber ainda.

Dr. Figueiredo observava-a em silêncio, admirando a sua beleza, o seu corpo, os seus seios durinhos e naturais de uma moça que estava prestes a completar a maioridade. Seus lábios carnudos chamavam-lhe a atenção. Ele sentiu-se incomodado com a excitação repentina e irresistível. Estava acostumado a enfrentar essas situações. Entrevistara centenas de moças para o escritório que dirigia. E não era conhecido como um garanhão pegador. Talvez porque tivesse um nível de exigência muito alto. Além de ser muito discreto em suas escolhas. Andrea, sem duvida alguma, encantou-o e fugia do padrão corriqueiro. Havia algo nela que se contrastava. Além do mais, o seu aspecto tímido e a companhia da mãe, naquela idade, não eram comuns nas entrevistas.

- Você está em que período? Perguntou, afrouxando a gravata que o sufocava.

- Oitavo período. Formo-me no ano que vem. Respondeu sem olhar para ele.

- Ah! Então teremos você por aqui por uns dois anos, mais ou menos. Mas me diga, por que sua mãe também veio? Perguntou interessado.

- Ela é assim mesmo, não me deixa fazer nada sozinha. Respondeu com simplicidade.

Misturar relações de trabalho com relações sexuais, não era muito o estilo dele. Contudo diante de uma situação irresistível ele acabaria cedendo. No fundo, no fundo ele também era tímido e temia que D. Marta descobrisse alguma coisa.

Enquanto conversava sobre os afazeres do estágio, convidou-a a sentar-se ao seu lado no sofá. Andrea tinha uma voz levemente rouca e fazia trejeitos com a cabeça para arrumar os cabelos que, dava um toque sensual. Entretanto mantinha a sua bolsa em seu colo, como que, para protegê-la.

Ele já completara a entrevista, mas ainda tinha pela frente a metade do tempo que prometera à sua mãe. Ela, por sua vêz, mantinha uma calma inquebrantável. Com paciência, ouvia as explanações dele que, logo depois deu por terminada a entrevista. Chamou D. Marta para formalizar o contrato. Andrea começou a trabalhar no dia seguinte.

Dr. Figueiredo não conseguia tirar Andrea de sua cabeça. Uma semana depois, mandou chamá-la ao seu gabinete. Acomodou-a no sofá. Ela sentou-se colocando a bolsa no seu colo. O cenário era praticamente o mesmo da primeira entrevista. Ele começou perguntando se ela estava gostando do estágio e outras coisas triviais. Ela sempre respondia com uma delicadeza que, não lhe dava a menor chance partir para investidas mais atrevidas. Demonstrava uma indiferença nesse aspecto. Isso o deixava desconsertado.

Durante os dois meses seguintes, repetia-se a cena sem sucesso nenhum para ele. Então, resolveu convidá-la para almoçar. Ela delicadamente descartou o convite com uma desculpa infalível. Ele já estava muito nervoso com aquela inusitada situação. Pediu à D. Marta que dissesse a ela que ele tinha um relatório importante e precisava dela até depois do expediente.

Ela entrou no gabinete com o mesmo ar provocativo e faceiro que o encantou e o seduziu. Quando entrou, ele ostensivamente trancou a porta por dentro, colocando a chave no seu bolso. Partiu para uma investida que não gostaria de usar. Confessou a sua paixão e o seu desejo por ela. Enquanto falava, tirava o paletó, a gravata e desabotoava a camisa. Ela sentada no sofá, aceitava quase passivamente a sua ofensiva. Apenas abriu a blusa, deixando expostas algumas partes dos seios lindos e pontiagudos de excitação. Beijaram-se apaixonadamente. Confessaram juras de amor. Enquanto ele beijava-a tocava em todos os lugares possíveis. Ela correspondia deixando-se tocar em quase todo o corpo. No entanto mantinha a bolsa em seu colo com firmeza. Com a outra mão correspondia aos afagos.

Sentindo que a sua investida já fora longe demais para aquele momento, o Dr. Figueiredo deu-se por satisfeito e correu para o seu banheiro privativo. Masturbou-se gozando quase que instantaneamente.

Quando retornou à sala, Andrea já estava recomposta. Pegou a chave da porta em seu bolso e saiu, dando-lhe dois beijinhos no rosto. Um de cada lado. Ele repetiu essas investidas algumas vezes durante seis meses. Já estava visivelmente nervoso por não conseguir concluir o seu intento.

Numa bela manhã ensolarada, ela ligou diretamente para o seu gabinete. Comunicou que estava se demitindo naquele instante. Perguntou se ele aceitaria ir, com ela, a um motel. Ele prontamente aceitou, pois viu aí a possibilidade de realizar o seu desejo.

Quando chegaram ao motel abraçaram-se e beijaram-se longamente. Ela pegou-lhe pela mão e dirigiu-se à cama, dizendo que deixaria que ele fizesse qualquer coisa. Acrescentou, porem, que tinha uma surpresa para ele. Pediu que ele se despisse no banheiro, pois tinha vergonha de ficar nua na sua frente. Quando ele retornou encontrou-a de bruços. Coberta apenas pelo fino lençol. Ele entendeu que aquela seria a surpresa e penetrou-a por trás, gozando seguidas vezes.

Exausto, deitou-se de barriga para cima e pediu que ela se aproximasse. Ela veio mansamente beijando-o apaixonada. Pela primeira vez ficaram frente a frente. Ele num único golpe, virou-a e deitou-se sobre ela. Sentiu uma coisa estranha encostando-se ao seu pênis e afastou-se assustado. Olhou para ela e para aquilo, num misto de horror, indignação e surpresa.

- Essa é a surpresa! Ela falou, baixinho.

Ele sentou-se. Não sabia se ria ou se chorava. Não sabia se sentia ódio ou amor. Se fugia ou se ficava. Inúmeros pensamentos vieram à sua cabeça, sem que nenhum se fixasse. Ficou assim, bestificado, por algum tempo, até que ela perguntou, com a voz trêmula:

- Você me ama?

- Claro! O amor é cego, porra! Respondeu quase gritando.

13 dezembro 2008

DEPOIS DA CHUVA

Por Rogério Silva


Doutor, o que eu quero falar hoje é alguma coisa que, para mim, tornou-se um martírio que me consome e me oprime diariamente. Ainda não sei direito quais os sentimentos que me tomam. Só sei que são múltiplos. Prazer, vergonha, desejo, autoflagelação, dor, medo, volúpia, sei lá! Talvez ao relatar eu encontre os motivos dessa angústia.

Na noite daquele sábado chovia tanto que resolvi me meter na única lan house aberta do Catete. Eu tinha um propósito para estar ali naquela hora. Queria encontrar com Lino. Eu me sentia perdidamente apaixonada por ele. Não o encontrei na rede. Aproveitei para ficar em dia com meu e-mail. Estava tão absorta nessa tarefa que nem percebi quando Jony entrou. Primeiro, por que ainda não o conhecia e segundo, por que estava tão entretida no que fazia para perceber qualquer aproximação.

Ele sentou-se atrás de mim, numa mesa mais distante. E fez-se notar, para mim, pelos toques insistentes do seu celular. Parecia que falava com uma menina. Ela não queria aceitar alguma sugestão da mãe. Foi o que deu para perceber. Num estilo paternal, ele lhe dava bronca em voz baixa, mas não o suficiente para que as outras pessoas que estavam na lan não ouvissem, parecia estar bastante irritado com ela. O seu celular ainda tocou outras vezes. A cada instante que tocava eu o olhava instantaneamente. Havia nele alguma coisa que me atraia. Não sei se por que não encontrei Lino, mas o fato é que não resistia àquela atração. Fiquei observando-o, com admiração e interesse. Olhei para a tela do seu computador e percebi que estava no MSN. Instintivamente, dei um impulso na minha cadeira, com rodinhas, para trás, até parar ao seu lado. Nossas máquinas estavam posicionadas, uma contrária a outra. Toquei em seu braço e sorrindo, perguntei baixinho se ele gostaria de me adicionar ao seu MSN? Ele, que estava com fones de ouvido não entendeu. Retirou o fone do ouvido e seriamente pediu que repetisse. Sorri sensualmente para ele, e repeti o convite. Ele respondeu que sim, então eu ditei para ele o meu endereço. Ele me disse o seu nome, João Paulo Medeiros. Mas no seu MSN era Jony. Laura. Apresentei-me e continuamos um de costas para o outro, em comunicação.

Sempre muito respeitosamente ele me perguntou algumas coisas pessoais e me contou outras tantas suas. Depois queria saber o que eu fazia, se era casada, se tinha filhos e coisas desse tipo. E ainda quis saber onde eu morava. Falei que sou descasada, tenho uma filha quase na universidade e moro numa cidade do sul do estado.

- E onde você fica quando vem aqui? Ele perguntou. Entendi perfeitamente que ele se referia à cidade, mas num tom de gracejo respondi:

- Numa lan house! A resposta veio quase que instantaneamente. Rimos muito desse tipo de brincadeirinha. Foi muito divertido e serviu para nos deixar mais à vontade!

Como eu já pretendia ir embora, sinalizei que já iria sair e ele me ofereceu uma carona até a casa de mamãe onde disse que estava hospedada. Ficava perto, há algumas quadras dali. Não seria necessária uma carona, mas que se ainda chovesse eu aceitaria. Ele insistiu, dizendo que seria um prazer de qualquer maneira. Agradeci e perguntei a que horas ele iria embora. Respondeu que estava ali só passando tempo e que poderia sair na hora que eu quisesse. Imediatamente desliguei o meu computador e fui até a recepção fechar a minha conta. Ele fechou a dele também e saiu na minha frente. Esperou-me na porta. Ainda chovia e a carona tornou-se inevitável.

Parou o seu carro no portão da casa de minha mãe. Uma casa antiga, de porte médio como uma das poucas que ainda sobrevivem no bairro. A casa possui uma varanda na frente e garagem. Os cachorros que já me conhecem, chegaram silenciosos. Não havia ninguém. Coisa que ele reparou, pois as luzes estavam quase todas apagadas. Perguntou pelos habitantes da casa. Minha mãe havia viajado e minhas irmãs estavam com seus namorados em algum lugar da cidade. Elas moravam ali sozinhas com meu irmão que esta quase sempre fora em viagem. Eu não quis dizer que minhas irmãs ainda eram jovens e bonitas para não despertar curiosidades e ser preterida por elas, como sempre acontece.

Inconvenientemente ele se convidou para entrar. Para tomar um café ou uma água, quando ficou certo de que não tinha ninguém na casa. Minha mãe não gostaria que se trouxessem pessoas estranhas quando ela não estivesse. Disse-lhe num tom que não deixava a menor oportunidade para retrucar e acrescentei.

- E além do mais, a casa tem câmeras espalhadas por todo canto e alarme de segurança que toca em outro lugar secreto com vigilantes armados. Ele sentiu-se intimidado e não insistiu. Resolveu ir embora dali mesmo e perguntou se poderia me dar um beijo de despedida. Disse que sim aproximando o rosto de sua boca. Virei-me e dei a outra face para um beijo formal, entre duas pessoas que acabavam de se conhecer. Aproveitando a aproximação, ele me disse ao pé do ouvido.

- Adorei o seu cheiro! Entendi que falara perfume e, disse que não uso perfume.

- O perfume de que falo é o seu próprio cheiro. É muito excitante! Acrescentou com ar de superioridade e conhecimento. Ofereceu-me o numero do seu celular, pedindo que ligasse quando estivesse de volta a cidade para sairmos. Nessa hora quis saber de meus gostos, se bebia e se fumava. Como lhe respondi negativamente perguntou se era por causa de alguma questão religiosa, o que prontamente descartei. Ele se animou e numa nova tentativa de conquista, começou a me galantear dizendo que eu ainda era muito nova para ter uma filha na universidade. Perguntei então quantos anos ele me dava. Ele respondeu imediatamente, sem pensar, trinta e cinco. Eu me senti linda! Ele me disse que tinha trinta e oito anos, mas desconfiei. Achei-o mais velho que a idade que eu tenho. Mas ele era muito bonito, forte, simpático e inteligente. Aproveitou para falar mais de si. É professor de história, tem mestrado em relações internacionais e aparenta erudição. De sua vida íntima acrescentou ter apenas uma filha, de sete anos, mas que valia por duas. Nunca foi casado e não tem nenhum relacionamento fixo há quatro anos. Pensei: “Oba! Disponível! Na minha medida!” Pensei, mas não disse.

Certo de já ter captado a minha confiança, ligou o carro e convidou-me para sair. Aceitei, não imediatamente, por uma questão de charme. Ele saiu sem dizer, ou perguntar, aonde iria e falou num tom suave e com um leve sorriso nos lábios.

- Estou adorando essa fantasia! Eu perguntei imediatamente, sem pensar:

- Qual?

- Estou amando ter sido escolhido por você para ser o seu homem hoje. Para fazer amor contigo. Respondeu aparentando felicidade. Parecia uma criança prestes a ganhar o brinquedo predileto. Ao mesmo tempo em que falava coisas carinhosas que me deixavam excitada, disse também um monte de palavras chulas num misto de doçura e agressividade. Fiquei muito assustada e perguntei por que estava falando aquelas coisas.

- Fiquei muito excitado com essa idéia de ter você. Adoro mulheres sedutoras e de atitude. Concluiu com suavidade, mas olhando-me nos olhos de um modo muito incisivo. - Quero levá-la a minha casa. É um lugar pequeno, modesto, onde eu tenho meus livros, meus discos e recebo as pessoas que gosto. Disse isso já manobrando para parar em frente ao prédio.

- É aqui. Disse isso desligando a chave do carro e voltando-se para a minha direção, sem me dar a chance de retrucar.

Olhei para fora do carro, ainda chovia, estávamos na subida de uma ladeira, era um prédio pequeno, realmente modesto, antigo, cinza e pouco iluminado. A rua também. A portaria estava escura num sinal de que não havia porteiro. Comecei a ficar com medo. E disse isso a ele. Meu corpo começou a tremer de medo. Medo mesmo. Medo de estupro, de morte. Não sabia se estava diante de um psicopata. Imediatamente acudiu-me a idéia, várias cenas do livro o Psicótico de Leonard Simon, como num filminho em que essas cenas passaram em segundos. Seria ele como o Artur Moss do livro? Pensei.

Como quem está na chuva é para se molhar mesmo, pensei procurando em mim alguma coisa que me desse força para enfrentar o que estava por vir. O horror me tomava e ao mesmo tempo lambia-me o íntimo uma excitação. Era tão grande que eu sentia o suor correr em meu rosto, apesar do frio. Minha calcinha parecia encharcada, mas tão encharcada que instintivamente fechei mais as pernas numa tentativa de esconder a calça molhada. O escuro do carro me protegia, mas ele não tirava seus olhos dos meus. Com um cigarro no canto da boca deu um risinho sinistro. Mas antes de acendê-lo, perguntou se eu me importaria que acendesse. Nessa hora senti uma possibilidade de dominar um pouco a situação e pedi que não acendesse. Imediatamente ele guardou o cigarro, dizendo, sem graça, que sempre que estava com alguém perguntava, por educação. Parecia um cafajeste cavalheiro. Se existe essa combinação, eu estava diante de um legitimo espécime. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Com muito medo, resolvi entrar em seu joguinho! Jony me pedia que eu não tivesse medo! Tentava me acalmar, mas ao mesmo tempo tinha uma cara de dar pavor. Dizia que eu iria gostar. De forma dura e incisiva começou um discurso que eu ainda não havia consentido.

- Eu sou um puto e adoro putas. Disse de um jeito que não me senti ofendida. Senti que houve em mim uma transformação. Comecei a gostar do que estava acontecendo. Já adentrávamos o apartamento quando ele exercitou o máximo da intimidade. Parecia que já nos conhecíamos há muito tempo e aquele era apenas mais um encontro.

- Vou enterrar o meu pau durinho dentro dessa bocetinha. Vou meter fundo. Depois no cu. Falou num tom de conhecimento de causa. - Quero lambê-la toda. Começando pela boca e ir descendo, pelos peitinhos, enfiar a língua no seu umbigo e descer mais, até atingir quase o seu útero enquanto você chupa o meu pau. Descrevia tudo o que estava para acontecer como se já tivesse sido ensaiado antes, ou se tivesse transmitindo um acontecimento. Aquilo me dava um misto de excitação e medo. Tirou o seu casaco bege e a camiseta preta, deixando a mostra o seu peito nu e musculoso. Filmava-me com os seus olhos. Sua boca parecia a de um lobo faminto diante da sua presa. Não me fiz de rogada, tirei minhas calças. Ele me pegou com vigor e arrancou-me a blusa. Com vigor, porém com suavidade, se é que isso é possível. Avisei, com cara de puta, que não queria sentir dor e pedi que usasse camisinha. Ele aquiesceu e me disse que só sentiria dor se eu quisesse. Caso contrário, sentiria apenas prazer. Muito prazer! Falava sempre olhando nos meus olhos. Ou melhor, dentro dos meus olhos. Nesse ponto eu me sentia completamente invadida pela sua imagem, pelo seu cheiro, pela sua voz, pelo seu corpo. A sua língua rebolava com a minha em minha boca. Já o via inteiramente embora estivesse de olhos fechado. Intimidava-me, mas não demonstrei mais medo. Sentou-me sobre a cama e beijou-me ardentemente, enquanto desabotoava meu sutiã, demonstrando muita intimidade com o fecho. Acariciou-me, beijou-me, lambeu-me toda: dos pés à cabeça. Gozei facilmente. Parou e falou algumas coisas das quais não me lembro, pois estava extasiada naquele momento. Eu já estava quase sem sentidos. Perguntou-me outras coisas que se tornaram ininteligíveis também pelo mesmo motivo. A única coisa que entendi foi quando ele disse:

- É um crime deixar uma fêmea como você, no cio e sozinha!

Ele se sentia na obrigação que fazer alguma coisa. Aquilo que estava fazendo! Dava-me muito prazer! E queria saber se eu já estava satisfeita ou se queria mais. Respondia que queria mais. Queria muito, mas quase não conseguia mais falar. Nesse momento mandou que eu me ajoelhasse na beirada da cama. Que ficasse de quatro. Eu obedecia com muito desejo. Veio por de trás, pôs a mão esquerda nas minhas costas e com a outra me agarrou os cabelos, na altura da nuca. Enfiou o seu pau na minha vagina e descrevia antecipadamente passo a passo cada nova investida. Agora eu vou fazer isso, você vai adorar. Ou então, agora vou pegar você assim e você vai ao céu! Fazia perguntas como: sua puta, você gosta disso ou daquilo? E fazia sempre o que eu queria, com muita força. Tinha uma pegada forte! Eu me sentia entregue. Irresistivelmente entregue!

Quando eu pensava que ele já estava satisfeito, começava tudo de novo. Penetrou-me por trás com suavidade, segurando meus cabelos, fazendo com que virasse a cabeça na direção do espelho, sempre falando coisas no meu ouvido. Era um espelho pequeno, mas ficava na minha frente mesmo, era só levantar a cabeça. A mão, que antes estava nas minhas costas, desceu e entrou com dois dedos juntos em meu ânus. Pela primeira vez senti uma dupla penetração. Até o tempo parecia estar sob o seu comando. Repetimos todas as coisas sempre como se fosse à primeira vez até que adormecemos exaustos. Não sei quem dormiu primeiro. Só sei que quando eu acordei, já estava claro com o sol atingindo quase o meio do quarto. Coisas dessa cidade, nos dias primaveris! O cheiro de sexo exalava da cama, das roupas e até o ar parecia cúmplice daqueles momentos. Continuei deitada por algum tempo procurando saber que sentimentos eu levava daquela experiência. Reparei que Jony já se levantara e chamei-o por duas vezes:

- Jony. Jonyii! Sem obter nenhuma resposta. Tentei levantar-me. Estava nua. Envolvi-me no lençol e sentia a pélvis, as pernas e o ânus docemente doloridos. Meio cambaleante dirigi-me à sala onde encontrei a mesa de café pronta. Uma xícara usada e outra limpa para mim, que logo me pus a utilizá-la. Jarros com rosas e flores do campo ornavam a sala e eu não via neles nenhum cartão pendurado. Não dei muita importância a esse fato. De repente eu vi um envelope entre o bule de leite e o açucareiro. Pequei o envelope que dizia em letras grandes: ‘meu amor’. Estava semi-aberto e pude perceber que continha várias notas de R$ 50,00, que não contei, e um bilhete que abri sem pensar, deixando as notas do jeito em que estavam.

O bilhete era dirigido a mim, embora não tivesse nenhum nome: - Minha querida, hoje foi, sem dúvida nenhuma, o dia mais importante da minha vida e gostaria que você soubesse que fez parte dele. Tudo o que aconteceu entre nós foi divino e pareceu-me uma dádiva. Um presente do céu. Tudo o que fiz com você, teve para mim, o sabor de primeira vez. Não sei se poderei repetir essa experiência com você. Mas eu sei perfeitamente como você se sente, pois já me senti no seu lugar. Já me senti sendo penetrado por um homem forte, me dando amor, carinho me fazendo ir às nuvens em gozos múltiplos e sem poder fazer com ele o mesmo que ele fazia comigo. Graças a você eu aprendi. Agora eu sei que posso satisfazê-lo como ele sempre me satisfez. Hoje Fred estará retornando de New York, de um seminário de artes que participou e eu estarei pronto para recepcioná-lo como ele merece e sempre desejou. Essas flores eu comprei para ele com muito carinho. São lindas, não são?

Não fique magoada comigo, -eu lia isso com as lágrimas escorrendo em meu rosto e uma profunda dor no peito como se estivesse sendo apunhalada- mas eu não iria conseguir falar disso, pessoalmente, com você. Esse dinheirinho é apenas um presente para que você possa comprar o que quiser e lembrar-se sempre de mim.

Não creio que voltaremos a nos encontrar, mas espero que tenha boas recordações minhas e seja muito, muito feliz.

O seu Jony.

Aquela carta abateu-me como uma bomba atômica. Deixei escapar num esgar, um grito lancinante, tão forte que percebi a movimentação da vizinhança curiosa com o que ouviu. Durante alguns instantes eu fiquei parada olhando aquele envelope, o dinheiro, o bilhete e as flores tentando entender a conexão disso tudo com o que vivi durante aquela noite de chuva. O sol já adentrava a sala mostrando a irreversibilidade do tempo. Seria impossível voltar atrás e desfazer tudo o que aconteceu. Meu corpo doía agora de outro modo. Minha pélvis, minha vagina, meu ânus, a minha boca, estavam secos. Uma secura de carinho, de amor, de sensualidade ou sei lá do quê! Eu queria fugir dali. Sumir como que por encanto, mas não podia. Levantei, minhas pernas não obedeciam, sentei novamente. Peguei o bilhete, reli, refleti e conclui. Afinal de contas, eu encontrei naquele lugar o que procurava com urgência. Sexo. Apenas isso. Um sexo selvagem sem amor e que eu gostei. Mas ali, definitivamente, não havia lugar para o amor. Lino estava tão longe dali e do pensamento. Instintivamente dobrei o bilhete como estava antes e coloquei-o de volta no envelope. Pensei em largá-lo daquele jeito, mas não resisti à tentação e peguei-o novamente rasgando em dois separando “meu” de “amor” com o bilhete e o dinheiro juntos. Deixei as duas partes na mesa, uma em cima da outra. Catei, num dos jarros, a rosa mais bonita que encontrei e quebrei o seu talo em dois, despetalando-a todinha em seguida e coloquei tudo sobre o envelope partido. Acabei de me arrumar e saí. Não sem antes olhar para trás e ainda na soleira da porta dizer, mesmo sem ter quem ouvisse: - Mas tem coisas que só uma mulher sabe fazer!

11 novembro 2008

UMA INCÓGNITA, UMA PAIXÃO

Por Rogério Silva

é verdade! você ainda me amava! eu sei!
para mim, você era alguém encantador!
carinhoso e apaixonado!
nunca antes, nem depois, encontrei igual!
entregou-se totalmente e atirou-se.
imaginou ter asas para voar.
caiu e machucou-se.
mas quem cortou suas asas?

só não percebeu que elas nunca haviam existido.
sofreu muito com isso.
não aceitou a inconstância dos sentimentos.
rebelou-se contra eles,
talvez por ter-se iludido,
talvez por um inexplicável sentimento de repulsão,
ou de abandono, sem carinho.
não sei. uma incógnita!


pensei conhecê-lo. mas qual das suas variantes?
perco-me em explicações que nada me explicam.
tento justificar a sua inércia.
a sua frieza. o seu desinteresse.
ou seria falta de coragem?
desconfio de tudo. de todos. fico tão confusa!
não acredito em mais nada.
dou-me conta que só arranjo justificativas vãs.

não acredito que você seja assim!
por baixo dessa máscara de meu garoto,
existe um menino,
uma criança carente, sem chão, com medo.
quer agarrar-se a qualquer coisa,
em alguém que seja forte.
mas eu nem sou tão forte assim!
sou apenas uma mulher só e apaixonada!


na minha fragilidade sinto você mais forte.
eu sinto mesmo que você me ama.
mas nem mesmo isso você me diz!
você não me dá nenhum sinal!
se pelo menos me pedisse alguma coisa,
se me quisesse de verdade,
se chutasse o balde por mim
e desse uma esperança!... umazinha!... sei lá!...


por que ainda me preocupo com isso?
por que ainda procuro explicações?
não sei! não sei o quanto você se importa,
mas sei o quanto eu me importo.
talvez você me julgue egoísta e presunçosa.
deve estar sofrendo por isso.
e também porque eu não o procuro mais.
mas eu não posso ficar esperando-o.


ainda sou jovem apesar de impetuosa.
gosto de ser mulher e dos prazeres da vida.
procuro um amor de verdade.
um verdadeiro amor só pra mim.
o espelho já me avisou!
falta pouco para mim também.
tenho urgência!
afinal, eu descobri que não sou imortal!

08 setembro 2008