05 maio 2010

AMIGO, QUE PAPO É ESSE?

Indagado sobre quais seriam os limites do amor e do sexo, ponderei: será que eu sei? A pessoa que indaga se diz carente, está descasada há anos, não consegue um namorado firme e quer saber se é possível ir para a cama com um amigo que quer “comê-la” a todo custo e ainda assim continuar amigo. Investiga se isso é possível, ou se só é possível fazer isso com um colega, que considera uma categoria menor, mais distante, ou com um amante/namorado, cuja implicação é óbvia.

O que sabemos nós sobre amizade, coleguismo e amor quando o interesse pelo sexo entra justamente para dar conta de uma carência? Parece que essa distinção nos impede de ver o que é comestível ou não. Todos são comestíveis e se comidos não há porque mudar a categoria, o que até pode acontecer. É que quando o comer confunde a cabeça do comedor e/ou do comido, este corre perigo de naufragar.

Só para lembrar o grande poeta português Fernando Pessoa “navegar é preciso, viver não é preciso”. Isso define a precisão de métodos e instrumentos para navegar, enquanto que para viver basta viver. Ainda com esse mesmo autor, no Poema do amigo aprendiz

Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias…

Às vezes sou obrigado a me render a Roberto Carlos, embora não o aprecie a miúde, e assentar o poema de Erasmo Carlos, Amada amante

(…) faz da vida um instante
ser demais para nós dois
esse amor sem preconceito
sem saber o que é direito
faz a suas próprias leis
que flutua no meu leito
que explode no meu peito
e supera o que já fez (…)

Talvez por tudo isso fique tão confuso ser amigo, colega ou amante e depois de uma relação sexual reconhecer-se como tal.

Ainda bem que somos humanos para compreender o amor como forma de aproximação entre pessoas e a sua capacidade lúdica de trocas e prazeres. Uma atividade pulsional que ultrapassa uma simples união para procriação e perpetuação da espécie.

O artigo: “A Linguagem Interminável dos Amores”, da psicanalista Olivia Bittencourt Valdivia apresenta uma indicação da relação entre o amor e a sexualidade, numa visão psicanalítica e também que "...um Freud humano e apaixonado nos deixa os mapas de sua exploração." Este em seu percurso amoroso e sensual e autorizado por uma longa experiência clínica, há muito se interrogava sobre a vida amorosa dos homens.

Em fins do século XIX tentando entender a histérica percebeu que talvez ela quisesse dizer alguma coisa com o seu corpo. Alguma coisa que não conseguia dizer com palavras. E a histérica falou do sexo, do amor, do ódio e da culpa. Freud, inaugurou o lugar da Psicanálise, que é na verdade o lugar de uma relação de amor. Nesta relação a libido refaz seus caminhos até a possibilidade de uma relação de amor com o analista, que abre esta possibilidade para a vida do analisando. Freud revolucionou a compreensão da noção de sexualidade colocando o sexual no registro do pulsional, estabelecendo a ideia de uma impossibilidade de satisfação, só encontrada através da fantasia.”


Para o filosofo, “Só sei que nada sei” não é a divisa da filosofia e muito menos um apelo à ignorância, mas uma provocação àqueles que se apresentam como sábios e detentores das verdades. Na boca de Sócrates, “só sei que nada sei” é a expressão da ironia, essa arma filosófica apontada ao ridículo dos sábios fechados em si mesmos, prepotentes, pomposos.

Ontem como hoje, são muitos esses sábios que se tomam a sério e querem que os tomemos também, mas que são incapazes de partilhar conosco os segredos desses saberes que dizem possuir.

Portanto amigo, que papo é esse?

Um comentário:

ANA ROOS disse...

gostei demais do blog...