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02 agosto 2009

CONSELHO PUNE PSICÓLOGA QUE OFERECIA TERAPIA PARA CURAR GAYS E LÉSBICAS


De acordo com a entidade, homossexualidade não constitui doença, distúrbio ou perversão
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) decidiu nesta sexta-feira aplicar uma censura pública à psicóloga carioca Rosângela Alves Justino, que oferecia terapia para curar o homossexualidade masculina e feminina. Ela infringiu resolução do CFP, de 22 de março de 1999, na qual a entidade afirma que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão.

A punição aplicada pelo CFP a Rosângela foi menor do que poderia ter sido. A psicóloga estava sujeita à suspensão do exercício profissional por 30 dias ou, até mesmo, à cassação do registro. Entretanto, os conselheiros decidiram, por unanimidade, que a censura pública era a medida mais adequada no caso.

04 junho 2008

POR UMA QUESTÃO DE DIREITO

03/06/2008 - 22h25

STF rejeita pensão para mulher que teve 9 filhos de seu amante por 37 anos

FELIPE SELIGMAN

da Folha de S.Paulo, em Brasília

Entre os mais de 100 mil recursos que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), um deles chamou nesta terça-feira a atenção dos ministros da 1ª turma da Corte: a relação entre o fiscal de renda Valdemar do Amor Divino e sua amante, Joana da Paixão Luz, ambos baianos. "Com o sobrenome de ambos, estava escrito nas estrelas que eles tinham que se encontrar. É o encontro entre o Amor e a Paixão", brincou o ministro Carlos Ayres Britto.

De fato, eles se encontraram. Do amor, que durou 37 anos, nasceram nove filhos. Valdemar morreu no final dos anos 90, mas não foi Joana quem recebeu pensão.

O direito ficou para sua verdadeira esposa, Railda Conceição Santos, com quem Valdemar teve outros 11 filhos. Joana, porém, pedia a partilha dos recursos pagos mensalmente para Railda pelo Fundo Previdenciário dos Servidores Públicos da Bahia, alegando relação estável.

O recurso, cuja ação inicial foi protocolada em 2001 na Justiça da Bahia, foi negado pelos ministros da turma, por 4 votos a 1. O argumento de Britto foi vencido. Os demais ministros entenderam que Valdemar viveu relação estável com Railda e "concubinato" com Joana.

"Concubinato é compartilhar o leito e união estável é compartilhar a vida. Para a Constituição Federal, a união estável é o embrião de um casamento", afirmou o ministro Ricardo Lewandowski durante a sessão, ao justificar o seu voto.



Por Rogério Silva

Parece que o direito brasileiro resolveu assumir de vez que o Brasil é uma nação laica, como disse o Lula na época da visita do papa Bento XVI ao país.

Em menos de uma semana, o Superior Tribunal Federal votou contra ao questionamento de inconstitucionalidade da pesquisa com células-tronco embrionárias. Agora votou a favor da relação estável de Waldemar com Railda.

Não há dúvidas de que em ambos os casos o direito era líquido e certo. Contudo, também não há duvidas que em ambos os casos o direito tenha titubeado em questões divinas. É que no primeiro caso a vida in vitro estava em jogo, enquanto no segundo caso era o Amor Divino e Paixão Luz quem comandavam o espetáculo. O STF não se deixou enredar pelo amor divino, nem pela luz da paixão e a laicidade se fez mais óbvia.

Esperamos que em próximas demandas essa laicidade permaneça presente.



30 maio 2008

MORRE EM SÃO PAULO AUSTREGÉSILO CARRANO BUENO

Morre aos 51 anos Austregésilo Carrano Bueno, escritor que inspirou 'Bicho de sete cabeças'

O Globo Online

SÃO PAULO - O escritor Austregésilo Carrano Bueno, de 51 anos, cuja história de vida inspirou o filme "Bicho de sete cabeças", da cineasta Laís Bodanzsky, estrelado por Rodrigo Santoro, faleceu às 17h40 desta terça-feira, dia 27 de maio, após passar menos de 24 horas internado no Hospital das Clínicas em São Paulo.

Ele deu entrada na emergência do hospital na segunda-feira, dia 26 de maio, em estado séptico avançado, devido a neoplasia do fígado (câncer) em estado terminal, de acordo com informações da assessoria do hospital. O quadro era bastante grave e não foi possível reverter a situação.

Austregésilo Carrano Bueno escreveu "Canto dos Malditos", livro no qual relata o sofrimento que passou em hospícios de Curitiba e do Rio de Janeiro, nos quais foi internado pelo pai à força aos 17 anos. O escritor nasceu em 1957, em Curitiba , Paraná.

Foi representante nacional dos usuários na reforma psiquiátrica do Brasil e recebeu em 28 de maio de 2003 uma homenagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por sua luta e empenho na construção da rede nacional de trabalhos substitutivos aos hospitais psiquiátricos no Brasil.


28 maio 2008

STF: PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS TÊM QUATRO VOTOS A FAVOR

Cláudia Andrade

De Brasília

O julgamento das pesquisas com células-tronco embrionárias tem agora quatro votos a favor, dois "parcialmente" contra e um favorável, mas com ressalvas. O que está sendo julgado é uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) que contesta a permissão desse tipo de pesquisa, com base no princípio constitucional do direito à inviolabilidade da vida. Os ministros Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia, Ellen Gracie e Carlos Ayres Britto se manifestaram contra a Adin e, portanto, a favor das pesquisas.


Ricardo Lewandowski e Menezes Direito se disseram "parcialmente" a favor da Adin, propondo restrições às pesquisas, com ênfase na proibição da destruição de embriões. Eros Grau também é contra a destruição, mas não considerou a Lei de Biossegurança - que permite as pesquisas com células-tronco embrionárias - inconstitucional; apenas sugeriu alterações à mesma. Essa defesa ainda deverá ser discutida pelos ministros, como previu o próprio presidente do Supremo, Gilmar Mendes.

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27 maio 2008

DIREITO À VIDA COM PRAZO DE VALIDADE

Por Rogério Silva

Em abril do ano passado escrevi uma postagem neste blog PRÓ-CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS. Na ocasião era demonstrado um marco na história do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 178 anos de existência, a mais alta corte do Brasil realizou, pela primeira vez, uma audiência pública. Com o objetivo de ouvir cientistas sobre a lei que autoriza a realização no país de pesquisa com células-tronco embrionárias. Isso só confirmava a aposta de investigadores do mundo inteiro para a cura de várias doenças ainda incuráveis, como mal de Parkinson, diabetes, doenças neuromusculares e secção da medula espinhal por acidentes e armas de fogo e etc..

Foto: célula tronco de embrião de rato.

O julgamento foi iniciado e suspenso no dia 5 de março deste ano, após um pedido de vista do ministro Carlos Alberto Menezes Direito. Antes disso, o relator da ação, ministro Carlos Ayres Britto, e a então presidente do Supremo, ministra Ellen Gracie, votaram contra a ação e a favor da pesquisa com células-tronco embrionárias.

Os lobbies a favor e contra o uso de embriões humanos em pesquisa se intensificaram nas vésperas da retomada do julgamento da ação direta de inconstitucionalidade sobre o tema pelo STF (Supremo Tribunal Federal), marcada para amanhã.

Hoje a lei brasileira já permite a utilização de embriões produzidos em laboratório para fins de reprodução assistida. Contudo não abrange todos os casos. Autoriza apenas o uso daqueles inviáveis para gestação ou congelados há mais de três anos, cuja probabilidade de gerar um ser humano é praticamente zero. A lei prevê ainda que os embriões só possam ser utilizados após autorização dos genitores. Portanto, aqueles que tiverem qualquer restrição de ordem moral ou religiosa não terão seus embriões usados para fins de pesquisa. Com o passar do tempo, os embriões deterioram-se inexoravelmente, perdendo o “prazo de validade”. Por que então não utilizá-los de forma ética e responsável em benefício do futuro e da evolução da humanidade, salvando vidas?

Na prática, proibir a pesquisa com células-tronco embrionárias significará, de um lado, continuar dando aos embriões excedentes nas clínicas de fertilização um habitual e inglório destino: o lixo. De outro, tirará a esperança de cura – portanto, de vida – de milhares de pessoas.

Marcelo Gleiser chamou a atenção para o fim mais digno que pode ter um embrião condenado à destruição. Por que não participar de uma pesquisa que tem o potencial de salvar milhões de pessoas? A escolha parece semelhante, ao menos em parte, à dos que doam seus órgãos para transplantes. Ao menos partes de seus corpos poderão ajudar aqueles em necessidade, em vez de apodrecerem sob a terra ou de serem cremadas.

A questão do uso de embriões decretados inviáveis para reprodução na pesquisa médica deve ser separada da questão religiosa. A missão da ciência é aliviar o sofrimento humano. A da religião também. A única inconstitucionalidade aqui é ir contra os votos dos representantes do povo e impedir que essa missão seja cumprida.

Neste aspecto, a advogada da ONG Anis (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero) Gabriela Rollemberg foi ao Supremo e entregou no gabinete dos 11 ministros uma pesquisa sobre a legislação de 25 países na realização de pesquisas com células-tronco embrionárias. Somente a Itália usou o veto ao uso de embriões.

Em minha opinião o Brasil não pode se ausentar desse grupo, até porque já desenvolve pesquisas que o coloca em pé de igualdade e desenvolvimento.

Para os manifestantes contrários a essa permissão, o uso de células-tronco embrionárias fere o direito à vida. "Nós partimos de um princípio fundamental, o direito inviolável da vida, e essa vida para nós tem início na fecundação, porque, a partir da fecundação, nós temos já definido todo o DNA do ser humano que irá se desenvolver", diz Lopes.

Esses grupos também reiniciaram mobilização. Eles pretendem "abraçar" o STF na manhã de hoje e chamaram audiência pública na Câmara dos Deputados para a tarde, com a apresentação de pesquisa sobre a viabilidade de embriões congelados e comentários sobre o relatório de Britto. Também planejam fazer vigília na frente do tribunal na quarta-feira.

Apesar de contrária ao uso dos embriões, Cláudia Batista, da UFRJ, acredita que, sem um acontecimento "fora do esperado", a decisão deve ser pela liberação. Contudo como nós, brasileiros, já estamos cansados de ver votações contrárias ao interesse do desenvolvimento. Eu particularmente não me surpreenderia se decisão fosse a favor da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin).

Só nos resta esperar para ver.

Leia mais no link abaixo:

http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI472268-EI1434,00.html

http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2008/05/27/temporao_defende_pesquisas_com_celulas-tronco_embrionarias-546529787.asp

http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?602

http://www.celula-tronco.com/noticias.php?codigo=45

http://www.cib.org.br/apresentacao/cel_tronco_doc_alexandra.pdf

http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/index.htm

http://www.brasilescola.com/biologia/celula-mae2.htm

http://www.comciencia.br/reportagens/celulas/01.shtml

http://www.celula-tronco.com/

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u378546.shtml

http://www.youtube.com/watch?v=pTrwVJ7ctFQ

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/biologia/bio10b.htm


20 maio 2008

HENRY MOORE, FRANCIS BACON E LUCIAN FREUD

O Museu Oscar Niemeyer está apresentando uma seleção de obras gráficas de Henry Moore (1898-1986), Francis Bacon (1909-1992) e Lucian Freud (1922), que vai até agosto deste ano.


A exposição conta com a curadoria do venezuelano Félix Suazo e foi especialmente produzida para o MON. Reúne 47 trabalhos, elaborados entre os anos 70 e 90, que integram a coleção de mais de mil gravuras do Museu de Arte Contemporânea de Caracas.

Os três artistas de fundamental importância no século passado se identificam ao abordar a idéia do corpo e sua representação, abrangendo desde a mais estrita meticulosidade anatômica, no caso de Freud, até a simplificação estrutural de Moore, passando pela distorção expressiva de Bacon.

Quando se trata de corpo, eu sempre sinto a falta de dois outros artistas. Fernando Botero que é um pintor colombiano (1932), cujas obras destacam-se, sobretudo por figuras rotundas, o que pode sugerir a estaticidade da humanidade e Rom Mueck (1958) que é um escultor australiano hiperrealista que trabalha na Grã-Bretanha. Este escultor utiliza efeitos especiais cinematográficos para exemplificar o corpo humano. Esses dois artistas não fazem parte dessa mostra.

O que se pode encontrar em Moore, Bacon e Freud, é o discurso figurativo alimenta-se de temas cotidianos ou íntimos. Nos retratos, nus e estudos a imagem corporal manifesta diversos estados da condição humana, debatendo-se entre a dilaceração, a inapetência e a plenitude carnal... O corpo transfigurado em Bacon, a relação entre psique e gênero em Freud e o vínculo expressivo que se estabelece entre estrutura e sensualidade em Moore.

Na mostra, a cor em Bacon, o traço em Freud, o volume em Moore, denotam o modo como estes artistas manipulam as técnicas gráficas: Por um lado, Bacon e Moore utilizam a litografia de forma específica a cada um, inclinando-se respectivamente ao momento da cor ou linha, enquanto Freud se mostra de maneira muito versátil com a água forte e a ponte seca, aos quais vêm agregadas ocasionalmente as técnicas do pastel e da aquarela. Esta mostra procura registrar os paralelismos e as convergências características destes autores, tanto na técnica como na dimensão plástica, sempre enquadradas em dois eixos matriciais: a figura e a gravura. Bacon, Freud e Moore situam-se em um ponto intermediário entre as correntes realistas e as expressionistas, com algumas alusões ao surrealismo. Compartilham com estas correntes no aspecto figurativo, mas se diferenciam de suas posturas críticas e de seu impulso socializante.

Vale à pena conferir. Quem sabe na volta possamos trocar comentários.

Bacon, Freud, Moore, Figuras e Estampas

Período Exibição Público: 12 de abril até 10 de agosto

Patrocínio: Sanepar

Apoios: Ministério da Cultura, Governo do Paraná, Secretaria de Estado da Cultura, Caixa Econômica Federal, Governo da Venezuela, Ministério da Cultura da Venezuela e Fundação de Museus Nacionais da Venezuela.

Museu Oscar Niemeyer

Rua Marechal Hermes, 999

Centro Cívico – CEP: 80530-230

Telefone: (41) 3350-4400

Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h

Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes

(Não pagam crianças de até 12 anos, maiores de 60 anos e grupos agendados de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental)

26 abril 2008

ÉRAMOS TODOS NEGROS

Drauzio Varella

A você que se orgulha da cor da própria pele (seja ela qual for), tenho um conselho: não seja ridículo

ATÉ ONTEM , éramos todos negros. Você dirá: se gorilas e chimpanzés, nossos parentes mais chegados, também o são, e se os primeiros hominídeos nasceram justamente na África negra há 5 milhões de anos, qual a novidade?


A novidade é que não me refiro a antepassados remotos, do tempo das cavernas (em que medíamos um metro de altura), mas a populações européias e asiáticas com aparência física indistinguível da atual.
.

Folha de São Paulo, Ilustrada

Talvez fosse o caso de repetir a pergunta: “E se Lamarck estivesse certo?” como fez Mauro Rabelo .

O que Drauzio Varella traz é que só é possível identificar indivíduos com grandes semelhanças genéticas quando descendem de populações isoladas por barreiras geográficas que impediram a miscigenação. Isso é possível no mundo globalizado?

No ano passado, foi identificado um gene, SLC24A5, provavelmente responsável pelo aparecimento da pele branca européia.

Desse ponto de vista, vale fazer a perguntar, já posta, o quanto a "civilização" está interferindo com a "seleção natural", tendo em vista que características anti-sobrevivência continuam a aparecer (ex, hemofilia)?

Não importa a conclusão que se pode chegar. O importante mesmo é seguir à risca a recomendação do Drauzio: não seja ridículo.

22 abril 2007

PEDRO, O INFELIZ


SYLVIA COLOMBO



da Folha de S.Paulo

O que o historiador mineiro José Murilo de Carvalho faz agora, em "D. Pedro 2º - Ser ou Não Ser", é, justamente, sugerir como tantas contradições esconderam, no fundo, um homem triste por trás da máscara de poderoso monarca.



CARVALHO - Esse tema ficou por muito tempo na penumbra. Ele foi educado para não imitar o pai mulherengo. Era discreto em suas aventuras. Só pasquins ousavam sugerir aventuras extraconjugais. Foi a doação das cartas a Barral ao Museu Imperial por um neto da condessa em 1948 que forçou uma revisão deste lado da biografia. A revelação causou surpresa e perturbação entre os guardiões da memória do monarca. A meu ver, enriqueceu muito a figura humana do imperador.


(...) Lia tudo, sabia tudo, mas não era um criador. Poderia ter sido outro tipo de infeliz: um escritor ou cientista frustrado. Leia mais...


D. PEDRO 2º - SER OU NÃO SER


Autor: José Murilo de Carvalho


Lançamento: Companhia das Letras


Preço: R$ 37,00 (269 págs.)

08 abril 2007

A BUSCA INFINITA

O conceito universal do belo entrou em declinio com a modernidade, diz o psicanalista Chaim Katz

ERNANE GUIMARÃES NETO

DA REDAÇÃO

Mesmo com a profusão de padrões de beleza que acompanha a expansão dos mercados de moda e cosméticos, mesmo com campanhas politicamente corretas pela beleza "real", não é possível escapar à imposição midiática da "supermodelo" como exemplo a ser seguido. A opinião é do psicanalista Chaim Samuel Katz, doutor em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

"São 20 ou 30 mulheres e homens que representam toda a beleza. Essa é uma construção que leva tempo", disse à Folha Katz, que organizou, com Daniel Kupermann e Viviane Mosé, o livro "Beleza, Feiúra e Psicanálise" (ed. Contra Capa).

FOLHA - O que mudou na idéia de beleza ao longo da história?

CHAIM KATZ - O que chamamos de "conceito" aparece primeiro na obra de Platão, que tenta mostrar que o conceito do belo só teria validade se correspondesse a uma essência no mundo das idéias.

A busca platônica pelo belo, o bom e o justo fica na história do Ocidente, buscar o "belo em si".

Com as grandes religiões, o belo situa-se sempre fora da experiência sensível.

Seria o divino aquilo que o humano tem como referência e que tenta alcançar.

Kant [1724-1804] realiza uma virada, dizendo que é impossível ter uma regra universal acerca do belo, pois todo juízo a respeito do belo é singular, determinado pelo gosto; não há mais uma determinação universalizante.

Ao mesmo tempo, para Kant, apesar de o gosto ser singular, todo mundo tem faculdades semelhantes; a decisão sobre o que é belo se rompe com a universalização, mas as condições são universalizáveis.

A mim interessou a descrição de Michel Foucault sobre Erasmo [c. 1466-1536].

No livro "Elogio da Loucura", de Erasmo, não há mais essa universalização. Para um homem bem velho que tem dinheiro, por exemplo, essas questões sobre o belo não aparecem. A loucura interna a cada um, sim, é universal.

Para assinantes da Folha ou da UOL leia mais...

30 julho 2006

CASO SUZANE E DANIEL - UNIDOS PELO ESPELHO E PRESOS PELO OLHAR

Por Silas Cabral Bourguignon

A propósito dos crimes noticiados pela mídia nos últimos meses e anos no Brasil, que envolvem filhos, pais, avós, namorados entre outros familiares, vamos recortar e trazer à luz, como lugar de reflexão, o bárbaro crime cometido em São Paulo por Suzane, na companhia de seu namorado, e o irmão deste. O que poderia tê-los levado a esta passagem ao ato, sem que nada da ordem simbólica pudesse ter remediado este enigmático e brutal crime?

Consta, pelas poucas informações que obtivemos na mídia, que Suzane Louise, além de bela, rica de família abastada, era uma moça pacata, discreta em seus hábitos, de poucos amigos, e que, até este crime, nada havia que pudesse indicar a possibilidade de um comportamento de tal natureza.

O episodio foi aterrorizante e podemos pensá-lo sob alguns aspectos gerais, sem que possamos, em nosso encaminhamento, garantir qualquer opinião, ate porque, se assim tivéssemos condições de fazê-lo, teríamos que tê-la escutado, e a seus pares, na particularidade da clínica psicanalítica, e aí, estaríamos eticamente impedidos de trazer qualquer comunicação em público.

Trata-se de um processo constitutivo nada pacifico. Ao contrario, o estádio (arena) do espelho configura-se também pelo horror do jogo especular imaginário, quando o pai se coloca no lugar de outro rival, o primeiro outro fora da relação mãe-filho, que vem para instaurar a lei, e, portanto, outro ao qual a criança vai manter de certa forma, neste período relativo ao segundo tempo do Complexo de Édipo, uma relação de agressividade, mas ao qual a criança vai também se identificar, quando passa a entender o desejo e ausências da mãe relativamente à figura (lei) paterna. Então, o bebe na identificação que faz com o pai, em um segundo momento, ao se ver no espelho, pensa que o eu é o outro paterno, seu semelhante, e rivaliza com sua própria imagem, pois “o eu é um outro”. A descoberta de ser como o outro, seu semelhante, gera uma disputa de vida e morte, pois desejam o mesmo objeto, ou seja, no caso do bebe, a mãe. Desta forma, na luta pelo objeto do desejo, alguém deve ser aniquilado, simbolicamente, pois, neste lugar não podem coabitar dois.

Suzane von Richthofen foi condenada a 39 anos de prisão por ter participado da morte dos pais.

Para seus advogados de defesa a pena deveria ter sido menor, pois ela estaria sob domínio do então namorado, Daniel Cravinhos (também condenado juntamente com o irmão), tese rejeitada pelos jurados que entenderam que ela poderia ter resistido embora tivesse sido “alvo de coração”. Alega ainda a defesa de que Suzane estava subjugada e em situação “anormal” ao cometer o crime.

O que podemos perguntar é: o que é situação “anormal”, ou situação “normal”?

Diante dos crimes noticiados recentemente no Brasil, envolvendo pais, filhos avos e outras relações de parentesco próximas, o psicanalista Silas Cabral Bourguignon, procura desvendar o que teria levado o casal Suzane e Daniel a ultrapassar os limites da fantasia e sem nada que pudesse remediar a ordem simbólica, passar ao ato brutal.

O artigo “Caso Suzane e Daniel, unidos pelo espelho e presos pelo olhar”, publicado no Jornal Gradiva, tem por função colocar em questão o encaminhamento que o discurso científico, médico psiquiátrico, tem dado a esse crime. O artigo coloca em questão estes aspectos que perdem importância na medida em que sua reflexão faz emergir aquilo que no âmbito das aparências e das imagens não é passível de um simples entendimento, além do fato de poder demonstrar que a vida possui um equilíbrio instável, principalmente quando o sujeito está superficialmente ancorado em identificações imaginárias, faltando-lhe ou estando em carência do suporte referencial simbólico do Outro paterno.

Rogério Silva

19 julho 2006

PRECONCEITO IMPLICITO


Edição Nº 50 - julho de 2006

Scientific American Brasil

Preconceito implícito

por Sally Lehman

Mahzarin Banaji mostra percepções distorcidas que raramente admitimos ter

Mahzarin Banaji brigava com o projetor de slides quando começaram a entrar no auditório os executivos do New Line Cinema - o estúdio de cinema de Los Angeles que produziu a trilogia Senhor dos anéis. Eles não pareciam muito animados. Haviam sido informados de uma palestra sobre diversidade que incluiria alguns vídeos. "Minha expectativa era de tédio total", admitiu Camela Galano, a presidente da empresa.

No intervalo, no entanto, amontoaram-se em torno da palestrante não só os executivos da New Line como também vários outros da HBO (ambas as empresas são subsidiárias da Time Warner). A psicóloga social da Universidade Harvard começara a palestra com uma série de imagens que denunciavam alguns truques da mente. Um dos vídeos mostrava um grupo de pessoas trocando passes de basquete. Dos 45 espectadores, apenas um percebeu a mulher que andava lentamente pelo meio do grupo carregando um guarda-chuva branco aberto. Depois de mais alguns exemplos, Banaji convenceu-os de que esse tipo de engano de percepção ocorre o tempo todo, sobretudo em atitudes inconscientes.

Segundo Banaji, o preconceito é comum, está oculto e continua ativo fora do plano consciente, mesmo em pessoas com visão de mundo genuinamente igualitária. Ao dar-se conta do poder das atitudes inconscientes nas tomadas de decisão no dia-a-dia, o grupo decidiu levar isso a público. Qualquer pessoa pode realizar os testes pela internet (implicit.harvard.edu/implicit) e descobrir, por exemplo, se prefere inconscientemente o novo ao velho, o magro ao gordo. O site contém ainda IATs que incluem associações entre países e culturas, como Índia/hindus e Paquistão/muçulmanos.