11 novembro 2008

UMA INCÓGNITA, UMA PAIXÃO

Por Rogério Silva

é verdade! você ainda me amava! eu sei!
para mim, você era alguém encantador!
carinhoso e apaixonado!
nunca antes, nem depois, encontrei igual!
entregou-se totalmente e atirou-se.
imaginou ter asas para voar.
caiu e machucou-se.
mas quem cortou suas asas?

só não percebeu que elas nunca haviam existido.
sofreu muito com isso.
não aceitou a inconstância dos sentimentos.
rebelou-se contra eles,
talvez por ter-se iludido,
talvez por um inexplicável sentimento de repulsão,
ou de abandono, sem carinho.
não sei. uma incógnita!


pensei conhecê-lo. mas qual das suas variantes?
perco-me em explicações que nada me explicam.
tento justificar a sua inércia.
a sua frieza. o seu desinteresse.
ou seria falta de coragem?
desconfio de tudo. de todos. fico tão confusa!
não acredito em mais nada.
dou-me conta que só arranjo justificativas vãs.

não acredito que você seja assim!
por baixo dessa máscara de meu garoto,
existe um menino,
uma criança carente, sem chão, com medo.
quer agarrar-se a qualquer coisa,
em alguém que seja forte.
mas eu nem sou tão forte assim!
sou apenas uma mulher só e apaixonada!


na minha fragilidade sinto você mais forte.
eu sinto mesmo que você me ama.
mas nem mesmo isso você me diz!
você não me dá nenhum sinal!
se pelo menos me pedisse alguma coisa,
se me quisesse de verdade,
se chutasse o balde por mim
e desse uma esperança!... umazinha!... sei lá!...


por que ainda me preocupo com isso?
por que ainda procuro explicações?
não sei! não sei o quanto você se importa,
mas sei o quanto eu me importo.
talvez você me julgue egoísta e presunçosa.
deve estar sofrendo por isso.
e também porque eu não o procuro mais.
mas eu não posso ficar esperando-o.


ainda sou jovem apesar de impetuosa.
gosto de ser mulher e dos prazeres da vida.
procuro um amor de verdade.
um verdadeiro amor só pra mim.
o espelho já me avisou!
falta pouco para mim também.
tenho urgência!
afinal, eu descobri que não sou imortal!

2 comentários:

Anônimo disse...

Anônimo Anônimo disse...

interessante essa coisa de um homem falando o sentimento da mulher.

eu acho que mesmo que o homem estivesse envolvido na trama que rola no poema ele não saberia descrever tão bem como este peoma.

você deve ser um cara muito sensível para poder captar tão bem o que se passa no coração feminino.

você está de parabéns! espero outros poemas como esses.

Maria Regina

11 de Novembro de 2008 00:57



Blogger selma disse...

sua delicadeza em abordar esse tema sob o olhar feminino nos diz muito de você:o homem, em sua complexidade masculinoxfeminino,faz sobressair todo o conhecimento da alma feminina. Suas dúvidas, suas angústias diante da paixão dela mesma e do outro tornam-na frágil e ao mesmo tempo escorregadia e, talvez, a perda deste grande amor torna-se uma incógnita. O medo de amar, da entrega sem cobrança é uma realidade, poeta? Gostei. Abraços.

11 de Novembro de 2008 11:37

Rogério Silva disse...

Diante desses dois comentários, aqui transcritos, resolvi publicar esse poema no bolg Freud Explica também.

Percebi o que há de psicanalítico, tanto na trama a partir do feminino, quanto na poética contratransferencial a partir do autor.

O que se torna uma incógnita? Seria a indisponibilidade do amor do outro ou a não aceitação dela por esse amor fugidio?

O medo de amar, da entrega sem cobrança é uma realidade desmedida. Desproporcional ao desejo de amor. O amor prescinde dos limites condicionais. Não se ama assim ou assado. Ama-se e ponto. Do jeito que o amor se manifesta.

A exigência de um amor exclusivo pode impedir uma aproximação libertadora de um amor incondicional. E por isso mesmo um amor verdadeiro.

A desconfiança em tudo e a descrença no amor criam a voracidade. A necessidade de correr contra o tempo. Ou se come o amor ou se é comido pelo tempo.

Meus agradecimentos à Maria Regina e Selma pelos comentários.

Rogério