24 outubro 2010

O TERCEIRO INCLUÍDO



Por Rogério Silva

O que mais me irrita no processo eleitoral hoje, é quando alguém me pergunta se eu vou votar em fulano (não cito o nome de um candidato, porque temo que esse texto venha a valer para, pelo menos, para mais cinqüenta anos) e eu respondo que não. Então a pessoa acha que vou votar no outro candidato. Não lhe passa pela cabeça que eu não quero nem um, nem o outro candidato.

Essa é a lógica do terceiro excluído conhecida como a lei do terceiro excluído (em latim resumida na expressão tertium non datur), é um princípio cujo enunciado consiste no seguinte: "ou A é x ou é y e não há terceira possibilidade".

Nessa lógica uma proposição só pode ser verdadeira se não for falsa e só pode ser falsa se não for verdadeira, porque o terceiro valor é sempre excluído.

Mas como? Não tem um terceiro candidato? É verdade não tem um terceiro candidato, mas deveria haver uma terceira opção que fosse válida. O problema é que a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 que instituiu o Código Eleitoral, não previu a alternativa de escolha de uma terceira possibilidade. A Lei é clara, somente são votos validos os computados para um e para outro candidato. Faltar, errar, votar nulo ou em branco (que voto mais inútil!); não constituem votos válidos e, portanto não alteram o resultado final. O que é uma pena!

Sistemas que vão além dessas duas distinções entre verdadeiro e falso, são conhecidos como lógicas não-aristotélicas, ou lógica de vários valores, ou então lógicas polivaluadas, ou ainda polivalentes.

Um couraçado brasileiro sedo puxado por dois rebocadores

No início do século 20, Jan Łukasiewicz investigou a extensão dos tradicionais valores verdadeiro/falso para incluir um terceiro valor, "possível".

Acredito que num país dito democrático, poder não aceitar os candidatos postos deveria ser um ato de cidadania. Se a soma dos votos inválidos ultrapassarem os cinqüenta por cento mais um dos eleitores cadastrados, isto por si só, já indica a não aceitação dos candidatos pelo eleitorado. O desinteresse é, para mim, uma prova inequívoca de que os candidatos não convencem o eleitorado e não merecem, portanto serem eleitos. Não importa o que o eleitor prefere fazer; ir à praia, ao boteco encher a cara, viajar ou simplesmente não fazer nada. Ele não quer é participar da farsa instituída. Está desinteressado. E eu prefiro pensar num desinteresse ativo, positivo e afirmativo. E portanto POSSÍVEL.

Também não me interessa pensar numa lógica do tipo: “vou votar no menos ruim”, como se o menos ruim fosse algo que valesse a pena. Para mim a lógica do pior vem de um outro registro. Com Clement Rosset eu aprendi sobre a lógica do pior é que “A filosofia torna-se assim um ato destruidor e catastrófico: o pensamento aqui em ação tem por propósito desfazer, destruir, dissolver - de maneira geral, privar o homem de tudo aquilo de que este se muni intelectualmente a título de provisão e de remédio em caso de desgraça. Tal como o navio pelo qual Antonin Artaud, no início do Teatro e seu duplo, simboliza o teatro, ele traz aos homens não a cura, mas a peste. Assim apareceram sucessivamente no horizonte da cultura ocidental pensadores como os Sofistas, como Lucrécio, Montaigne, Pascal ou Nietzsche - e outros. Pensadores terroristas e lógicos do pior: sua preocupação comum paradoxal é a de conseguir pensar e afirmar o pior. A inquietude aqui mudou de rota: o cuidado não é mais de evitar ou superar um naufrágio filosófico, mas torná-lo certo e inelutável, eliminando, uma após outra, todas as possibilidades de escapatória. Se há uma angústia no filósofo terrorista, é a de passar sob silêncio tal aspecto absurdo do sentido admitido ou tal aspecto derrisório do sério vigente, de esquecer uma circunstância agravante, enfim de apresentar do trágico um caráter incompleto e superficial. Assim considerado, o ato da filosofia é por natureza destruidor e desastroso.” Mas não se pode pensar assim na política brasileira, pelo menos. Acredito que não.

Em 2001 eu votei, pela última vez, nas eleições presidenciais, por decisão pessoal e por não ter em quem votar. Votei na esperança de mudança e no fim da corrupção (eram essas as promessas). O que aconteceu? Fui traído e fiquei sem ter em quem acreditar. Pergunto-me se o que eu tenho vivido nos últimos anos pode ser denominado de política.

Segundo a Wikipédia, política é a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; aplicação desta arte aos negócios internos da nação (política interna) ou aos negócios externos (política externa). Nos regimes democráticos, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância.

Essa palavra tem origem nos tempos em que os gregos estavam organizados em cidades-estado chamadas "polis", nome do qual se derivaram palavras como "politiké" (política em geral) e "politikós" (dos cidadãos, pertencente aos cidadãos), que estenderam-se ao latim "politicus" e chegaram às línguas européias modernas através do francês "politique" que, em 1265 já era definida nesse idioma como "ciência do governo dos Estados".

“O homem é um animal político.” É? Não sei...

Por tudo isso, eu reinvidico a presença do terceiro incluído no processo eleitoral, ou seja, mudar a rota desse processo, para que haja um mecanismo de validação para quem não aceita nenhum dos candidatos em qualquer que seja o escrutínio e com as devidas conseqüências que o Código Eleitoral vier a prever.

Votar é escolher e escolher é também poder renunciar.

3 comentários:

soraya disse...

esse negócio de escolher o menos pior é a maior farsa que se pode constatar.
Se é prá escolher, por que escolher um pior? por menos ou mais que seja?
No final, a farinhada tá pronta (tudo do mesmo saco). e a gente ainda estufa o peito e diz: eu votei nele, agora tenho que aguentar.
tem mesmo?
e ainda temq ue se responsabilizar por uma escolha que não é minha?
Prá mim Não. Obrigada!

Jussara Christina disse...

Olá! Estava navegando na blogosfera e me deparei com o blog.
Adorei! Sou encantanda pelo universo masculino.
Adoro fazer novas amizades.
Já estou te seguindo...
Se puder visita meu blog.
Abraço!



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(¸.•´ (¸.•` * ♥* Jussara Christina * ♥* ♥ * ♥ *

Mike Garson disse...

O nome disso é falácia da falsa dicotomia