02 setembro 2010

DA DÍVIDA COMO CULPA AO CUIDADO COM O OUTRO: AS PERSPECTIVAS DE NIETZSCHE E DE WINNICOTT

Jurandir Freire Costa





Nietzsche[1] diz, em Genealogia da moral – Uma polêmica, que a “consciência de culpa” ou “má consciência” se originou do “conceito muito material de dívida”[2]. Sugiro que a idéia é inconsistente. Nietzsche, em meu entender, não consegue mostrar, de forma convincente, a relação causal ou de sentido entre “dívida material” e “sentimento ou consciência de culpa”.

Penso, em contrapartida, que ele consegue oferecer uma descrição da gênese da culpa mais convincente em A gaia ciência[3]. Pretendo desenvolver o argumento, revendo, de início, o hipotético elo lógico existente entre dívida material e culpa.

Retomo o trecho da Genealogia... no qual a questão é mencionada: “Esses genealogistas da moral teriam sequer sonhado, por exemplo, que o grande conceito moral de ‘culpa’ teve origem no conceito muito material de ‘dívida’? Ou que o castigo, sendo reparação, desenvolveu-se completamente à margem de qualquer suposição acerca da liberdade ou não-liberdade da vontade? – e isto a ponto de se requerer primeiramente um alto grau de humanização, para que o animal ‘homem’ comece a fazer aquelas distinções bem mais elementares, como ‘intencional’, ‘negligente’, ‘casual’, ‘responsável’ e seus opostos, e a levá-las em conta na atribuição do castigo. O pensamento agora tão óbvio, aparentemente tão natural e inevitável, que teve de servir de explicação para como surgiu na terra o sentimento de justiça, segundo o qual ‘o criminoso merece castigo porque podia ter agido de outro modo’, é na verdade uma forma bastante tardia e mesmo refinada do julgamento e do raciocínio humanos; quem a desloca para o início, engana-se grosseiramente quanto à psicologia da humanidade antiga”. [4]

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