Por Déa Januzzi
A inglesa Judy Robbe, de 66 anos, mora
Chegar, hoje, aos 90, 100 anos já é uma realidade. Embora não exista uma receita mágica, os avanços da medicina sinalizam para uma longevidade saudável. O mais importante, porém, é ter um estilo de vida que inclui não fumar, não beber, se alimentar bem e praticar exercícios físicos. Mais ainda: encarar a vida com alegria e bom humor, sem deixar de lado o sexo, que ganha outros tons, já que o desejo nunca envelhece.
Basta lembrar os exemplos da humorista Dercy Gonçalves, de Dona Canô, mãe de Caetano e Maria Betânia, e do arquiteto Oscar Niemeyer, que chegam, em 2007, aos 100 anos, em plenitude. É possível envelhecer bem com lucidez, autonomia, qualidade e em plena forma física e mental. O caderno Bem Viver Especial sobre o envelhecimento mostra como dar uma ajuda à genética com projetos de vida, prevenção e uma rede de amigos para compartilhar experiências e idéias. Nunca é tarde para começar, sonhar, aprender e planejar.
Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, 36 pessoas com mais de 55 anos já desfrutam de um paraíso – a Comunidade Sustentável Harambê é um lugar para envelhecer, segundo os ideais e costumes de toda uma geração. Um país que envelhece a cada dia tem que prestar atenção aos números: são hoje 14,6 milhões de pessoas com mais de 60 anos, que representam 8,6% da população brasileira. Eles não podem continuar invisíveis, sem usufruir de bens e serviços acessíveis, pois ainda é difícil e caro ficar velho no Brasil. Uma residência para idosos, por exemplo, pode custar de R$ 1,5 mil a R$ 2,5 mil por mês, sem contar o plano de saúde e medicamentos.
A família também não está preparada para o envelhecimento de um pai ou mãe, quando mostram os primeiros sinais de dependência. É por isso que datas como o Dia Mundial da Doença de Alzheimer, em 21 deste mês, e o Dia do Idoso (26), não foram criadas apenas para lembrar de uma parcela da população, mas, principalmente, para alertar sobre o inevitável: cada um envelhece como viveu!
• Declaro que quero envelhecer com saúde física e lucidez mental
• Declaro que quero ser independente, com ajuda mínima para fazer aquilo que não consigo
• Declaro que quero viver ao lado do meu marido, enquanto for possível
• Declaro que quero envelhecer com meus filhos e netos me visitando, porque gostam de estar comigo
• Declaro que quero ficar na minha própria casa
• Declaro que, se perder a independência, irei para uma residência de idosos escolhida por mim
• Declaro que quero viver com recursos mínimos para as minhas necessidades
• Declaro que quero ficar rodeada pelos meus livros, lembranças e animais de estimação
• Declaro que quero ficar com meu computador para que possa comunicar-me com parentes e amigos ao redor do mundo
• Declaro que quero viver sentindo-me útil à sociedade
• Declaro que meus desejos devem ser respeitados se eu não conseguir mais me expressar ou tomar decisões quanto ao meu tratamento
• Declaro que não quero medidas heróicas para prolongar minha morte, quando as chances de vida já não existirem.
Cópia do site Saúde Plena sem fins lucrativos
4 comentários:
Confesso que a senectude me assusta mais do que a morte.
Bastante sensato o "testamento" parece ter sido escrito no cume da razão, mas o que será que quando distante desta, escreveria?
Qual a diferença entre um armário antigo e um armário velho? Certamente diríamos que um armário antigo guarda em si os valores de sua fabricação, material e conservação, enquanto o armário velho trás a decadência do tempo e do uso e geralmente é destituído de sua função primordial para se tornar, digamos, um depósito de entulhos.
Entre nós, Humanos, o antigo estaria mais para: antiquado, obsoleto. O velho, contudo acaba destituído de suas funções primordiais quando a senectude se manifesta e acredito que seria muito cruel deixá-lo à sua sorte quando entregue as pessoas ímpias.
João eu concordo contigo. A morte na velhice é “aprendida” dia a dia, com as perdas e dores do corpo, por isso ela é menos penosa que aquela tutela que nos despoja e nos manobra tirando, muitas vezes, a nossa autonomia.
Very Libertarian disse...
Bastante sensato o "testamento" parece ter sido escrito no cume da razão, mas o que será que quando distante desta, escreveria?
Vou comentar trazendo algo da minha juventude. Naquela época, quando reuníamos para conversar coisas fora do nosso alcance, como o futuro, esbarrávamos na virada do século e do milênio e obviamente a idade futura era cogitada. O curioso é que, segundo me lembro, nunca conseguíamos chegar às nossas idades nesse futuro longínquo. A matemática era simples (isso nós sabíamos), mas a distância muito grande. Eram quarenta e tantos anos ainda para frente. Preguiça?
Não sei se o que você chama de “cume da razão” é alguma coisa como o cume da curva de Gauss. O antes e o depois seriam as idades da desrazão.(?)
Penso que a proposta testamentária não nada que ver com um ato de razão, ou seja, nada tem que ver com lucidez individual. Por certo, precisamos de lucidez e razão para sermos capazes de projetar o universo afetivo pelo qual desejamos sermos envoltos na senectude. Mas precisamos de alguma coisa a mais do que lucidez individual para sermos capazes de aderir intensamente aos enunciados dessa simpática velhinha. Precisamos sermos capazes de crer que a velhice é socialmente relevante. Não porque existe um mar de pessoas idosas que aumenta constantemente. Nem porque há muitas famílias sustentadas por pensões de idosos. E muito menos porque são uma bela fatia do mercado: pensem nos medicamentos e nos serviços. A velhice é importante porque dimensiona aspectos relevantes da vida social. Crer na relevância da velhice, também é crer na modificação do papel do velho. Porque uma velhice socialmente relevante, porque dimensionadora da vida social, não é a velhice bastião dos valores do passado, dos autoritarismos e guarda intemerata dos netos. A crença em gestação é que o velho exerce dimensão criativa na vida social que só ele é capaz de exercer. Com singularíssima percepção da fragilidade. Singularíssima percepção de modos específicos de exclusão. Singularíssima percepção da morte e seus espectros sobre a sociabilidade. Assim, essa simpática velhinha expressa um ato performativo, que no caso de conseguir nossa adesão, poderá ser capaz de produzir alargamento das segregações sociais.
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