Envelhecer não quero.
Impedir não posso.
Amanhã, tenho rugas,
Enxergo menos, amanhã.
Claudico
Caminho com mais vagar.
Canso mais. Amanhã...
Os sonhos, por onde andam?
Por onde anda a juventude glamorosa?
As conquistas, os amores, as aventuras...
Passeios, lugares inusitados.
Sol, praia, cores, luzes, sons...
Vinil de Stardust com Nat King Cole,
Fotos Kodak, fichas de ônibus e de telefone,
Cachorro quente Geneal...
Encontros na esquina depois das dez,
Os chopinhos depois do namoro.
Temos tempo...
Meus desejos...
As conquistas, os amores, as aventuras e desventuras...
Passeios, lugares repetidos.
Praia com sombrinha.Luzes poucas. Sons nem tanto...
Cd de Chico Buarque, Cotidiano,
Fotos digital. Cartão de passe livre. Celular. Internet.,
Sanduíche natural e muitos remédios.
Nas quintas, às cinco. Pro chazinho
Com torradinhas. Muito bom!
Ainda temos tempo?
Meus desejos...?
Noutras esquinas...
Mais perto do fim!
Mais longe do desejo!
Quero de volta o viço,
Quero de volta a potência,
De volta, a visão. A audição.
Ainda tenho o amor,
Ainda tenho o carinho,
A paixão e a compaixão.
Não tenho muitas tantas ilusões,
Nem medo da morte.
Como Guilgamesh,
Dois terços imortais, um terço mortal.
Já vivi dois terços.
Meu corpo desvalido,
Meu desejo jovem.
Tenho a dor como companheira,
Simplesmente, envelheci.
5 comentários:
Não sei se amo ou odeio as coisas maravilhosas que vc escreve!! Amo por serem belíssimas, sensíveis... E ao mesmo tempo, doloridas, cruéis,por me fazerem sntir que também já estou envelhecendo, que já não sou mais aquela menininha que corria para os braços do tio "Falcon". Mas, fazer o quê, né?? Precisamos é continuar nessa roda viva e procurarmos sempre "brincar" da melhor maneira possível. Continue sempre mais... Te amo.
Maravilhoso. Fantástico. Parabéns por tão bela veia poética.
Um grande abraço
Hermoso poema, muy emotivo. Las últimas 3 estrofas son de una gran sensibilidad. Me gustó la idea de trasponer los dos tercios de inmortalidad y el restante tercio de mortalidad de Guilgamesh a las etapas de vida de un hombre que no vive en vano.
Un fuerte abrazo
Pablo Cúneo
Eliete
Como diria Vladmir Nabokov, a vida é um simples intervalo entre o nada do nascimento e o nada da morte. Eu aceito a idéia e diria que a vida é um simples intervalo de amor e ódio entre o nada do nascimento e o nada da morte. É por isso que eu acho que o sensível e o cruel estão sempre juntos, quer na infância, quer na juventude ou na velhice.
Não mate a menininha que corria para os braços do tio "Falcon" e brinque, brinque muito neste instante que é a vida.
Um grande beijo
Renato
Uma massagem no ego é sempre bem vinda.
Pablo
O culpado pelo poema é você. Quando você me enviou o Poema a Guilgamesh (vide postagem anterior), pensei em fazer um comentário e acabou virando uma postagem.
Muito obrigado pelas palavras carinhosas. Psicanalistas conhecem bem o que é afeto. Eu não saberia fazer diferente.
Um grande abraço a todos
rogério
uma nota
na frase de Nabokov, não é intervalo, é instante.
intervalo pressupõe algo já dado a priori enquanto instante se faz autopoieticamente.
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