Por Pablo Cúneo
I
ATÉ HOJE
Até hoje acreditei que te inventava
desenhava tua forma
marcava teu ritmo
assinalava teu tempo.
.
Até hoje acreditei que eras a minha semelhança
me via em ti
te reconhecia em mim
eras meu eco.
.
Até hoje acreditei que te usava
que era teu dono
te chamava, te nomeava, te desejava
e brincava contigo
.
Agora me dói quanto tonto que fui
me desenhas, me marcas, me escreves,
me chamas, me nomeias, emudeces
e brincas comigo
.
Quero outra oportunidade
eu te peço,
malvada língua.
II
.
(A Sigmund Freud e seu sonho inaugural)
A noite dos sonhos o convoca
aterrado, a pesar do que vê
os seus sonhos nos da fé
.
Uma boca que se abre
uma fórmula que se expande
e umas letras que se encontram
.
Muitos nomes trás as mesmas
.
São as sílabas que se mesclam
ma, na, am, an,
anagramas por onde quiser,
é um grego ao que vê.
III
(A Ferdinand de Saussure e seus anagramas)
Alef, beth, guimel
letras que entretecem
com seu Nome escondido
todo um texto que é Dele
.
A escritura é a clave
trás as letra que se unem
sob o texto que se vê
é o seu Nome, o Dele
.
Alfa, beta, gama
os fonema se sucedem
como seus nomes escondidos
nos versos, isto é.
.
Os sons são a clave
trás as musas com suas notas
sob versos que se escutam
sejam jotas, sejam ge
são seus deuses o que vê
.
Cabalistas e lingüistas
entre letras e sons
sob o texto que entretecem
tem um nome que é a chave
sem eles o Yahvé.
Tradução de Rogério Silva
2 comentários:
Querido Pabl
A utilização da lingüística na psicanálise é de extrema importância desde Peirce e Saussure.
Benveniste levanta três questões fundamentais da lingüística: 1) qual a tarefa da lingüística, a que acede e o que descreverá sob o nome de língua? 2)como descreverá esse objeto e 3) à luz do sentimento, a língua tem a função de dizer alguma coisa.
O seu poema além de belo (Platão) trás análises profundas do sentimento humano.
É sempre um grande prazer tê-lo como parceiro e são bem-vindas as suas pérolas, como diz o meu amigo Cesar Kiraly.
Um grande braço de Rogério
Querido Rogério: me gustaría transcribir algunas líneas de G.Scholem sobre la cábala que para el que se dedique al psicoanálisis sabrá valorar. "El nombre de Dios es el 'nombre esencial', la fuente original de todo lenguaje.Para los cabalistas, este nombre no tiene 'significado'..Detrás de cada revelación de un significado en el
lenguaje...existe este elemento que se proyecta sobre y más allá del significado, pero que en primera instancia hace posible que se dé el significado. Este elemento es el que dota de significado a cualquier otra forma, aunque no tiene significado en sí mismo". ¿Qué otra cosa nos dicen los cabalistas sino que el Nombre de Dios es puro significante?
Es un honor que me considere compañero suyo y que lo exprese en esta fecha es para mí todo un símbolo.
Un fuerte abrazo, Pablo.
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