06 julho 2007

O INSUPORTÁVEL E O PODER SIMBÓLICO

Rogério Silva

Ah, eu pensei que ela era prostituta, eu pensei que ele era mendigo, eu pensei que era alguém “menos” do que eu e não seria muito diferente se fosse uma estudante ou uma secretária, talvez dissessem: “eu pensei que ala era uma doméstica”.

Acredito que o que está em jogo é a investidura do poder simbólico que Pierre Bourdieu estuda nos interstícios da dinâmica dos processos de socialização para entender como eles incidem nas formas de transmissão favorecendo “condições estruturais de manutenção das desigualdades sociais”. Ele pretende demonstrar que há desde sempre uma relação de força. E desde sempre ela é tributária de uma permanente relação de poder.

Não há poder simbólico sem uma simbologia do poder que institua, essa é a sua premissa básica.

Sua pesquisa esmiúça o que ele denomina de potencial de revelação: as afinidades e dissonâncias entre práticas, rituais, representações e classificações. Estes objetos heterodoxos contém elementos ativos identificáveis nas classes e classificações formais, emergentes dos recortes sutis e inquietantes das relações sociais: um tom expressivo revelador dos embates, que mobilizam os interesses decisivos, materiais simbólicos e geográficos dos grupos investigados.

Na dinâmica desta relação se evidenciam os setores de confronto social, político e simbólico pulsantes nas lutas classificatórias. Desde sempre apresentou uma relação de forças.

Na fabricação do poder simbólico, com suas investiduras, estão o rito de passagem e das representações sociais, enquanto produção necessária da ilusão, do fetiche, e até da legitimidade, estabelecendo-se aí, na dinâmica dessa relação de forças, o valor mágico, socialmente negociável, das trocas simbólicas.

"Sorria, você está na Barra", diz a placa no acesso à entrada do bairro, um resumo do compromisso com a felicidade das classes média e alta que intensificaram a migração para a região nos anos 80.

O que é insuportável no poder simbólico?

A auto-afirmação é uma das características apontadas por especialistas como um dos motivos para vandalismos. "Esses jovens estão construindo a sua identidade a partir do teste dos limites. Em alguns casos, são coisas pequenas, como roubo de cones. Uma minoria exagera", afirmou o sociólogo Julio Jacobo no Folhaonline.

A truculência também faz parte deste contexto. “Já não falamos em "Deus, pátria e família", significantes desmoralizados em nome dos quais muitos abusos foram cometidos, sobretudo no período de 1964 a 1980” denuncia Maria Rita Kehl no mais! deste domingo, que também aborda a superação de limites.

Nas portas das boates, não há dúvidas sobre o principal motivo do aumento da "audácia" na noite: o álcool.

Um comentário:

João Carlos disse...

Uma pergunta não quer se calar em minha mente:

É só uma mera questão de desprezo por "inferiores", ou se trata, também, do comportamento animal de "descontar a revolta contra os superiores em alguém mais fraco"?

Ou seja, qual a motivação desses atos? Uma mera demonstração de "dominação", ou uma (covarde) "vingança"? (E uma "vingança" contra o que?)