03 julho 2007

POLEMICA NAS UNIVERSIDADES

Por Rogério Silva


Talvez o César possa nos explicar melhor essa diferença entre política como ciência de política corriqueira (politicagem), ou o risco que se tem quando empreende numa aventura como desse tipo.

Antes de mais nada, vale a pena relembrar as greves das universidades federais ocorridas no governo de Fernando Henrique Cardoso que eram duradouras e de poucos resultados práticos para as universidades, mas sempre promoveram uma ameaça ao ensino público, a sua gratuidade, a sobrevivência de seus docentes e de seus discentes, além dos funcionários, é claro.

O que vejo de perigoso na quebra da autonomia são exatamente as intenções sub-reptícias contidas neste tipo de decreto do Serra, é bom não esquecer que ele é do mesmo partido do FHC que tinha como foco a privatização das universidades públicas.

Movimentos sempre significaram resistência. Mas não significam necessariamente “desobediência civil” como no texto Cicero Araujo e Álvaro de Vita (ambos da USP).

Os autores também indicaram John Rawls, um dos grandes formuladores e defensores contemporâneos de uma ordem democrático-constitucional que reconheça a possibilidade desse tipo de ação, que a define claramente: a desobediência civil é “um ato público, não violento, político porém consciencioso, contrário à lei e usualmente feito para produzir uma mudança na lei ou em políticas de governo”. Sendo pública, ela nunca é acobertada ou feita em segredo, mas ao contrário, é comparável a um discurso público ou a um modo de manifestação pública. Para ele essa é uma das razões de seu caráter essencialmente não-violento.

O que é não violento quando algum aspecto já se encontra violado? Qualquer interferência nas liberdades civis de outros tende a obscurecer a qualidade civil da desobediência.

Se rejeitamos o estabelecido como lei, como ser obediente à lei ao mesmo tempo? Rejeitar a lei só tem sentido se for no campo político.

É exatamente por isso que o cidadão que a pratica quer “estabelecer perante a maioria que o ato é politicamente consciencioso e sincero, e que visa dirigir-se ao senso de justiça do público” ele deve fazê-lo de modo não-furtivo, de peito aberto, sem temor de revelar sua identidade e de sofrer as conseqüências da própria lei.

O que legitima a desobediência civil é uma grande coragem de quem a pratica.

Com a metáfora de “quebrar o ovos para fazer omeletes” identifico atos violentos necessários em defesa a uma prática, de um enfrentamento, como por exemplo, arrombar uma porta para salvar alguém em perigo. Não se trata de “os meios justiçam os fins”, pois são atos previsíveis, mas muitas vezes intempestivos e necessários. De outra forma cairíamos num totalitarismo excludente.

Pensar que esses grupos de estudantes e funcionários, hoje tão ocupados em abusar das liberdades civis de seus críticos dentro da universidade, também fariam bem em não desprezá-las. É um risco pois o que está em jogo é proteger o “nosso” grupo contra a agressão dos “outros”, das classes dominantes ou do que for. Acima de tudo, é uma questão de nos proteger de nós mesmos.

Não se trata de colocar aqui uma lógica do pior, mas trata-se de abrir a possibilidade para uma filosofia trágica que tivesse como tarefa a revelação de uma certa ordem. Arrumar a desordem aparente, fazer aparecer relações constantes e dotadas de inteligibilidade, tornar-se senhor dos campos de atividade abertos pela descoberta dessas relações, assegurando assim à humanidade e a si mesmo a outorga de uma melhora em relação ao mal-estar vinculado à errância no ininteligível, esta é uma idéia que quero trazer com Freud. O Freud do “Mal-estar na cultura” de 1930, que apresentou como o fator de mal-estar as relações dos homens entre si e com a cultura que sempre foi marcada pela hipocrisia. Até onde vai o meu direito e o direito do alheio?

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