21 agosto 2006

O SONHO DA INJEÇÃO DE IRMA: DE EURÍPILO A ÉDIPO


Por Pablo Cúneo

As sílabas trafio estão sem dúvida em consonância com Trafoi, que eu vi na primeira viajem! Mas a quem poderei fazer acreditar nisto?
(Carta de Freud a Fliess)

O escrito é hieroglífico. As cadeias se cruzam. A gramática do falo produz anagramas ao escrever o texto onírico no qual o sujeito é subvertido literalmente.
(Gilberto Koolhas)

O sonho de Injeção de Irmã ocupa um lugar único na história da Psicanálise. Foi o primeiro sonho que Freud submeteu a uma interpretação detalhada e que permitiu, segundo ele, resolver o enigma dos sonhos. Numa carta a Fliess do 12 de junho de 1900, Freud (1994) expressa o desejo de que na casa aonde teve o sonho da injeção de Irma possa ler-se algum dia uma placa de mármore: "Aqui se revelou em 24 de julho de 1895 ao Dr. Sigm. Freud o segredo do sonho".

Retomado em várias ocasiões e reinterpretado para o ensinamento da psicanálise, desde que Lacan assinalou que é um sonho dirigido por Freud a seus futuros leitores, tem sido considerado em relação com a transmissão. O sonho da injeção de Irma parece ter-se transformado, a través da fórmula da trimetilamina vista em grossos caracteres por Freud, num verdadeiro enigma a resolver em nossa identificação com o criador da psicanálise.

É desejo de Freud que façamos isto? Em todo caso não deixa de surpreender e causar impacto que os filhos dos envolvidos no sonho se fizeram psicanalistas. (Este é o caso de Anna Freud; Robert Fliess; Marianne Rie, filha de Oscar Rie, o Otto do sonho; Anny Rosenberg filha de Ludwig Rosenberg, o Leopold do sonho).

Pois bem, a compreensão que Freud podia ter do sonho da injeção a Irma, sonhado na noite do 23-24 de julho de 1895, não é a mesma de quando publicou A Interpretação dos sonhos, em 1899. Contudo ainda não havia começado a sua auto-análise nem havia descoberto, ao deixar de lado a teoria da sedução, o complexo de Édipo, ocorrido em 1897.

Vemos, sem dúvida, que Freud em 1900 dará ao sonho de Irma um lugar de descobrimento ao compreender, a través dele , que o sonho é uma realização do desejo. Desejo pré-consciente, sem dúvida, como assinala Erikson (1960) e marca Lacan (1992), o que nos relata Freud (1979,T.4) no sonho de Irma: "O resultado do sonho, com efeito, é que não sou o culpado de que persistam os padecimentos de Irma, sem Otto; este com sua observação sobre a incompleta cura de Irma, me deixou irritado, e o sonho me vem em julho devolvendo essa reposta".

Por que Freud teria dado esse lugar especial ao sonho da injeção de Irma, sem o desejo que expressa é um desejo pré-consciente? Esta é a pergunta que se fez Lacan.

Texto enviado por E-mail pelo autor e publicado na Revista Relaciones de abril de 2005

5 comentários:

Anônimo disse...

NUm entendi!

Rogério Silva disse...

Num entendeu o que?

vanessa costa disse...

Gostaria de saber em que obra ou site encontro o sonho de irma descrito. Grata.

Rogério Silva disse...

Vanessa Costa
Freud, S. (1987). A interpretação dos sonhos: 1ª parte: edição standard das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud: v. 4. (pp. 39-322). Rio de
Janeiro: Imago. (Texto original publicado em 1900).

Anônimo disse...

Não entendi a pergunta de Lacan. Poderia me explicar por favor? Obrigada!