24 agosto 2006

A DIVULGAÇÃO DO SABER EXTRA-MUROS


Por Rogério Silva

A divulgação do saber científico, não pertence mais, exclusivamente, as bibliotecas, institutos e academias. A explosão dos meios de comunicação fez com que a grande massa tomasse conhecimento de conceitos que antes eram privativos dos especialistas. É claro que não me refiro à especificidade dos conceitos, que muitas vezes traz dificuldades, até mesmo para o cientista, principalmente se a divulgação ocorre num meio de comunicação não especializado. Contudo, é sempre possível encontrar um leigo que saiba definir minimamente o que é um clone, uma depressão, uma célula tronco, uma síndrome do pânico ou qualquer outro conceito.

Algumas perguntas aqui podem ser feitas. Se os leigos não são necessariamente freqüentadores dos meios científicos, como obtém esses conhecimentos? Seriam confiáveis as divulgações feitas nas rádios, tvs, jornais e revistas populares? E feitas na internet que tem alcance mundial e imediato?

A televisão, vez por outra, traz Dráusio Varela, Viviane Mosé, e agora Marcelo Gleiser, como aponta Anselmo no seu artigo Convivio Harmonioso do blog Ciência Pública , para tratar de assuntos que não estão ao alcance da maioria do público expectador.

Quando Viviane Mosé visita uma tribo indígena no Tocantins para saber por que as pessoas gostam tanto de competir, o que ela está fazendo? Jornalismo, puro e simples, ou divulgando a filosofia e mostrando para o mundo como o pensamento pode fazer uma viagem fantástica?

Na entrevista com Daniel Kupermann, publicada neste blog, a grande questão apresentada foi a autenticidade e originalidade do pensamento de Freud, e a validade e importância da teoria psicanalítica para se compreender o contemporâneo, além do sujeito individual.

Daniel mostra como nas últimas duas décadas, a psicanálise e os psicanalistas, têm contribuído de modo decisivo para os avanços alcançados no campo da saúde mental, com contribuições significativas para a reforma psiquiátrica no Brasil. Segundo ele, o aumento no ingresso de psicólogos e de outros profissionais com formação psicanalítica atuando, tornam a escuta analítica cada vez mais acessível. Alem disso, uma grande parte das instituições psicanalíticas oferece atendimento acessível à população menos favorecida. Ele ainda acrescenta que o objeto da psicanálise não é exatamente o indivíduo, mas é a singularidade desejante, o que faz da psicanálise um instrumento teórico para pensar a produção contemporânea da subjetividade, e um método de acolhimento e de transformação expansiva do sofrimento psíquico inigualável.

O termo "Freud explica" aparece de forma caricatural nos anos 20, em função do abuso da interpretação. Sem dúvida o desejo de Freud de aproximar a técnica psicanalítica do ideário cientificista vigente na época contribuiu muito para isso.

No verbete sobre Freud do “Dicionário Básico de Comunicação”, de Katz, C. S; Doria, F. A e Lima, L. C. da Editora Paz e Terra, encontramos a luta empenhada por Freud para fazer da psicanálise uma ciência.
O que fundamenta a Psicanálise é a existência do inconsciente. As hipóteses sobre um inconsciente já aparecem em Spinoza, Hegel, Kant, Nietzsche e em Eduard von Haitmann, mas coube a Freud, coloca-lo no centro de uma Psicologia. Com o primeiro Congresso Internacional de Psicanálise em 1908, onde se encontram junto a Freud, Adler, Brill, Jones, Jung, Stekel, Ferenczi e outros, inicia-se a institucionalização da Psicanálise, e sua ascensão à “respeitabilidade" cientifica.

No artigo que escrevi aqui e que trata da revolução da ciência na web proponho que o caminho da evolução da ciência na web é expansivo e sem retorno e que o saber cada vez mais terá que se haver extra-muros.

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