20 agosto 2006

O PRAZER DO TEXTO

Uma homengem a Júlio Guedes que me indicou esse texto.

Rogério Silva

O Prazer do Texto

Roland Barthes

Tradução de Jacob Guinsburg

Editora Perspectiva - Terceira Edição - 2004

Original francês Le Plaisir du texte (1982)

"Em um escrito caleidoscópico, quase um bloco de anotações, Roland Barthes busca aqui a análise do prazer sensual do texto", tanto por parte de quem escreve - sem medo de expor seu desejo, sob pena de cair na tagarelice - quanto de quem lê (normalmente situado como objeto, ser passivo e sem defesas frente ao texto, e que aqui é revelado em sua plenitude criativa da fruição). Descartando a frigidez do texto empolado e político, evocando ao fio dos argumentos tanto Proust, Flaubert, Stendhal como Sade e Bataille, ou ainda Lacan e Freud, "O Prazer do Texto" apresenta, de forma profunda e lúdica, - costumeiro prazer dos leitores de Barthes - um tema fundamental em semiologia e literatura.

Na sua versão portuguesa (Edições 70) "O Prazer do Texto" traz um prefácio de Eduardo Prado Coelho, do qual retiramos algumas palavras:

"Que é texto?

É uma determinada prática significante que se isenta das condições normais de comunicação e significação e institui um espaço específico onde se redistribui a ordem da língua e se produz uma determinada significância. A significância é, num primeiro momento, a recusa de uma significação única; é o que faz do texto, não um produto, mas uma produção; é o que mantém o texto num estatuto de enunciação, e rejeita que ele se converta num enunciado; é o que impede o texto de se transformar em estrutura, e exige que ele seja entendido como estruturação. As noções de texto e significância impõem certos princípios teóricos:

a) Temos que considerar que o texto não é a obra. Numa obra há texto, mas o texto nunca se identifica com essa obra. Obra e texto têm estatutos diferentes. Por outro lado, a noção de texto não abrange apenas as obras literárias, mas todos os produtos das práticas significantes. Qualquer prática significante produz texto. O que nos permite falar em texto fílmico (ver os trabalhos de Christian Metz) ou em texto musical , etc.

b) O texto recusa inteiramente a hipótese da metalinguagem, porque só podemos falar sobre a linguagem do interior da própria linguagem. O problema da Metalinguagem (como é possível uma palavra sobre a palavra que não seja uma palavra sob a palavra?) e a questão da metáfora (como reduzir a metáfora no discurso científico?) foram algumas das questões então debatidas.

c) Outro problema essencial para uma teoria do texto é o do sujeito. As propostas cientistas tendiam para uma total neutralização do sujeito em nome do objetivismo positivista e do combate ao impressionismo. Barthes repõe os problemas em termos muito diferentes, insistindo na importância do para-mim necessariamente ligado com a questão do prazer.

d) A única prática que se pode fundamentar numa teoria do texto é a própria prática do texto. Em relação à teoria do texto, existem apenas ou teóricos ou práticos, mas nunca especialistas, críticos ou professores. Donde, a teoria do texto ergue-se num espaço que se subtrai às clausuras do saber, da cultura e do ensino, e se propõe como valor alheio aos valores (que são critérios culturais).

Neste sentido, escrever é uma atividade em que aquele que escreve apenas escreve para saber o que quer dizer (para dialogar com as idéias do seu corpo), para perder a sua consciência no ilimitado da significância."

" O que é a significância? É o sentido na medida que é produzido sensualmente"

(Barthes, em O Prazer do Texto)

Recensão escrita por Aldo de Albuquerque Barreto a partir de materiais da editora.

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