13 julho 2008

O ESTRANGEIRO

Por Rogério Silva

quem é esse estrangeiro?
ousa entrar em minha casa?
o que quer,
que nem mesmo anuncia?

não me diz quem é,
o que gosta.
não tira os olhos de mim.
me atormenta.

sua língua, eu não conheço,
mas arrisca me dar conselhos.
não. não quero, não ouço, não ouso.
não me venha com xurumelas.

quer fazer barganhas.
diz que gosta de mim.
que me ama.
ah! mas também me odeia!

o que quer de mim?
minha pele?
meu pensamento?
minha dor?

já usa o que é meu!
sem licença nem favor.
me gasta sem pudor.
me assusta. me causa horror.

dia desses quis matá-lo.
Juro! fazer dele picadinho
e dar pros porcos.

não posso...
o outro de que falo
está em mim. vive comigo
muitos anos, sempre juntos.

somos estranhos,
infamiliar, familiar.
gira roda de fogo!
gira! gira!

esse homem de areia*,
que no conto baqueia.

esse estrangeiro sou eu.

*”O homem de areia”, conto de E. T A. Hoffmann, no qual Freud se baseou para escrever Das Unheimlich, 1919, traduzido para a língua portuguesa como “O estranho”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bacana, não conhecia...

Unknown disse...

Que belíssimo poema!!! Quem é o autor dele? Foi tirado de algum livro?
Beatriz