6
A sólida base de nossa visão do mundo e também o grau de sua profundidade são formados na infância. Essa visão é depois elaborada e aperfeiçoada, mas, na essência, não se altera.
7
Se olharmos a vida em seus pequenos detalhes, tudo parece bem ridículo. É como uma gota d'água vista num microscópio, uma só gota cheia de protozoários. Achamos muita graça como eles se agitam e lutam tanto entre si. Aqui, no curto período da vida humana, essa atividade febril produz um efeito cômico.
8
A religião tem todas as coisas a seu favor: a revelação feita por Deus aos homens, as profecias, a proteção do governo, das figuras mais respeitáveis e importantes. Mais que isso, o enorme privilégio de poder gravar sua doutrina na mente das pessoas quando elas são crianças e, com isso, as idéias se tornam quase congênitas.
9
Num espaço infinito, inúmeras esferas luminosas em torno das quais rodam dezenas de outras menores, quentes no centro e cobertas com uma casca dura e fria onde uma névoa bolorenta originou a vida e os seres conhecidos. Esta é a realidade, o mundo.
10
Na infância, o aparelho sexual ainda está inativo, enquanto o cérebro já funciona plenamente; por isso, essa é a época da inocência e da felicidade, o paraíso perdido do qual sentimos falta pelo resto da vida.
11
A maior sabedoria é ter o presente como objeto maior da vida, pois ele é a única realidade, tudo o mais é imaginação. Mas poderíamos também considerar isso nossa maior maluquice, pois aquilo que existe só por um instante e some como sonho não merece um esforço sério.
12
Os reis deixaram aqui suas coroas e cetros; os heróis, suas armas. Mas os grandes espíritos, cuja glória estava neles e não em coisas externas, levaram com eles sua grandeza.
ARTHUR SCHOPENHAUER, aos 16 anos, na Catedral de Westminster, em Londres
13
No fim da vida, a maioria dos homens percebe, surpresa, que viveu provisoriamente e quc as coisas que largou como sem graça ou sem interesse eram, justamente, a vida. E assim, traído pela esperança, o homem dança nos braços da morte.
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Uma pessoa de raros dons intelectuais, obrigada a fazer um trabalho apenas útil, é como um jarro valioso, com as mais lindas pinturas, usado como pote de cozinha.
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É interessante que, além da vida real, o homem sempre tem uma segunda vida abstrata onde, com calma deliberação, o que antes o deixava nervoso e irritado parece frio, sem graça e distante: ele é mero espectador e observador.
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