26 janeiro 2008

OBESIDADE: UM PROBLEMA INSOLÚVEL?


Por Rogério Silva

Milhares de brasileiros aderem à febre do fitness, lotam parques, academias e transformam o exercício físico em hábito diário. Além disso, invadem supermercados e lojas de produtos naturais a procura dos alimentos ditos light e diet que mantêm a forma. Não está em jogo aí apenas a busca da boa forma física e estética, mas também a busca do equilíbrio psíquico e emocional. Contudo, alguém que não se ache muito gordo, mas, se pela classificação que mede o índice de massa corporal, for considerado obeso, a palavra "gordo" trará para ele toda carga de preconceito e discriminação que o padrão estético contemporâneo usa para pressionar. É chamado de gordo e zombado todos os dias. É discriminado sexualmente e causa vergonha a seu par. Enfim, não sabe mais o que fazer, pois acha que come pouco, não usa açúcar, nem toma bebidas alcoólicas e freqüenta uma academia de ginástica regularmente, além de observar os valores calóricos dos alimentos, evitando assim o seu consumo desnecessário.

Mesmo depois de procurar um endocrinologista e cumprir todo o tratamento acompanhado de uma dieta rigorosa, descobre que não perdeu nenhum quilo e, ainda, voltou a engordar. Já não agüenta mais a rejeição, o custo de ser gordo, a zombaria, a discriminação e tudo o que a obesidade lhe traz.


De que se trata? Seu sintoma nos leva a pensar naquilo que, não pode ser nomeado, mas que se expressa em seu corpo. A idéia, porém, não é buscar o momento do surgimento do sintoma. O que se quer é preencher a sua memória dinamicamente, superando as resistências promovidas por aquilo que se tornou incompatível e inominável e, por isso mesmo, foi esquecido. Esquecer, aliás, é a tarefa de qualquer psiquismo. Essa amnésia funciona como uma lembrança encobridora - uma lembrança que esconde o que não pode ser lembrado. Todavia, repetir compulsivamente é a maneira que ele tem para "recordar".

O que ele repete? A sua gordura talvez se apresente como aquilo que ele repete. Repete o que retorna do "esquecido" para a sua personalidade manifesta: suas inibições, suas atitudes inúteis e seus traços patológicos de caráter. Aí está o que deve ser tratado, não como um acontecimento do passado, mas como uma força atual. É preciso fazer com que ele crie coragem e se dirija para a sua gordura como um inimigo que está a sua altura e que ele pode dar conta.

Achar que ser gordo expressa um sintoma temporário, intensifica os conflitos e põe em evidência o sintoma, levando-o a pensar na gordura apenas como um fenômeno orgânico. Isso aumenta a resistência e abusa da licença de ser gordo. Se trata portanto, de poder fazê-lo recordar, repetir e criar junto com ele, o novo.


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