01 novembro 2007

SERÁ QUE A PAIXÃO PERTENCE AO OILIMPO?

Por Carla Ramos


O porquê da PAIXÃO, da RAIVA, da INVEJA e da COBIÇA e do ÓDIO, e de todos os males contidos para os humanos, na CAIXA de PANDORA?

Para compreender isso temos que invocar os Deuses do Olimpo e perguntar de forma humilde qual foi a Real Intenção do envio da Caixa com os males aos pobres mortais.

Prometeu, prometeu aos humanos que iria ao Olimpo e roubaria o Fogo Sagrado dos Deuses e os daria aos mortais... para estes adquirirem o Poder Divino e se igualarem a eles.

Em retribuição deste roubo, os Deuses irados enviaram a Bela Pandora, segurando uma caixa, de presente aos humanos. Por curiosidade, abre-se a caixa para ver o que havia sido enviado do Olimpo. Será que tínhamos essa permissão? Qual foi a punição dada pelos deuses aos mortais?

Para entender sobre a PAIXÃO, recorre-se a Mitologia, ao estudo dos Mitos.

Por estes serem universais, nos auxiliam na compreensão da dinâmica humana.

Desde épocas antigas até aos dias de hoje...

Só os Deuses tinham o poder de enlouquecer os humanos: a PAIXÃO pertence ao Olimpo. A origem da palavra vem do termo grego “pathos” que também dá origem ao termo Patologia, que quer dizer, o Estudo das Paixões.

Na Grécia Antiga, acreditava que os humanos enlouqueciam ao ter contato visual com os Deuses.Tamanha era a imensidão de suas qualidades que um humano não agüentaria vivencia-las em sã consciência.

Assim, quando um homem perde a cabeça por uma mulher, estamos lidando com o proibido, um contato do humano com o divino: a Deusa. No caso da mulher apaixonada, com um Deus.

A PAIXÃO faz com que se crie um pedestal ao seu objeto de desejo a amada ou o amado

Elevando-a às alturas. Devido a distância que se encontra dela, resta ao homem levantar o olhar e ritualisticamente idolatrá-la, questionando-se “o que será que essa Deusa viu em mim?”, pois pela imensidão de qualidades que atribui a ela, o ser humano, alvo de sua paixão, só pode mesmo pertencer ao Olimpo.

Carl G.Jung, na psicologia analítica, comenta que a intenção dos conteúdos inconscientes é se fazerem conscientes. Portanto o ser apaixonado vive essa situação.E isso ocorre naturalmente, através de um mecanismo inato em todo nós : a Projeção.

A Paixão é quando projetamos algo de nós, nossos desejos mais inconscientes no outro.

Assim, apaixona-se por uma imagem, uma idealização algo de nós, que atribuímos ao outro. Quando as “qualidades divinas” daquela Deusa provocam alguns pensamentos no homem, no movimento de trazer para o consciente um conteúdo inconsciente:

Ela vai me cuidar para o resto de minha vida - busca-se uma Deméter (a eterna mãe);

Eu tenho que cuidar dela é tão desprotegida - busca-se uma Koré (a eterna jovem);

Ela vai lutar por meus ideais ao meu lado - busca-se uma Artémis (a eterna guerreira);

Ela me enlouquece com sua sexualidade – busca-se uma Afrodite (a eterna amante).

Analogamente, pode-se dizer que ele está projetando um filme em sua amada.A PAIXÃO faz com que se veja a mulher, ou o homem, como sendo uma tela em branco. Porém, no final da sessão a tela sobe se enrolando e vemos que há alguém ali atrás, e espera aí, é um humano!

A PAIXÃO por deixar o organismo em estado de constante euforia e excitação, é algo prejudicial ao seu desenvolvimento, e, portanto o próprio organismo tende a se auto-regularizar Onde estão os sintomas da patologia da Paixão? Acabaram? Ou a PAIXÃO foi transformando-se em amor?

Quando no decorrer da projeção de nosso filme, o homem começa a se propor a entender quais são as qualidades que ele atribui como “divinas” à aquela mulher que tanto o fascina, pode compreender o que busca verdadeiramente no outro.Quais são as qualidades e fatores que se tem que integrar a sua personalidade.

Quando chega a ocorrer essa transformação, começamos a nos ver como um in-divíduo em relação com outro in-divíduo, seres não divididos. Ao invés de sermos uma metade em eterna busca de algo, passamos a ser seres totais. Aí estamos prontos para amar.

Quando isso não ocorre, acaba a paixão e cada um segue o seu caminho...

6 comentários:

Anônimo disse...

Boa noite!

Lendo sobre a mitologia e sobre a paixão fui absorvendo e concordando com a escrita e pensando ao mesmo tempo na restrita "utilidade"da razão quando "caímos de amores". No entanto, no final, leio sobre sermos in-divíduos. Esta questào sobre um ser que não se divide é que me persegue. Somos essencialmente seres divididos e se "aprendemos"com o término de uma paixào, logo outra se anuncia.Um abraço e parabéns pelo seu blog!

Rogério Silva disse...

Caro Ro ou anônimo

Não sei se posso concordar contigo quando você afirma: “Esta questão sobre um ser que não se divide é que me persegue. Somos essencialmente seres divididos e se "aprendemos" com o término de uma paixão, logo outra se anuncia.”

Não é assim que eu vejo a questão proposta. A Carla aponta a paixão como vinda de um só lugar, da projeção de si mesmo. Para ela não fica muito diferente se a outra metade da laranja existe ou não, ela sempre será procurada e/ou encontrada.

Eu penso um pouco diferente, penso numa paixão dirigida a vários objetos que nos dá a possibilidade da existência, ou não de uma outra metade.

Não sei se há vantagens ou não nesta idéia, o que sei é que existem múltiplas possibilidades e com elas nos dirigimos para diversos “destinos” ou objetos.

O caminho proposto por ela é muito bonitinho quando se trata do amor entre pessoas, entre sentimentos que poderíamos dizer “positivo”, mas e quando se trata de ódio que tem o mesmo quantum de afeto, porém numa outra polaridade?.

A subjetividade forma indivíduos indivisíveis sim, mas com possibilidades múltiplas.

Já pensou nisso?

Abs rogerio

Anônimo disse...

Oi, Rogério! Obrigada por me responder. Fiquei "anônima" por que em seu blog , nos comentários, acabei ficando somente com esta opção, visto eu não ter um blog ou um site. Então, sou a Rô e não o Rô, ok?
Bem...vamos lá ...acho ricas as expressões que advém dos diálogos onde temos a chance de ter por aqui pela net. Vejo que talvez ontem , eu nào tenha escrito com clareza. O que você me esclareceu sobre a escrita da Carla me fez pensar que concordo em parte com o que ela diz. Penso que talvez uma parte de nós poderá perseguir um outro pedaço que na verdade, não deixa de ser um prolongamento de nossas próprias projeções. Vejo assim se considerarmos o amor entre pessoas , entre duas pessoas que busquem a si mesmas,no encontro com o outro.
Quando você fala da paixão dirigida a vários objetos, estaria falando do investimento que podemos fazer à nossa volta? Nos interesses que temos, nos desejos que nos acercam...é isso? Não sei ...me pareceu que a questão inicial tenha sido por conta de utilizarmos vocabulários diferentes , mas creio que podemos estar falando da mesma coisa. O que me pega ainda no que você afirma , é que somos seres indivisíveis... Não concordo, por que vejo a nossa condição humana permeada pelo conflito e o conflito entre as várias instâncias de nossa personalidade e portanto somos múltiplos...Irreversivelmente freudiana sob este ponto de vista. Um abraço!

Rogério Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rogério Silva disse...

Oi Ro

A partir de agora vc já não precisa mais se colocar como “anônimo”, pode identificar-se.

Quero iniciar o meu comentário citando Albert Einstein, "A única coisa de que tenho certeza é da singularidade do indivíduo"

Quando a autora questiona o porquê da PAIXÃO, da RAIVA, da INVEJA e da COBIÇA e do ÓDIO, e de todos os males contidos para os humanos, na CAIXA de PANDORA, eu vejo a caixa de pandora como o que há de mais singular para o indivíduo.

Em "O Amor e a Morte na Transferência", Pierre Fédida retoma a subversão psicanalítica (freudiana) da palavra amor, com a introdução da multiplicidade (as pulsões parciais), no que era pensado como princípio de harmonia uno e unificador. A síntese do amor, numa posição filosófica ou religiosa “nega as forças contrárias ao acreditar ultrapassá-las", (há sempre o amor e as pulsões parciais, o amor mais a morte, o amor mais o ódio, o amor mais o negativo), sendo esta síntese nada menos que um sintoma.

Fédida acrescenta que na posição analítica a síntese não é possível, por que não há dialética, há o amor e no amor há as pulsões parciais.

Se numa sessão o paciente diz “acredito que fizemos um bom trabalho, meus sintomas desapareceram...” e o analista fica em silêncio ele reage mostrando o seu desagrado e até o acusa de torná-lo doente. Ele gostaria de ser encorajado em seu sentimento de bem-estar, mas o que o analista faz é ocupar o lugar da insistência no negativo. Não há síntese. Há o amor mais o negativo, e é a presença do negativo que analisa o amor.

O negativo é a análise e se representa na função da linguagem. Desta maneira o paciente descobre que o negativo não é a morte.

Isto é a caixa de pandora.

Estou falando sim de investimentos e de desejo.

Abs rogerio

João Carlos disse...

Salve, Rogério!

Eu vejo no mito da "Caixa de Pandora" uma recorrência do mito do "Fruto Proibido". Algo assim do tipo: "Ah!... Vocês querem as coisas boas dos Deuses?... Então tomem o que há de bom e de mau!..."

"Paixão" e "amor" só têm uma coisa em comum: fazem uma pessoa se sentir atraída por outra. A "paixão" encontra outra forma mitológica em Narciso: a projeção de um ideal próprio no objeto da paixão. E é claro que a pessoa que se apaixona, ainda não é um "in-divíduo" porque ainda não aprendeu a lidar com suas próprias limitações e defeitos: ainda é um "divíduo"...

Os desbalanceamentos hormonais tornam os jovens mais afeitos a essa "dividualidade" (se me permite o neologismo). A persistência neste comportamento indica personailidades "mal-resolvidas", incapazes de se aceitar como "in-divíduos", com tudo o que há de "mau" e "bom" em si (mas como "mau" e "bom" são conceitos, em grande parte, adquiridos, isso nos remete a outros campos da psicanálise...)