Por Rogério Silva
Lendo neste domingo o jornal “O Globo”, o artigo do Arnaldo Bloch me chamou a atenção com o título “DNA é o cacete”. O artigo em sí é pequeno e pouco informativo, mas me provocou muitas reflexões. A pesquisa apresentada por Bloch deixa claro, que a intenção do “Nobel” James Watson ao afirmar que os negros são menos inteligentes que os brancos, é racista.
É claro que a ciência tem um papel preponderante no desenvolvimento da humanidade, mas paralelamente a ela encontramos a arte, o esporte, a filosofia e outras formas de expressão e desenvolvimento do pensamento humano.
Se infelizmente não encontramos negros e/ou brasileiros entre os expoentes das ciências mundiais, felizmente os encontramos em outros setores.
Contudo, emparelhar desenvolvimento mental com cor de pele e prêmios (Nobel, Oscar ou outro qualquer), me parece uma visão míope e reducionista do que o homem pode.
Dentre os cerca de oitenta e seis nomes apresentados no artigo, estão os brasileiros: André Rebouças; Camila Pitanga; Cartola; Clementina de Jesus; Cruz e Souza; Daiane dos Santos; Djavan; Ed Motta; Elza Soares; Garrincha; Gilberto Gil; Grande Otelo; Gláucius Oliva; Hélio de laPeña; João do Rio; Joel Rufino; Joaquim Barbosa; José do Patrocínio; Lazaro Ramos; Lima Barreto; Luis Melodia; Mãe Stella de Oxossi; Machado de Assis; Martinho da Vila; Milton Gonçalves; Milton Nascimento; Mussum; M V Bill; Nei Lopes; Paulinho da Viola; Pixinguinha; Pelé; Romário; Tim Maia; Zózimo Bubul e Zumbi dos Palmares.
Se não esqueci ninguém da lista apresentada, eles são 41% das diversas áreas. E eu ainda acrescentaria Juliano Moreira um dos pioneiros da psiquiatria e da psicanálise brasileira.
Apesar de ser negro, e de família pobre, Juliano Moreira em 1886, dois anos antes da abolição oficial da escravatura, entrou na Faculdade de Medicina da Bahia, formando-se aos dezoito anos, em 1891, e se tornando professor da Faculdade, onde se referia às idéias de Freud em sua cadeira.
Já em 1900 representou o Brasil em congressos internacionais: em Paris, neste ano, foi também eleito Presidente Honorário do 4º Congresso Internacional de assistência a alienados, em Berlim; também foi congressista brasileiro em Lisboa, em 1906; Milão e Amsterdã, em 1907; Londres e Bruxelas, em 1913.
Após ter exercido a clínica psiquiátrica na Faculdade Baiana, mudou-se para o Rio de Janeiro. Durante seu trabalho na direção do Hospício Nacional dos Alienados, aqui, humanizou o tratamento e acabou com o aprisionamento dos pacientes.
A sua principal atuação foi quando defendeu a idéia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais, como a falta de higiene e falta de acesso à educação, contrariando o pensamento racista em voga no meio acadêmico, que atribuía os problemas psicológicos do Brasil à miscigenação. Foi importante representante internacional da Psiquiatria brasileira.
O geneticista americano James Watson acabou pedindo desculpas pelas declarações racistas dadas a um jornal britânico, que despertaram uma enxurrada de críticas no mundo inteiro.
Em entrevista ao "Sunday Times", Watson, disse ser "inerentemente pessimista em relação ao futuro da África" porque "todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles é igual à nossa, quando todos os testes dizem que não é bem assim". Só não explicou que testes são esses.
Voltando atrás, Watson escreveu um artigo para o jornal "The Independent" dizendo ter sido mal interpretado. "Àqueles que inferiram das minhas palavras que a África enquanto continente é de alguma forma geneticamente inferior, só posso me desculpar sem reservas."
No entanto, o cientista, de 79 anos, insistiu que questionar as bases genéticas da inteligência "não é ceder ao racismo".
Questionar, pode não ser, mas afirmar...
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