Por Rogério Silva
Durante estes dois meses eu vivi uma grande angústia diante da perspectiva de tratar a questão do aquecimento global sob o ponto de vista da psicanálise, para contribuir com o tema do mês passado do blogue Roda de Ciência.
De certa forma senti também uma paralisia, como denunciou Maria Guimarães na sua última postagem e concordo quando ela fala de uma paralisia que impede que cada um incorpore ao seu modo de vida a consciência de que nós (eu, você e os outros) contribuímos para a devastação do mundo e agora temos que ir atrás de remediar o mal feito.
Muitas coisas já foram ditas em outras postagens, mesmo sem a pretensão de esgotar o assunto. Os cientistas da Física, da Química, da Biologia dentre outras ciências, tratam a questão do aquecimento global de dentro do fenômeno, de suas causas e de seus efeitos, enquanto nossos instrumentos ficam mais distantes.
Embora Freud não tenha nenhum escrito relacionado diretamente com o meio ambiente, ele não deixou de falar sobre algumas questões que são hoje de grande relevância. Em “O mal-estar na civilização” (1930ª [1929]), ele aponta como sendo três os grandes males que nos aflige: a ação da natureza sob a qual pouco podemos fazer; os males do corpo, que hoje em dia as ciências já conseguem algum domínio, aumentando a longevidade e a qualidade de vida e a ação do homem sobre a humanidade em suas relações políticas, religiosas e inter-pessoais e sobre o meio ambiente.
Por entender que a psicanálise tem uma função de transformação social, fico com Sérgio Paulo Rouanet quando diz que a psicanálise poderia servir como mediadora entre o indivíduo e a sociedade, e que a psicanálise também tem coisas comuns com o marxismo e esta seria uma janela para compreender o ser humano e sua complexidade individual e social. A Psicanálise seria um instrumento para libertar o homem dos seus condicionamentos internos e o marxismo, um instrumento para libertar o homem de seus condicionamentos objetivos, externos e internos.
Tratando pelo viés da Psicanálise, durante muito tempo prevaleceu a idéia de que ela e, por sua vez, os psicanalistas, viviam num estado tal de distanciamento do social que em seus consultórios pairava um mundo de interpretações e idéias que somente serviriam ao prazer daquela dupla num total descaso com a sociedade. Mas, isso é um equívoco, uma visão cuja intenção é o ataque ao próprio conhecimento psicanalítico, um ataque dirigido à destruição de um instrumento de intervenção social, dificultando, desta forma, a que parcelas da população adquiram uma condição mais participativa e reivindicadora de direitos ao auto-conhecimento.
Vale lembrar a frase de Freud quando chegou aos EUA, uma sociedade conduzida pelas regras de comportamentos esperados, quando disse: “nem imaginam que lhes trazemos a peste!” O que Freud queria dizer com isso é que a Psicanálise se fazia como um interesse de investigação psíquica onde a verdade de cada um compromete com o status social, ou seja, a Psicanálise implica numa maior interação entre as condutas pessoais e o status social.
Como não pensar que a Psicanálise sempre foi um risco para os países totalitaristas? Temos inumeráveis exemplos na história: durante a Alemanha nazista os livros de Freud foram proibidos e queimados. Freud teve de exilar-se na Inglaterra em Hampstead, norte de Londres; na Argentina totalitária houve perseguição aos psicanalistas, quando muitos vieram para o Brasil. O Brasil também teve sua história de distorção com o famoso caso Amílcar Lobo, de conivência com a tortura. Recentemente, vimos também os EUA invadindo e destruindo o Iraque em nome da preservação mundial contra o terrorismo e ataques atômicos.
O totalitarismo traz a intolerância, a exclusão e outras formas de danos às sociedades e ao meio ambiente.
Para o Engenheiro Químico Luiz Carlos Assunção, o efeito estufa é um fenômeno natural e necessário para a manutenção da vida no planeta. A Terra recebe radiação emitida pelo Sol e devolve grande parte dela para o espaço através de radiação de calor. Os gases responsáveis pelo efeito estufa (vapor d’água, dióxido de carbono, ozônio, CFC´s) absorvem uma parte da radiação infravermelha emitida pela superfície da Terra e radiam por sua vez uma parte da energia absorvida de volta para a superfície. Como resultado, temos a manutenção da temperatura da Terra, que fica cerca de 30ºC mais quente do que estaria sem a presença dos gases de estufa.
O problema é que o aumento da emissão desses gases agrava o efeito estufa e, por conseqüência, o aquecimento global. Causas naturais como, por exemplo, gases liberados por erupções vulcânicas, contribuem para o agravamento do efeito estufa. No entanto, para a maioria dos cientistas as fontes antropogênicas (provocadas pelo homem) são as que têm maior impacto no aquecimento global.
A omissão de cada um de nós está trazendo conseqüências tão desastrosas para o planeta e para a humanidade que nem Freud explica.
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