26 novembro 2006

A BELEZA MADURA

Por Rogério Silva

“A vovozinha chaga ao quarto da netinha e a encontra deitada nua e pergunta. – O que é isso minha netinha? Ela responde: - é a camisola do amor vovó. A vovó observa bem e mais tarde é a vez do vovô encontrar a vovozinha deitada nua e pergunta: - o que é isso minha velhinha? Imediatamente ela responde: é a camisola do amor. Ele observa e diz: - você bem podia dar uma passadinha nela”.

É claro que estamos tratando de seres humanos, porque se fosse chimpanzé dispensaria a passadinha, pelo menos é o que nos conta um grupo de primatólogos dos EUA que demonstrou pela primeira vez que os machos dessa espécie, a mais próxima da humana, têm preferência pelas fêmeas mais velhas. Se puder escolher entre várias fêmeas no cio, um chimpanzé (Pan troglodytes) tenderá a desprezar as jovens que nunca deram à luz em favor de "coroas" que já foram testadas e aprovadas como mães. Mais ainda: quanto mais velha a macaca, mais "sex appeal" ela parece ganhar. Beleza madura (para assinantes da Folha ou da UOL) publicado na Folha de S.Paulo de hoje.

Os primatólogos apresentam pelo menos duas causas que justificam tal comportamento. Uma é que ao atingir idade avançada em pleno vigor reprodutivo (chimpanzés não têm menopausa) seja um sinal de que a fêmea tem bons genes. Uma outra hipótese -a favorita dos pesquisadores, que ainda carece de confirmação - é que as fêmeas mais velhas sejam mais fecundas por terem status mais elevado no bando e melhor acesso à comida.

Em todo o caso é preciso levar em conta que o padrão de beleza atribuído é o dos humanos. Nós humanos, via de regra, invertemos os padrões animais onde os machos são os mais enfeitados conferindo-lhes beleza. Entre nós, as fêmeas cuidam mais desse aspecto, além de apresentar uma fertilidade definida e uma disponibilidade sexual indefinida, a mulher não tem cio.

Quando se trata de instinto as diferenças não param por aí, pois na espécie humana o esquema de comportamento herdado que pouco varia de um individuo para outro no esquema animal, ganha novos contornos, a pulsão é um deles.

No Vocabulário de Psicanálise, J.Laplanche e J-B Pontalis, definem a pulsão como um processo dinâmico que consiste numa pressão ou força que faz tender o organismo para uma alvo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal que chamou de estado de tensão: o seu alvo é suprimir esse estado de tensão que reina na fonte pulsional, é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir seu alvo. A pulsão se distingue em duas classes: as pulsões sexuais e de autopreservação.

A concepção freudiana da pulsão conduz a uma explosão da noção clássica de instinto, e isto em duas direções opostas. Por um lado o conceito de “pulsão parcial” sublinha a idéia de que de que a pulsão sexual existe inicialmente em seu estado “polimorfo” e visa principalmente a supressão da tensão ao nível da fonte corporal, de que ela se liga na história do indivíduo a representantes que especificam o objeto e o modo de satisfação: a pressão interna de inicio indeterminada sofrerá um destino que a assinala com traços altamente individualizados. Mas, por outro lado, Freud, longe de postular por detrás de cada tipo de atividade uma força biológica correspondente (ao que são facilmente levados os teóricos do instinto), faz entrar o conjunto das manifestações pulsionais numa grande oposição fundamental.

Conforme foi apresentado no Post de Susan Guggenheim A beleza após 60 anos, além de aparentarem ser jovens as pessoas devem ser magras, com corpos bem torneados. As mulheres devem ter seios mais fartos e braços e pernas mais musculosos do deveriam ter a alguns anos atrás. Os homens não podem ter uma barriga proeminente e apesar de magros devem exibir músculos. Sabemos que para se ter este exato modelo de perfeição estética precisamos utilizar artifícios especiais como aulas de ginástica, musculação e tudo mais que possa contribuir para termos um aspecto que esteja de acordo com o que é vendido como beleza e boa aparência.

Os primatólogos concluem que a seleção natural moldou as preferências dos machos de forma muito diferente em chimpanzés e humanos, onde os chimpanzés podem não achar a pele enrugada e os mamilos alongados de suas fêmeas tão atraentes quanto os homens acham os lábios cheios e a pele suave das mulheres jovens, mas eles claramente não reagem de forma negativa a esses sinais, portanto não precisam dar uma passadinha na “camisola do amor”.

4 comentários:

r a c h e l disse...

e eu reclamando dos meus 34 anos... rs.

João Carlos disse...

Vou me permitir discordar, em parte, de certos pressupostos apresentados. Vamos ao básico que torna uma mulher atraente a um homem e vice-versa, em termos de lógica animal. O homem busca certas características que garantam uma prole com boas chances de sobrevivência. No hemisfério norte, há uma predominância pelos seios fartos, garantia de boa alimentação aos nascituros. Já nas zonas tropicais, as ancas largas - garantia de um parto fácil - são mais valorizadas. Os critérios de "beleza" vêm variando, conforme os modismos, mas essas características estão sempre presentes.
Já o que motiva a mulher é a busca de um macho que possa defendê-la enquanto pejada e que possa garantir a alimentação dela e sua prole, logo após o parto (daí a proeminência dos tipos musculosos).
Talvez a caracterísitca de "juventude" seja importante por ser uma "promessa" de prole farta (eu teria que dispor dos dados dos períodos de gestação e amamentação dos macacos, para comparar aos dos humanos, de forma a aquilatar se isso é relevante ou não).

Anônimo disse...

olha, existe uma grande diferença, nisso tudo. descordo em parte com o apresentado no texto e em partes ao nosso amigo ai de cima. pra começar, na nossa sociedade apesar da ideia, angas largas, seios exuberantes. isso não é critério de seleção. sabemos que uma peitudona gorda e cabelo ralo nao faz sucesso, assim como uma "mulher com beleza madura" de peitões, mas magra, sarada, deve ter milhaaaaares de rapazinhos na sua cola. o que acontece, é que podemos sim nos espelhar nos mais velhos como maneira de beleza. mas de uma forma inconsciente (freud explica mto bem do inconsciente), fazendo com que nossa geração olhe pra geração dos "mais velhos" e projete isso na nossa geração "mais velha" criando modismos pras épocas. se hj reina a idéia da mulher magra, é pq na geração passada dos velhos a europa (que nos domina ideologicamente) estava em guerra e logo em fome >> pessoas morriam por isso, ngm tinha comida farta pra engordar, e os caras? musculosos pq eles tavam na guerra, LUTANDO. e esse ciclo se repete. existiram momentos na história (como na era da revolução francesa, não me recuro o período, se séc XVII ou XVI) o padrão de beleza era A GORDURA. qto mais gorda a mulher, MAIS bonita ela era. então amigo ai de cima, que deve ser provavelmente um garotão malhado, queta o bico, pq vc tá se achando demais com esssa história toda. respeita a teoria do cara pq É VALIDA, nao que seja verdadeira. MAS É VALIDA. a sua, NÃO TEM NENHUMA VERACIDADE.

João Carlos disse...

Caro Anônimo: (podia, pelo menos, ter-se dado ao trabalho de ver meu perfil de Blogger...)

Você está confundindo as estações... Olha que eu fiz a ressalva do "modismo". Só que a maioria das populações não conseguem se enquadrar nos "padrões de beleza vigentes", nem por isso as pessoas "fora de moda" deixam de procriar. E, por incrível que isso possa parecer, esse padrão de "mulher-cabide" não é do pós-2ª guerra: é do último quartel do século XX.

E, para seu governo, eu tenho 58 anos, sou gordo e não "me acho" coisa alguma.