Por Sérvulo Augusto Figueira, PhD
Esse trabalho discute uma tendência problemática que se instalou recentemente no campo analítico, e que teve no 38o Congresso da Associação Internacional de Psicanálise, ocorrido em Amsterdã, em 1993, em torno do tema oficial “A mente do psicanalista: da escuta à interpretação”, o seu ponto alto e mais impressionante sintoma. Numa acolhida nunca antes vista, no maior fórum de discussão psicanalítica de que se tem conhecimento, os problemas em torno do lugar e do papel do analista na teoria, na clínica e no funcionamento da técnica, foram debatidos e equacionados, gerando, como não poderia deixar de acontecer com um tema dessa natureza, mais problemas do que soluções.
No Congresso, tornou-se notório, pela polêmica que causou, o trabalho que havia sido encomendado pela organização científica do evento, para ser objeto de discussão pública, a Theodore Jacobs, analista residente em Nova Iorque. Com o título “As experiências internas do analista: sua contribuição ao processo analítico”, Jacobs comunicou aos colegas o material de uma sessão clínica inteiramente articulada por revelações das vivências emocionais e pensamentos que experienciou enquanto estava com seu analisando. Seu artigo tinha um objetivo bastante claro:
“... essa apresentação focalizará as minhas experiências na situação analítica com um único paciente. Minha finalidade é mostrar como um analista utiliza a si próprio no seu trabalho. Mais especificamente, tentarei ilustrar como determinados pensamentos, sentimentos, fantasias e sensações físicas dos quais me tornei consciente durante esta sessão analítica surgiram como resposta a comunicações inconscientes vindas do meu paciente, esclareceram determinadas resistências em mim mesmo, e contribuíram para a forma e a substância das minhas intervenções. O uso das experiências internas do analista, acredito, foi um elemento essencial na minha compreensão das transações que ocorreram nessa hora e no meu ser capaz de ajudar o meu paciente a dar um pequeno passo adiante no seu tratamento. Relatarei tudo o que registrei e posso recordar dos fenômenos que surgiram em minha mente durante essa sessão e como utilizei o que veio à superfície.” (Jacobs, 1993a, p. 7).
Sérvulo Figueira , membro da British Psychoanalytical Society e da SBPSP - Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.E-mail: servulo@unisys.com.br
Texto recebido por E-mail da PsiDivulga
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