05 maio 2012

DIA 06 DE MAIO DE 2012 - 156 ANOS DE NASCIMENTO DE FREUD E 6 ANOS DE CRIAÇÃO DO BOLG FREUD EXPLICA


No dia do aniversário de nascimento de Freud, estou republicando, em sua homenagem,  um artigo publicado aqui em  19 de fevereiro de 2007, intitulado "Por uma experiencia religiosa"

Por Rogério Silva

Freud tem um interessante texto que apresentou as consequências de uma entrevista dada ao jornalista teuto-mericano G. S. Virec que o indaga sobre a sua crença na religião durante uma visita sua aos Estados Unidos . Por conta disso recebeu uma carta de um médico americano.

Nesta carta o medico fica impressionado com a resposta dada por Freud sobre sua crença na sobrevivência da personalidade após a morte. Simplesmente ele respondeu: “Não penso no assunto”.
Relata o médico que ao passar por uma sala de dessecação deparou com o cadáver de uma velhinha de rosto suave que o fez pensar: “Não existe Deus; se existisse, não permitiria que essa pobre velhinha fosse levada a sala de dissecação.” O sentimento que experimentou da visão na sala de dissecação fizera-lhe decidir a não mais continuar indo à igreja. Há muito já nutria dúvidas a respeito das doutrinas do cristianismo.

Enquanto ele meditava sobre o assunto, uma voz falou-lhe à alma que ele deveria considerar o passo que estava prestes a dar. Seu espírito replicou a essa voz interior: “Se eu tivesse a certeza de que o cristianismo é verdade e que a Bíblia é a Palavra de Deus, então eu os aceitaria.”

No decorrer das semanas seguintes, Deus tornou claro à sua alma que a Bíblia era Sua Palavra, que os ensinamentos a respeito de Jesus Cristo eram verdadeiros e que Jesus era nossa única salvação. Após uma revelação tão clara, ele passou a aceitar a Bíblia como sendo a Palavra de Deus, e Jesus Cristo, como seu Salvador pessoal. Desde então. Deus Se revelou a si por meio de muitas provas infalíveis, acrescentou.

Com isso ele implora ao ‘irmão na medicina’ para refletir sobre esse tema por considerá-lo com a mente aberta, pois aí Deus lhe revelaria a verdade à sua alma como fez com ele e com tantos outros. Freud respondeu polidamente, dizendo que ficava contente em saber que essa experiência o havia capacitado a manter sua fé. Quando a ele, Deus não fizera o mesmo. Nunca lhe permitira escutar sua voz e se, devido a sua idade, não se apressasse, não seria sua culpa se permanecesse até o fim da vida como era agora— ‘an infidel jew’ (um judeu infiel).

Em resposta, o médico garantiu-lhe que ser judeu não constituía obstáculo no caminho para a fé verdadeira e informou que preces estavam sendo convictamente endereçadas a Deus, a fim de que lhe concedesse a ‘fé para crer’.

A experiência religiosa do colega americano forneceu a Freud substância para reflexão. Provocou-lhe uma certa tentativa de interpretação baseada em motivos emocionais, pois sua experiência é, em si mesma, enigmática, e baseada numa lógica particularmente ruim. Deus, como bem sabemos, permite que aconteçam horrores nada semelhantes à remoção para a sala de dissecação do cadáver de uma velhinha de aparência agradável. Isso é verdade desde sempre, e também deve ter sido enquanto o médico americano conduzia seus estudos. Tampouco, como estudante de medicina, pôde ficar tão abrigado do mundo, a ponto de nada conhecer de tais males. Por que, então, sua indignação contra Deus irrompeu precisamente ao receber essa impressão específica na sala de dissecação?

Para Freud acostumado a encarar analiticamente as experiências internas e as ações dos homens, a explicação é muito óbvia — tão óbvia que, na realidade se insinuou na sua lembrança. Certa vez, quando se referia à carta de seu piedoso colega em um debate, disse que ele escrevera que o rosto da mulher morta fizera-o lembrar-se do rosto de sua própria mãe. Na realidade, essas palavras não constavam de sua carta e uma curta reflexão foi para mostrar que elas não teriam mesmo a possibilidade de estar lá. Mas essa é a explicação a que somos irresistivelmente forçados por sua descrição afetuosamente enunciada da velhinha de rosto suave. Isso explica a fraqueza de julgamento demonstrada no jovem médico pela sua emoção despertada com a lembrança de sua mãe. É difícil fugir ao mau hábito psicanalítico de apresentar como prova pormenores que também permitiriam explicações mais superficiais — e a tentação de recordar o fato de que o colega se dirigiu-se a ele como ‘irmão na medicina’. O que se supõe é que foi assim que as coisas aconteceram. A visão de um cadáver de mulher, nu ou a ponto de ser despido, recordou ao jovem sua mãe. Despertou nele um anseio pela mãe que se originava de seu complexo de Édipo, e isso foi imediatamente completado por um sentimento de indignação contra o pai. Suas idéias de ‘pai’ e de ‘Deus’ ainda não se tinham separado inteiramente, de modo que seu desejo de destruir o pai podia tornar-se consciente como dúvida a respeito da existência de Deus e procurar justificar-se aos olhos da razão como indignação com o mau trato dado a um objeto materno. Naturalmente, é típico do filho considerar como mau trato o que o pai faz à mãe nas relações sexuais. O novo impulso, deslocado para a esfera da religião, constituía apenas uma repetição da situação edipiana e, consequentemente, logo se defrontou com uma sorte semelhante, ou seja, sucumbiu a uma poderosa corrente oposta. Durante o conflito real, o nível do deslocamento não foi sustentado: não há menção de argumentos em justificação de Deus, não nos é dito quais foram os sinais infalíveis pelos quais Deus provou sua existência ao que duvidava. O conflito parece ter-se desdobrado sob a forma de uma psicose alucinatória: escutaram-se vozes interiores que enunciaram advertências contra a resistência a Deus. Mas o resultado da luta foi mais uma vez apresentado na esfera da religião, e era de um tipo predeterminado pelo destino do complexo de Édipo: submissão completa à vontade de Deus Pai. O jovem tornou-se crente e aceitou tudo o que desde a infância lhe havia sido ensinado sobre Deus e Jesus Cristo. Tivera uma experiência religiosa e experimentaria uma conversão.

Tudo isso é tão simples e tão direto que não se pode deixar de perguntar se pela compreensão desse caso lançamos qualquer luz sobre a psicologia da conversão em geral. O ponto que nossa observação presente coloca em relevo é justamente a maneira pela qual a conversão se ligou a um evento determinante específico, o qual fez com que o ceticismo do indivíduo brilhasse uma última vez, antes de se extinguir finalmente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Conheci seu blog a pouco tempo mas já estou seguindo, Parabéns! seu blog é otimo!