18 novembro 2006

UM POUCO DE HUMOR - O AMIGO DA ONÇA


Por Rogério Silva

Péricles de Andrade Maranhão nasceu no dia 14 de agosto de 1924, no Recife, e, ainda muito jovem, rabiscou traços de personagens inspirados no que havia de mais popular em quadrinhos: Dick Tracy, Agente Secreto X-9, Flash Gordon.

No ano de 1943 a revista “O Cruzeiro”, com numa equipe jovem e de qualidade iniciava a revolução que faria nos anos seguintes tornando-a a revista mais importante do Brasil. Péricles participaria com um tipo humorístico que traduzisse "a verve típica e o humor carioca", que captasse "o estado de espírito daquele que vive no Rio de Janeiro, não importa onde tenha nascido".

Rabisca pra cá, rabisca para lá, Péricles coloca o lápis para pensar e emerge uma figura que lhe parece apropriada: baixinho, cabelo penteado para trás à base de gumex, summer jacket, bigodinho safado, olhar de peixe morto. Fez tanto sucesso que as tiradas que antes ficavam na capa e contra-capa passaram para dentro da revista, evitando que as pessoas apenas as folheassem sem pagar.

O Amigo da Onça foi utilizado para fazer jornalismo crítico e em muitas situações esculhamba instituições como o casamento, exército e a hipocrisia social contida no jogo de aparências. Coube a Leão Gondim o batismo do personagem, baseado numa piada da época:

Dois caçadores conversam em seu acampamento:

- O que você faria se estivesse agora na selva e uma onça aparecesse na sua frente?

- Ora, dava um tiro nela.

- Mas se você não tivesse nenhuma arma de fogo?

- Bom, então eu matava ela com meu facão.

- E se você estivesse sem o facão?

- Apanhava um pedaço de pau.

- E se não tivesse nenhum pedaço de pau?

- Subiria na árvore mais próxima!

- E se não tivesse nenhuma árvore?

- Sairia correndo.

- E se você estivesse paralisado pelo medo?

Então, o outro, já irritado, retruca:

- Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?




O Amigo da Onça foi publicado durante mais de 20 anos ininterruptos em O Cruzeiro. Seu personagem teve um apelo muito forte em sua vida, marcando a sua solidão. Ele era sempre colocado após o personagem, era sempre apresentado como o criador do Amigo da onça e nunca como Péricles. De fato seu personagem foi o seu amigo da onça.

Com o tempo e com todas as possibilidades que seu sucesso lhe conferiu além de estar vivendo longe da família numa cidade como O Rio de Janeiro, logo desenvolveu uma personalidade instável e se tornou um boêmio inveterado. Péricles morreu de forma trágica. Na noite de 31 de dezembro de 1961, vestido como seu personagem, ele escreveu dois bilhetes, reclamando da solidão, fechou todas as portas do seu apartamento e ligou o gás. Antes, como último toque de humor, o Amigo da Onça desencarnou de seu corpo e foi colocar um aviso na porta, escrito à mão: "Não risquem fósforos".

Um comentário:

Anônimo disse...

Saudades do que foi e sempre será bom!