Por Rogério Silva
A morte é talvez a pior tragédia que um ser humano pode suportar, porque ela fala do imponderável, do irreparável e do indizível. Todos nós sabemos que nascemos e morremos e que somente as nossas idéias permanecem, já que o corpo desaparece. Porem, falar da morte, não é necessariamente falar da tristeza, embora esses atributos sejam encontrados quase sempre juntos. Ela deixa no lugar da vida, a perda e o vazio.
A perda muitas vezes está ligada a tristeza que seria tomada como o negativo em uma determinada vivência, o que muitas vezes pode ser entendido como o desamparo a que todos os humanos estão assujeitados, desde sempre. Além disso, muitas vezes nós sentimos a tristeza, sem nos dar conta da origem do que nos faz triste.
A alegria tomada aqui como simétrica da tristeza, seria o seu oposto, contudo, no nosso dia a dia, deparamos com situações onde a interpretação do cotidiano nos leva a uma pluralidade de afetos que produz alegrias e tristezas ao mesmo tempo. Essa ambivalência pode ser entendida como resultado do estado de ânimo. A palavra ânimo que vem de anima, o mesmo que alma, espírito ou mente, em última instância, refere-se a aquilo que atravessa o nosso corpo.
Contrariamente a esse estado de ânimo, que tem por característica a passividade, ser ou estar feliz, implica numa atividade do sujeito. A felicidade, para ser atingida depende de um encontro, que pode ser entendido como a nossa capacidade de "alegrar-se". Alegrar-se, contudo, deriva do sofrimento que nos diferencia na posta da vida. Sofrimento este, que tomado como positividade na experiência do humano, pode ser transformado em felicidade.
Aceitar o desamparo como fatalidade tem como conseqüência diminuir a busca da felicidade de viver, porque o desamparo é uma experiência que não deixa vigorar nada que tenha a possibilidade de dar satisfação e por isso mesmo, impede o processo de diferenciação. Entende-se aqui por processo de diferenciação a capacidade de alegrar-se.
O psicanalista não tem, a priori, nenhuma solução para o sofrimento. O que está recalcado e por isso mesmo irreconhecido, se expressa como sintoma e acha lugar para uma tolerância quanto ao estado da enfermidade. Mas, com Freud aprendemos que se esta nova atitude em relação a doença intensifica os conflitos e põe em evidência os sintomas que até então haviam permanecidos vagos, poderíamos facilmente consolar o paciente mostrando-lhe tratar-se apenas de agravamentos necessários, porém temporários. Todavia é preciso ter paciência para ouvir aquilo que se repete, se repete, se repete... e esperar que num tempo outro se faça a diferenciação capaz de produzir uma possibilidade de ser feliz.
Um comentário:
Talvez por isso mesmo (como auto-defesa) eu tenha adotado a religião Espiritualista.
Mas, mesmo assim, é uma dor egoística. Não é tanto a ausência de quem morreu que nos dói, mas a impossibilidade de ter aquela pessoa (ou animal de estimação) a nossa disposição.
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