É impressionante a atualidade deste texto.
Serve de reflexão para nós, que estamos a quinze dias das eleições para o executivo e o legislativo.
Senhores, sinto temor pelo futuro. Doenças e medo estão contaminado as mentes. Pela primeira vez, em 15 ou 16 anos, sinto sensação e consciência da instabilidade e este é o sentimento da véspera da revolução. Atribuir, como o fez recentemente o ministro das Finanças, a raiz de nossos males a acidentes e circunstâncias, é simplesmente transformar em causa os sintomas da doença. Acredito piamente que nossa moléstia origina-se em razões mais fundas do que nas ocorrências fortuitas mencionadas pelo ministro.
E o que está acontecendo, na realidade, nestes dias sombrios. Percebo que a compostura pública e o espírito público estão num estado calamitoso. É minha opinião que o governo contribui de forma decisiva para esta perigosa situação. (aplausos)
Senhores, quando olho para a classe que governa, a classe que tem direitos políticos, e olho a classe dos governados e percebo o que se passa em ambas, perturbo-me. Na classe dominante vejo-a dominada exclusivamente pelos apetites pessoais, ambições materiais e interesses particulares. Meus caros colegas, aqui nesta casa nos últimos dez ou quinze anos aumenta o número daqueles que já não votam por razões políticas mas apenas guiados por seus interesses individuais. E aqui representamos exatamente a classe dirigente. Percebo igualmente a ascensão de uma nova moralidade: aqueles que conservam seus direitos políticos agem como se isto fosse um privilégio pessoal e não uma obrigação pública, uma responsabilidade.
O texto acima, pouco conhecido, é o resumo de um discurso (com anotações dos escribas) pronunciado por Tocqueville em janeiro de 1848 na Câmara dos Deputados francesa, às vésperas da proclamação da Primeira República. Não é propriamente um texto republicano, mas uma dramática descrição da vida nacional francesa um mês antes dos tumultos populares, que antecederam a República. Alexis de Tocqueville (1805-1859), advogado e político.
Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 1977
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